terça-feira, 23 de dezembro de 2025
domingo, 21 de dezembro de 2025
O poço do fanatismo
Demétrio Sena - Magé
sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Mais um ano de Cultura na Educação
Demétrio Sena - Magé
Fomentar (ou animar) a cultura na Educação Pública é um privilégio. Ser um arte-educador - ou animador cultural, como a Secretaria Estadual de Educação Classifica - me oferece há mais de trinta anos a chance de, ao mesmo tempo: exercer os meus dons como poeta, comunicador, amante fervoroso das artes, e ajudar jovens estudantes a conhecer um pouco do mundo vertiginoso e diverso ao seu redor.
Somos, paralelamente, professores diferenciados, que trabalham no campo da conscientização social e da fomentação da cidadania. Em nossas oficinas de letras e artes e nossos eventos culturais nas escolas, podemos atingir livremente os pontos sensíveis de questões sociais que o sistema impede o professor regente de fazer. São tantos gráficos, tantos malabarismos para corresponder às exigências estapafúrdias do poder, que os professores regentes não têm tempo de ir além das formalidades do ensino. São talentosos, amam seu ofício, mas o poder público os transforma em tecnólogos do ensino formal.
Durante muitos anos, os animadores culturais da Secretaria Estadual de Educação, lotados nas escolas da rede pública do Estado do Rio de Janeiro foram artistas e educadores repletos de sonhos e realizações que levavam encantos diários aos alunos. Tinham recursos a contento para oficinas criativas, eventos culturais e de cidadania na escola. Além dos recursos e horizontes, não havia essa polarização política cujo lado direito é perverso, doentio, impeditivo, cheio de superstições e teorias da conspiração contra as artes, a poesia, o encantamento cultural dos filhos e filhas em desenvolvimento escolar.
E a população como um todo era também enriquecida pelos animadores culturais e sua efervescência: fazíamos eventos coletivos de rua; foram muitas ações culturais nos Arcos da Lapa, nas estações de Metrô, nas universidades do Centro do Rio de Janeiro, no Maracanãzinho e muitos outros espaços. E sabem com a participação protagonista de quem? De alunos e alunas cantores, recitadores, poetas, artistas plásticos, dançarinos e outros, incentivados e preparados pelos animadores culturais de suas escolas.
Tudo isso começou no Governo Leonel Brizola/Darcy Ribeiro, criadores dos Cieps, e toda essa filosofia revolucionária no ensino durou enquanto Brizola se manteve governo e teve alguma força até o governo Cabral. Cabral foi preso por corrupção, mas não há como negar a importância que ele deu aos animadores culturais. Em seu governo, gerenciamos programas de leitura com grandes nomes das letras, a exemplo de Ziraldo, e os animadores culturais escritores lançaram seus livros na Bienal do Rio. Foi uma pena descobrirmos mais tarde, que o Governo Cabral praticou corrupção; lavou dinheiro.
A verdade é que ficou provado que dá para ter Educação de qualidade sem corrupção. Brizola e Darcy provaram isso. O próprio Cabral, que desviou muitos recursos e aplicou o mínimo na Educação, conseguiu fomentar tudo aquilo com aquele mínimo. Imaginem se não tivesse desviado recursos; tivesse aplicado realmente na Educação, os valores que declarou! Imaginem como o trabalho já primoroso dos animadores culturais teria bem mais amplo, com os recursos verdadeiros em uso.
Até a nossa remuneração, nunca mais reajustada, já foi razoável. Isso nos dava um ânimo a mais. De lá para cá, os animadores culturais foram invisibilizados: não recebem recursos de nenhuma natureza para projetos. Não têm mais janelas de atuação com alunos. Se fizerem trabalhos nas comunidades, terão que utilizar seus proventos hoje diluídos, e com esforços sobre-humanos diante de alunos que aprendem, com a sociedade atual, que o pensamento crítico é perigoso; as artes são perniciosas; é pecado ser contestador, criativo e observar os acontecimentos por conta própria. Que até ler ivros não especificamente religiosos pode ser pecaminoso e digno de castigo.
Atualmente, os animadores culturais contam com a sorte (como é efetivamente o meu caso) de terem uma direção escolar que os ajude no possível. Que entenda seu trabalho e o defenda contra quem os vê com maus olhos, ironiza sua invisibilidade no sistema e quer transformá-los em ajudantes de suas funções no local de trabalho, o que nenhum profissional de cultura deve aceitar. Sorte a minha e de poucos colegas, que não passamos por isso.
Para 2026, preparo um projeto fotográfico não só para os alunos, mas para toda a comunidade, de ensaios fotográficos dignos de resgate da auto estima. Realizarei nossa Feira Literária com muitos escritores/escritoras convidados, e mais uma vez apoiarei a realização do Festival Mageense da MPB. Manterei a sala de animação cultural com jogos de mesa, exposições de obras dos artistas de nosso município e darei oficinas pontuais de texto e origami.
Tenho certeza, de antemão, que poderei contar com os nossos diretores Luiz Roberto e Thales, a sua equipe (Juliana e Jaciele), os professores (na medida do possível, pois estão sempre abarrotados de trabalho) e os demais colegas dos outros setores da unidade escolar (secretaria, departamento pessoal, biblioteca, manutenção, inspeção de alunos, cozinha, portaria...), porque são todos fundamentais para meu trabalho.
domingo, 14 de dezembro de 2025
sábado, 13 de dezembro de 2025
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
Das liberdades que prendem
terça-feira, 9 de dezembro de 2025
O Zôto
Demétrio Sena - Magé
Com sessenta e poucos anos de idade, ainda não conheço pessoalmente o tão famoso Zôto. Mantenho com ele uma relação de raiva e medo, mesmo sem conhecê-lo, desde a mais tenra idade.
A primeira pessoa que me falou do Zôto foi minha mãe. Ela fazia, repetidamente, os mais diversos avisos relacionados a ele: "Filho; nunca pegue nada do Zôto". "Cuidado; mexer com o Zôto é perigoso". Eu tinha medo. A raiva, era quando minha mãe protegia o Zôto, como se ele fosse um filho. E filho preferido: "Tenha pena do Zôto; não faça com o Zôto o que você não quer que o Zôto faça com você."; "não perturbe o Zôto, porque o Zôto trabalha e quer descansar.".
Depois de minha mãe, eu já marmanjo, vieram os Zô... digo; os outros: Aí as recomendações se multiplicaram como piolhos em cabeleira suja: "Cuidado com a mulher do Zôto!"; "pense no Zôto, você não é melhor do que ninguém!". O Zôto é isso; o Zôto é aquilo; o Zôto não tem culpa; "coração do Zôto é terra que ninguém conhece"; "deixe o Zôto sossegado"; "não faça nada para ferrar a vida do Zôto"... "Cada um é o que é; ninguém pode querer imitar o Zôto".
Não quero mais conhecer o Zôto. Estou de bem comigo e com a própria vida. Sigo meus sonhos, ora viaveis, ora não, mas a vida é minha; os sonhos são meus; o Zôto não tem nada com isso.
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Respeite autorias. É lei
domingo, 7 de dezembro de 2025
Pregação de Ateu - ou clamor de pedra
Demétrio Sena - Magé
Se você procurar na Bíblia um apoio para qualquer perversidade, certamente achará. Serão fartos os conselhos para desprezar afetos, menosprezar os necessitados e jamais perdoar alguém, ou "perdoar" assim, entre aspas, continuando inimigo velado. Armado contra o "vai que...". Em um todo, encontrará muitas máximas para ofender pessoas, classificá-las conforme o seu rancor, seu preconceito e o fanatismo próprio de quem "não muda". Nas leituras do Velho Testamento as justificativas para não se sentir mau são profícuas. É só você contextualizar e/ou distorcer, conforme a maldade, o veneno do seu coração.
Mas a Bíblia também tem bons conselhos; máximas capazes de lhe fazer repensar sua ira, seu desejo de fazer o mal ou soltar a mão de meio mundo. Se você é cristão, por exemplo, desapegue-se um pouco do Velho Testamento bíblico e faça uma visitinha ao Novo Testamento, ao livro da graça, fundamentado na razão do cristianismo, que é Jesus Cristo. Cristo fala de amor, perdão incondicional, fazer o bem sem olhar a quem. E o Apóstolo Paulo, queridinho dos evangélicos, em especial; convertido após entender a mensagem de Cristo, seu contemporâneo, é enfático sobre ser o doente quem precisa de médico... o abandonado, de acolhimento... quem errou, de perdão, e por aí vai, muito além das palavras.
Se existe uma nova constituição, é porque a velha já não contempla os novos tempos. Virou acervo de pesquisa; inclusive, para fazer entender as mudanças. E se os livros didáticos mudaram, é porque o mundo mudou; a realidade não cabe mais entre os novos ensinamentos. O Novo Testamento bíblico substitui o Velho, que hoje vale como consulta, entendimento do que levou ao Novo e discernimento dos erros daquele tempo. Os cristãos cascudos precisam deixar de desejar para quem não os segue, o novo dilúvio, as novas pragas, novas iras divinas que destroem tudo e transformam pessoas em estátuas de sal.
Precisam, sobretudo, deixar de crer e sonhar que o Possível Deus acabará com a raça de qualquer pessoa que os magoe ou dará permissão para que eles mesmos façam issso. Não; este texte não é mais um Testamento; é apenas o que pensa um simples ateu que, Possivel Deus à parte, admira profundamente a figura do ser humano Jesus Cristo e seus ensinamentos sobre amor ao próximo, perdão (não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete), paz e aceitação do outro, com todas as suas "outrices". Senhores cristãos; desapeguem-se da velha lei das desgraças e aceitem, de uma vez por todas, o tempo da graça.
Ah; e tentem esquecer, também de uma vez por todas, aquele capiroto - agora preso - que virou os cristãos deste país de ponta-cabeça... instituiu a lei do ódio, da fraude, a notícia falsa... e tirou do capiroto original o status de pai da mentira, das desavenças e da fome de poder, para distribuir entre seus milhões de seguidores. Ou fiéis. Ou discípulos. Ou sabe-se lá mais o quê.
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Respeite autorias. É lei
sábado, 6 de dezembro de 2025
Poeta no Confessionário
Demétrio Sena - Magé
Nunca fui o tipo de poeta que participa de concursos de poesias. Poesias para concursos têm que ser gritadas; conter muitas exclamações, interrogações e palavras de ordem, nas formas de clichês. Ser muito românticas e passionais... ou sobre a natureza, igualmente passionais. Nos protestos, não podem ser profundas, racionais, daquelas que atingem os nervos das questões sociais mais polêmicas: o racismo, a misoginia, lgbbtfobia, injustiças sociais, a miséria e a distribuição de renda. Se essas questões forem temas, que eles sejam de passagem; sem aprofundamentos; com linguagem rasa e à base do "somos todos iguais diante de Deus!"; "vamos orar e ter fé!". Tudo gritado e de festim; com muitos fogos de artifício.
Não sei se minha poesia é boa ou ruim. Só sei que não explode no céu dos concursos. É como seta silenciosa que resvala na escuridão. Ela não é detonada com pompa e com circunstância, e sim, deixada no vácuo para ser encontrada por quem olha o chão e se propõe a decodificar o achado; interpretar entrelinhas e aceitar desafios interpretativos de vida e sociedade. Minha poesia não é imposta; não ameaça júris com apupos de plateias impressionadas. Ela se propõe calmamente, sem provocar delírios ou apelar para efeitos pop, reluzentes, panfletários e sob a faixa do engajamento emergencial. Do grito de guerra que o modismo impõe.
Boa ou ruim, acusam minha poesia de ser ardilosa; puxar quem se detém. Funcionar como alçapão que prende, até seu contexto ser interpretado. Fazer perder tempo com reflexões, em tempos de correria. Mesmo curta como sempre chega, requerer muitas pausas, perguntas íntimas e silêncios demorados. Muitos pensam que ela diz o que não diz, e nao raramente alguém se sente flagrado por por um verso. Daí a pergunta: Isso foi para mim? Daí a dúvida; o que esse poeta sabe a meu respeito, se nunca lhe confidenciei meus conflitos íntimos, minhas mazelas secretas? Não. Os meus poemas não são para concursos; eles afrontam concursos e avaliadores. E não; não quero arrogar que sejam "ór concur". São é mesmo inconcursáveis.
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
AOS LEÕES
Demétrio Sena - Magé
Ninguém quer se meter no que mais devia. Não se imiscui, por exemplo, em um caso de abuso a uma pessoa vulnerável... em uma dessas covardias que se tornaram comuns e toleradas. É sempre como se fosse algo explicável por quem faz, porque a sociedade (sei que sou a sociedade) normalizou.
E ninguém quer se meter no preconceito explícito manifestado em uma loja, em um clube, uma escola. O tal do "não ter jeito" é uma velha e confortável explicação que decola das bases do egoísmo instituído pelo silêncio em massa. Pelo não ter nada com isso, porque "não é de minha conta".
É de nossa conta, sim. Temos tudo com tudo que nos torna a espécie mais fria do planeta. Que nos põe nessa conveniente sarjeta moral. Nesse porto seguro do "já pagamos nossos impostos para o poder público resolver essas questões", como se tais questões não fossem humanas; apenas políticas.
Não há como não concluirmos que somos esta ruína inestimável. Esse caos borbulhante que se acotovela em uma solidão superlotada. Somos uma filial dos escombros mais sombrios que tricotam seus fios em crendices inúteis. E jogamos aos leões, aqueles que mais precisam do nosso acolhimento.
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quinta-feira, 27 de novembro de 2025
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
CLÁUDIO CASTRO E SUA POLÍTICA PANFLETÁRIA
Demétrio Sena - Magé
Tira barricadas; põe barricadas... tira, põe; põe, tira. É um carrossel sem fim. Uma ciranda que se afigura interminável, porém, sempre nasce pré-datada para momentos muito convenientes aos que a promovem. No fim das contas, com ou sem barricadas, o crime não dá trégua e a bandidagem segue o seu fluxo notoriamente crescente, como no Rio de Janeiro. Jamais decrescente. As explosões de violência evidenciam que as ações letais (também para os cidadãos) do governo Cláudio Castro são todas panfletárias, eleitoreiras e desastrosas em seus resultados.
Há um tom de brincadeira entre o poder público estadual e a bandidagem do Rio de Janeiro. Como se o governo, via polícia, combinasse com os chefões do tráfico e das milícias: "Vocês nos oferecem sacrifícios, alguns resultados dignos de mídia, e nós não atacamos a base, o cerne, ou seja; vocês". Com isso, o governo faz barulho, atrai e contrata mídias, e a bandidagem "faz sua parte": Cedendo "cordeiros" (bandidos menores que topam tudo e morrem na linha de frente), facilitando apreensões e fingindo perder a "guerra", até o prestígio eleitoral do governo se recuperar.
Nessa campanha sórdida, estão envolvidos empresários na expectativa de privilégios... Ongs e outras entidades privilegiadas em editais... grupos específicos ligados ao poder público e igrejas. Igrejas são as mais privilegiadas, nas pessoas de seus líderes. Os membros, as pessoas simples - massas de manobra -, vivem da ilusão de poder sobre quem eles julgam pecadores e sobre os grupos religiosos minoritários, onde a promessa eleitoral não apresenta números tão expressivos.
O que pode realmente combater o crime é a inteligência que o enfraquece financeira e socialmente. É a investigação que alcança e prende os criminosos. Aquela que, quando os mata, é por absoluta necessidade. Não por política de matança indiscriminada, pois essa matança também inclui a população trabalhadora, simples e inocente. Matar inocentes não é política pública honrada.
Quanto aos índices de criminalidade pós-matança recente e pós-barricada zero, você pode correr o risco de averiguá-los, caso tenha coragem: entre naquelas comunidades, com ou sem barricadas, com ou sem os bandidos abatidos naquele tiroteio, e tente sair. Vá regularmente ao Centro do Rio de Janeiro pela linha vermelha ou qualquer outra via, sem levar o coração na mão. Não seja hipócrita. Elogie, mesmo, a política de segurança do Cláudio Castro e tente não fazer como aqueles fiéis que oram para parar de chover e depois saem: cada um com o seu guarda-chuva em mãos, evidenciando aquele bom e velho "por via das dúvidas".
Acreditamos muito fácil, no fácil. Na eficiência do imediatismo e do barulho. Na brabeza de festim dos políticos que precisam, desesperadamente, recuperar prestígio. Nas promessas de, pertinho do início das campanhas eleitorais, acabarem em poucos dias com o que deixaram ser construído por muitos anos. Cultuamos a política do enfrentar a bandidagem com bandidagem pior.
E agora, como forma de contribuição para fomentar ainda mais as desigualdades que fomentam o crime, nosso governo decidou aprovar, nas escolas públicas, alunos que não aprendem nada e são reprovados em várias disciplinas. Lá na frente, na hora da disputa desses alunos pelas oportunidades de trabalho, é que a sociedade verá, mais uma vez tardiamente: cada vez maiores explosões de violência, via criminalidade, que o próprio Castro ou outro governo prometerá extinguir em poucos dias, às vésperas das campanhas. E o povo? Ah, o povo... cada vez mais povo... sempre!
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terça-feira, 25 de novembro de 2025
segunda-feira, 24 de novembro de 2025
DE QUEM NÃO GOSTAVA DO LULA
Demétrio Sena - Magé
Por muito tempo, não prestei atenção no Lula. Eu tinha grande fascínio pelo Leonel Brizola, como tenho ainda, em memória. Queria vê-lo presidente do Brasil, e como ele e o Lula formavam um racha na esquerda política deste país, o Lula era um pessoa não grata para mim. Só por isso. Ele Atrapalhava o Brizola, que não era de jogos de cintura. Não compunha com quem não descesse redondo em sua garganta, por mais que isso lhe garantisse a eleição.
Lula sempre foi mais esperto e flexível, como hoje sei que é preciso, mesmo a contragosto, se a pessoa ou grupo desce minimamente; mesmo arranhando a garganta. Brizola jamais seria presidente, por excesso de brio pessoal; por uma honra jurássica, endurecida, que sempre admirei em qualquer pessoa, mas, em política, é garantia plena do insucesso eleitoral. As urnas exigem uma sabedoria ferida e rascante, para depois delas o eleito, se for um político de honra, surpreender as parcerias de má fé com uma gestão digna; fértil; producente.
Comecei a observar e admirar o Lula exatamente a partir de sua "paixão e morte" política (da qual depois ressuscitaria), culminando com a sua prisão, embora já tivesse votado nele, na falta do Brizola. Naquele dia em que a Polícia Federal foi buscá-lo em meio à multidão, a militância presente não cometeria excessos como os bolsonaristas, mas, estava disposta (e seria possível) a impedir que ele fosse levado. Porém, Lula simplesmente pediu calma e seguiu com serenidade. Se houvesse uma cruz, acho que a pegaria voluntariamente, para levar até a prisão.
Eu vi aquilo. Achei muito digno. De uma honra à altura do Brizola, que também não fugiria nem incitaria o povo a ser violento em seu favor. Amei aquele gesto, aquela expressão e o silêncio que dizia tanto, através dos olhos que as câmeras mostravam tão de perto, porque não havia como não fazê-lo. Era um olhar simbólico e profético; dava como certo que não era o fim. As pedras daquele túmulo simbólico logo seriam removidas pela história.
Na prisão, Lula se dedicou a ler. Leu muito. Livros de sociologia, ciências políticas, filosofia, e também jornais, revistas, tudo o que pudesse mantê-lo conectado com o mundo externo, a realidade, as mudanças do país que ele ainda governaria pela terceira vez. Para isso, confiou nos advogados e na justiça que, mesmo injusta, logo teria que se render aos fatos, à comprovação de sua inocência e à conspiração das voltas que o mundo dá. Também o admirei, quando, diante da chance de cumprir pena domiciliar com tornozeleira eletrônica, ele preferiu o regime fechado; não aceitou essa "barra-da-saia prisional", com a seguinte resposta: "Quem usa anel no pé é pombo; eu não sou pombo".
Nenhuma trama foi ensaiada. Nenhuma conspiração partidária. Qualquer incitação à violência popular ou armação politiqueira com deputados, senadores, empresários poderosos do comércio, da indústria e do agro. Nada foi feito por caminhos duvidosos. Tudo pelas trilhas da lei, da investigação processual, da paciência e da esperança desse cidadão e político ocidental de plena sabedoria oriental.
Não tenho palavras pragmáticas nem clichês para definir o que não é técnico nem populista. Meu texto não é intelectual; tem observações inspiradas em uma trajetória que não se explica pela política partidária nem pela sociologia crua e seca de quem estuda pessoas como se dissecasse um sapo, visando análises acadêmicas frias e diretas.
Com defeitos a balde, como qualquer ser humano, Lula não tem, entretanto, a contaminação da covardia. Do "dedo no olho" em uma luta nem dos truques capazes de utilizar multidões ignorantes ou em situação de vulneranilidade para se dar bem sozinho. Nunca pediu Um Centavo dessas pessoas, para fortalecer suas condições de conspirar contra os opostos e o próprio país, com a única intenção de se perpetuar no poder máximo da nação brasileira.
Repetir tudo o que Lula já fez como político, especialmente como Governo Federal, é chover no solo encharcado. Também não preciso dizer que reconheço que ele deixou de fazer muita coisa. Mas a comparação entre ele e qualquer governo que passou pelo Brasil, somada à sua dignidade pessoal e à paixão pela democracia, pelas igualdades racial, religiosa, social e de gênero me fazem, sim, admirá-lo como a poucas pessoas... famosas ou não.
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sábado, 22 de novembro de 2025
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
terça-feira, 18 de novembro de 2025
POLÍTICA RELIGIÃO E JOGO
domingo, 16 de novembro de 2025
sábado, 15 de novembro de 2025
CURSOS QUE SAEM DO PERCURSO
Demétrio Sena - Magé
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
FALAR BEM É DO BEM
(sobre religiões de matriz africana)
Demétrio Sena - Magé
Nunca vi um umbandista, candomblecista ou qualquer outro religioso dessa linha, gritando em uma condução enquanto eu tento ler um livro, cochilar um pouco ou simplesmente apreciar em silêncio a paisagem do percurso. Ninguém verá um religioso de matriz africana em praça pública, quebrando o sossego e obrigando a todos ouvir louvores, pregações e preces que não querem. Eles conhecem o sentido de "não é por força nem por violência, mas, pelo espírito".
Nenhum religioso dessas vertentes quebra templos e objetos sagrados do cristianismo. Não agride nas ruas, física ou verbalmente, a quem não tem a mesma fé; não acredita nos mesmos sagrados. Jamais afirma que este ou aquele indivíduo vai queimar no inferno. Cada religioso crê, realmente, que a sua crença é a ideal, mas o religioso de matriz africana respeita quem pensa e crê diferente e trata a todos com igualde, respeito e ética. Evidentemente, há exceções, mas no caso desses religiosos, de fato são exceções. Não é a regra eles serem prepotentes, preconceituosos, furiosos, bufões e pretensos donos da verdade.
Faltou dizer que as religiões afrodescentes nunca tentaram tornar lei (por força e violência) o ensino de suas doutrinas nas escolas, mesmo quando era certo que teriam sucesso. Vale também dizer, antes que alguém pule, que aquela aplicação de estudos de africanidades (nunca respeitada) nas escolas não passa pela doutrinação religiosa. Trata-se de história, pelas perspectivas que sempre foram suprimidas pelas versões engessadas impostas.
O que realmente conheço dos religiosos de matriz africana são a postura humilde, a discrição, o respeito pelo espaço e o direito alheio a culto em seus respectivos templos e congregações. Conheço deles o tratamento igualitário; a disposição de ajudar seu próximo sem cobrar dele a conversão. A ausência do julgamento banal, da maledicência, do arrombamento da sociedade e do alinhamento corrupto com o poder político, para dominar o cenário religioso.
Esta prosa não fala mal de ninguém. O que acaba de fazer é falar bem de alguém. Falar bem é do bem, embora muitos não concordem, se o alvo não for da mesma "facção". Também não estou dizendo qual é a "facção". Nem precisaria dizer, se quisesse. Como nem é preciso dizer que não tenho religião, porque não creio em sagrados... mas no que tange a regra corporativa e pessoal, sempre tive grande admiração pelos religiosos de matriz africana.
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terça-feira, 11 de novembro de 2025
AS DUAS MARGENS DA INTRIGA
Demétrio Sena - Magé
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
domingo, 9 de novembro de 2025
sábado, 8 de novembro de 2025
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
BANCO DE RAZÕES
Demétrio Sena - Magé
Deixo-me usar, abusar, ser preferido, preterido e tratado conforme as conveniências ao meu redor... e faço questão de parecer bobo. Muito bobo. Acho até que não pareço. Realmente sou bobo, dentro dos limites do suportável, sendo que os meus limites costumam ser bem generosos... bem longânimos.
É me deixando usar, abusar, ser bem e mal tratado por seja quem for, que faço meu banco de razões. Da mesma forma que trabalhadores têm seus bancos de horas (nem sempre respeitados pelos patrões), ao trabalharem além de suas cargas horárias. No meu caso, quem administra o meu banco sou eu. E tenho como critério deixar que os acúmulos, com juros e correção, deixem bem evidente o meu crédito, entre somas e subtrações, quando resolvo dar um basta.
Sinto-me confortável... com um extrato pesssoal de causas bem positivo, para explicar as razões de meus afastamentos, esfriamentos, as minhas mudanças comportamentais. No fim das contas, é compensador não ter reagido precipitadamente. Não ter me queixado logo nos primeiros abusos, nas primeiras "esnobadas", os primeiros "chega pra lá", ou já nas primeiras exploraçãos de minha boa vontade, sem o menor sinal de um reconhecimento posterior.
Sempre tive como explicar a mim mesmo, ao deixar de nutrir um afeto especial ou admiração profunda por alguém. Quando estou prestes a recuar do brio finalmente ferido, é só puxar o extrato negativo. Conferir quantas vezes esse alguém me frustrou, abusou, preteriu e me tratou como um ser humano invisível.
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quinta-feira, 6 de novembro de 2025
terça-feira, 4 de novembro de 2025
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
"FOI UM SUCESSO"
Demétrio Sena - Magé
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
A TRAGÉDIA DO PODER PÚBLICO DESORGANIZADO
Demétrio Sena - Magé
Entrar, matar e sair é a política de segurança do governo do Rio de Janeiro, de São Paulo e outros Estados do Brasil. Entre a saída e a volta pré-datada em vez de uma ocupação permanente, o crime parcialmente combatido se reorganiza. Aqui no Rio de Janeiro, a matança de mais de 130 pessoas (64 oficialmente, trinta corpos que hoje foram recolhidos e mais vinte que chegam agora, 8h26min., conforme vejo em noticiário de tevê).
A forma desorganizada, brutal, sem nenhum projeto e qualquer cuidado com a população, mostra dois objetivos injustificáveis bem definidos: o desgaste do governo federal - que não soube previamente, não foi consultado nem recebeu solicitação de apoio -, e a formação de vitrine para o próprio governador Cláudio Castro, visando a futura reeleição. Para esses objetivos, a criação do caos e a instituição do vale tudo são apresentadas como demonstrações de coragem; heroísmo; determinação.
Existe uma fala estruturalmente preconceituosa, mas muito vezeira, entre todas as camadas populacionais, que diz: "Nem todo mundo na favela é bandido; tem muita gente honesta e trabalhadora", quando é o contrário; nem todo mundo na favela é honesto e trabalhador; tem muito bandido. Em outras palavras, a grande maioria nas favelas é de gente honesta e trabalhadora, mas a bandidagem domina com armamento pesado, ameaças e ordens. E é com o pensamento estruturalmente preconceituoso que o poder público, via polícia, invade os complexos e favelas, como se gente honesta e trabalhadora fosse minoria, e sendo assim, suas mortes fossem apenas efeitos colarerais insignificantes.
Em um todo, não houve política de segurança pública nessa mega "batida policial", e sim, um projeto eleitoral macabro que visa desqualificar o governo federal, não importa como, porque as pesquisas eleitorais "acendem um alerta". O noticiário continua somando corpos e o governo do Rio de Janeiro mete os pés pelas mãos em suas declarações públicas sobre ter metido os pés pelas mãos nas ações policiais e nas declarações de ontem, sem nenhum respeito aos moradores do complexo.
Pergunto-me se todos os corpos recolhidos são de bandidos, mesmo. Se não há corpos de pessoas trabalhadoras, honestas e simples, que tentaram fugir de suas casas. E se há, o que para mim é muito provável, suponho que não saberemos. Pelo menos com exatidão. Quero ressaltar que a minha preocupação neste momento não é com uma das esferas ou ideologias do poder público. É com os moradores dos lugares em questão.
E me preocupo sempre, com a existência das cabeças e os corações ruins de quem defende a truculência oficial que mata indiscriminadamente. São as mesmas cabeças, os mesmos corações que louvam o genocídio em Gaza e os ataques nefastos dos Estados Unidos a embarcações não verificadas, em águas internacionais. A maioria, cabeças e corações de quem canta "Vem com Josué lutar em Jericó" ou "Caminhando eu vou para Canaã".
Corpos continuam se acumulando e a polícia já dá sinais de que se retira. E como só uma facção foi alvo da operação (que deveria ter sido inteligente, para prender), logo saberemos qual terá sido a troca de comando: se outra facção das muitas existentes ou alguma milícia que assiste a tudo e já se mexe para ocupar o vácuo não ocupado pelo poder público, que entra, mata e sai.
Meus sentimentos às familias dos inocentes vítimas e às famílias dos policiais mortos... e minha solidariedade a todos os moradores inocentes que convivem com a violência diária de onde moram e vivenciaram ontem essa brutalidade. O poder público desorganizado não tem como vencer o crime organizado.
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Imagem: CNN Brasil - aquarelada
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terça-feira, 28 de outubro de 2025
VARIAÇÕES SELETIVAS DE TRATAMENTO
Demétrio Sena - Magé
domingo, 26 de outubro de 2025
sábado, 25 de outubro de 2025
SOBRE OS EXTREMOS
Demétrio Sena - Magé
sexta-feira, 24 de outubro de 2025
CORAÇÃO INCORRIGÍVEL
Demétrio Sena - Magé
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
DAS INJUSTIÇAS CONFORTÁVEIS
Demétrio Sena - Magé
segunda-feira, 20 de outubro de 2025
UM ACRÓSTICO EM PROSA
Demétrio Sena - Magé
Beijam as botas, os coturnos e as mãos assassinas de quem os rege. Ouvem ordens das trevas, que dizem ser da luz, e as cumprem das formas mais rasteiras. Ludibriam ou pelo menos julgam ludibriar a verdade; cultuam mentiras; desinformações; truques levianos. Suas mentes afundam, dia após dia, em um lodo sem fim. Os motins e as conspirações contra seus opostos são constantes. Não encontram os motivos que justifiquem tais atos, mas arrombam portas da sociedade. Abrem fendas; feridas em solos alheios.
Roubam sonhos, odeiam, são separatistas, têm cargas imensas e múltiplas de preconceitos. Instituem seus gritos de comando e cerco aos que pensam diferente, seguem outros padrões ou nem têm padrões. São estercos inférteis das próprias histórias inventadas para forçarem a normalização de suas atrocidades.
Têm a gosma do mal sob a casca, os discursos, as pregações e os louvores do bem. Agem sem um sentido humano, civilizado e inteligível para suas ações truculentas, desarvoradas e com base em um leque de fanatismos religioso, político-partidário e grupal (porque social não definiria o contexto). Seguem velhas orientações de sociedades mumificadas, que o mundo moderno julgava extintas; decompostas em idades ultrapassadas do mundo, que ora parece insano, confuso, e do do próprio tempo.
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domingo, 19 de outubro de 2025
DO CRISTIANISMO PERVERSO
Demétrio Sena - Magé
Faz muitos anos que o meio cristão não me comove; notadamente, o meio evangélico. Sempre que uma palavra, um gesto, atitude, olhar ou até silêncio me faz refletir ou mexe com a minha consciência de forma positiva, levando-me a repensar sobre algo, geralmente não é de quem prega ou segue o evangelho.
Posso dizer que, se hoje, alguém me levasse a crer em Deus, seria uma dessas pessoas mais evitadas pelos cristãos, pois, atualmente, as qualidades que mais admiro no ser humano (empatia, humildade, respeito às diversidades étnica, religiosa e de gênero, apego à paz) é o que os cristãos de agora mais condenam como vivências reais, para muito além das palavras restritas aos seus sermões.
A falácia que vem dos templos; as contradições entre o que pregam e fazem; a seletividade baseada nos preconceitos; o quanto condenam, massacram, isolam e odeiam até seus entes queridos que não seguem as mesmas crenças, me assustam. Não me levam a me afastar, pois não seleciono pessoas de acordo com as semelhanças comigo, mas me afastam por força dos cancelamentos convivenciais.
Recentemente, uma pessoa muito querida por mim justificou seu afastamento de quase todos (os que não professam a mesma fé), com afirmações do quanto está "acima das pessoas e dos acontecimentos do mundo". De como a sua espiritualidade a distanciou da própria terra. Classificou a própria "atmosfera" espiritual como algo que a promoveu a um ser de luz superior aos "humanos normais".
Essa ingenuidade arrogante não me comove. Uma soberba mal escondida em olhos contritos. Em palavras maliciosamente brandas de quem pegaria em armas para obrigar o próximo a se converter ao evangelho e, como ato casado, à política partidária de direita, se o seu líder garantisse aos gritos, que foi "Deus" quem deu a ordem. A quem eles chamam de pobres pecadores é que me comovem.
Devo confessar que convivo com exceções (absolutas) desse meio. E por serem exceções em suas formas de viver sem preconceito nem apologias a si mesmos, tais cristãos também estão sendo afastados, cancelados, impedidos de professar. Esses também me comovem. Não me tornam cristão, mas me comovem.
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sexta-feira, 17 de outubro de 2025
VALE TUDO?
Demétrio Sena - Magé
A Raquel é chata, porque é muito "certinha". A Consuelo, "um porre", pois "com aquela honestidade insuportável", denunciou o Marco Aurélio e desfez um esquema de corrupção. O Afonso e a Solange? "Aff; é muita bondade junto; ninguém suporta!". "Que mala, o Sardinha! Esse aí ajuda a todo mundo, é um poço de ética, empatia e solidariedade!". Por outro lado: "Ah, o Marco Aurélio é Franco; a Odete é o que é; o César mostra a cara e a Maria de Fátima não esconde o mau caratismo...". "Esses dizem a que vieram!".
São alguns; apenas alguns dos milhares de comentários na web, sobre o penúltimo capítulo da novela Vale Tudo, da Rede Globo, nesta quinta-feira, que esses típicos comentaristas dizem não assistir e chamam de Globo Lixo. É possível saber, sem margem de dúvida, qual é o grupo que pensa dessa forma, considerando o tom de voz que nos vem à mente. Como dá para entender o amor doentio desse grupo pela figura lamentável que há menos de quatro anos ainda governava (ou será que desgovernava?) o Brasil.
Cada dia menos telespectadores entendem o que é denúncia, o que é fantasia, licença poética ou proposta de reflexão em uma novela, um filme, uma série, uma peça teatral, um seriado. Comentários bisonhos mostram isso. Da mesma forma, cada dia menos pessoas entendem as nuances de um bom livro, um poema, uma boa canção, uma obra de arte (quando leem ou veem). Menos pessoas, a cada dia, fazem qualquer leitura minimamente relevante ou elucidativa do mundo; a contemporaneidade; as atitudes; a vida.
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quinta-feira, 16 de outubro de 2025
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
SOBRE DIAS DE PROFESSORES
Demétrio Sena - Magé
Não adotei o clichê de que a Educação me torna uma pessoa melhor, a cada dia. Quem trabalha com educação (e cultura - sou profissional de Cultura dentro da Educação) há mais de trinta anos, hoje seria um santo; já teria sido arrebatado ao suposto céu, se a cada dia de todo esse tempo, acordasse um pouco melhor. Um ser humano melhor.
Para dizer a verdade, às vezes volto para casa um pouco pior do que cheguei ao meu local de trabalho. Convivo com tanta injustiça e vejo tantas outras, cometidas não somente contra os meus colegas professores regentes, mas também contra os alunos, pelos poderes que regem o sistema, que me sinto à beira da descrença total. Pior ainda, perceber que o sistema põe os alunos contra os professores, os professores contra os alunos e a sociedade como um todo, contra os dois lados, é algo enlouquecedor. Como diz um amigo de rede social, e parceiro em um livro, é de arrancar sabiá do toco.
Mas devo confessar: o que tenho de humanidade na cabeça e no coração, devo ao meu trabalho. Quando iniciei essa trajetória, cheguei com tudo; com todas as brutalidades que me eram peculiares, crendo que poderia educar na marra. Tive que mudar na marra. Precisei aprender que lido com pessoas em formação, muitas vezes dependentes do que tenho a oferecer, que possa tampar o abismo cavado, em suas próprias casas. Julguei que os prazeres e as facilidades de ser um arte-educador (animador cultural, segundo a Secretaria Estadual de Educação) seriam constantes no meu dia a dia, nos limites físicos da escola. Não são.
Cada dia melhor é hipérbole, mas trabalhar com a Educação me educou (deixando, evidentemente, muitas raspas de truculência, intolerância e incompreensão). Educou os meus olhos para me ver nas meninas e nos meninos com que trabalho, e saber o que eles esperam de mim, que é justamente o que eu esperava dos meus professores, na infância e na adolescência. Educou meus conceitos, para retroceder e repensar, quando sou injusto ou pelo menos excessivo em meus atos. Educou-me para saber quando estou à beira de ser antiético, abusivo e sem limite, em questões que fora da Educação normalizam a falta de ética, o abuso e o excesso.
Aprendi, trabalhando com Educação e Cultura, que a igualdade mora nas diferenças; que as injustiças formam criminosos; que o racismo, a homofobia, o machismo e o fanatismo religioso matam... mas o trabalho em Educação, com excelência, salva e forma cidadãos felizes. A diversidade gritante na Educação, notadamente pública, faz de cada aluno, cada colega de trabalho em qualquer setor, cada pai, mãe, outros responsáveis de aluno, uma lição de vida que se não aprendermos, nunca seremos aprovados como seres humanos; sociais; cidadãos do mundo.
Aos professores/professoras, direção, orientação e demais colegas, que educam no pátio e nos corredores, na secretaria, na cozinha, na portaria, em serviços gerais: a todos, absolutamente todos, minha manifestação de carinho, respeito e profundo orgulho por tê-los como colegas de trabalho.
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terça-feira, 14 de outubro de 2025
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
domingo, 12 de outubro de 2025
sexta-feira, 10 de outubro de 2025
FAZER JÁ É O RESULTADO
quinta-feira, 9 de outubro de 2025
quarta-feira, 8 de outubro de 2025
SOBRE OS FÃS DA ODETE ROITMAM
Demétrio Sena - Magé
Essa multidão de admiradores que torcem pela impunidade ampla, geral e irrestrita da Odete Roitmam, de Vale Tudo - novela da Rede Globo de Televisão - traça bem o perfil de um percentual espantoso da sociedade brasileira. São as mesmas pessoas que chamam truculência de franqueza, crime de mal necessário, fazem preces a objetos e alienígenas, ao mesmo tempo que promovem quebra-quebras, ameaçam a quem pensa diferente, assassinam ou planejam assassinar a quem impede os seus atos insanos. Ou seja, do mesmo grupo que, além de tudo, vai pras ruas ou apoia quem vai, para exigir anistia ampla, geral e irrestrita para criminosos confessos e filmados em seus crimes.
Tal multidão não é a maioria, mas as pessoas perversas, impertinentes e sem limite, ou desinformadas, chatas, fanáticas e sem noção sempre fazem muito barulho, e seus atos para lá dos barulhos causam infortúnios, fatalidades e desgraças. Para quem não sabe como esse fenômeno acontece, pense nas comunidades dominadas por traficantes e/ou milicianos: a imensa maioria dos moradores dessas comunidades é composta por gente honesta, simples, pacífica e trabalhadora, mas basta existir um bando armado, carniceiro, sem noções de humanidade, para causar um imenso estrago e transformar a tudo em um inferno diário. O pior, é que muitas pessoas entre essa gente honesta, simples, pacífica e trabalhadora se cansam, se acostumam e normalizam o inferno, mesmo sendo contra, porque "não tem jeito"... e algumas, iludidas por lendas "Robin-Hoodianas" em torno desse bando, passam a admirar, mesmo não se unindo a ele; o que gera uma grande rede de proteção.
Toda novela, série, filme (...) fictício ou baseado em fatos, mostra realidades que nós vivenciamos ou às quais assistimos diariamente, nas ruas e outros ambientes públicos e privados. Não há como normalizar personagens como a Odete, nem os bandos de pessoas reais, como de certo oito de janeiro e seus líderes, fomentadores e mandantes. O bando dos que admiram esses bandos, de alguma forma contribui com o inferno diário que tem sido o ambiente social deste país, protagonizado por políticos violentos, corruptos e sem noção de humanidade. A Odete Roitmam é bem real; pertinho de nós. Não precisamos procurar com muito esforço e critério. Basta simplesmente olharmos em volta.
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domingo, 5 de outubro de 2025
PAIXÃO DISTORCIDA
Demétrio Sena - Magé
Sempre que estamos apaixonados, os nossos olhos e as nossas intuições quase nunca se desviam do que nos causa tal sentimento. Mesmo que a paixão tenha rótulo de ódio, medo e resistência, não há como escondermos de nós próprios essa realidade que nos aprisiona. É como uma sindrome de Estocolmo.
Não raras vezes, tudo que alguém apaixonado mais deseja é não estar assim; entretretanto, é algo inevitável. Quase sempre xinga, excomunga e faz de conta que expulsa; porém, chama cada vez mais, repete vezes infindas o seu nome, ainda que sem querer. Vê seu alvo de paixão em cada canto, em cada pessoa que incomoda e cada gesto fora da sua doutrina, que diz renegar esse alvo.
Quando começamos a ver o que chamam de diabo em quase tudo e todos que não coadunam com a nossa fé ou doutrina, e de repente passamos a repetir que "que o mundo jaz no maligno", é sintomático: já estamos contagiados por uma paixão inequívoca, distorcida e doentia por ele: o mito lutúrgico das trevas.
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sexta-feira, 3 de outubro de 2025
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
domingo, 28 de setembro de 2025
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
O QUE CHAMAMOS DE FÉ
Demétrio Sena - Magé
O ser humano é incapaz de conceber a própria capacidade. Medir a própria força. Não fazemos ideia dos esforços que podemos fazer; das dores que podemos aguentar; das tristezas e decepções que suportamos. Não nos detemos a pensar nem nas toneladas de cisco, terra e outras porcarias que inundam diariamente nossos olhos ou nas bactérias que passam pelo nosso organismo, e sobrevivemos.
Temos todo esse poder e não suportamos a ideia de que o temos. Por isso nos inventamos fracos e, ao suportarmos o peso das piores vivências, atribuímos ao sobrenatural. Pomos na conta especial de um "Deus", uma entidade, porque temos medo de nós mesmos. Não queremos intuir o poder da fé como algo inerente à nossa natureza. Que sai de nós e volta como solução do insolúvel, dentro ou fora das nossas expectativas.
Dá medo, a conclusão de que somos o nosso próprio sobrenatural. Que todo o "poder do alto" não está exatamente no alto. Essa força, que muitas vezes falha na trajetória e no alvo direto, funciona como o milagre de suportarmos a própria frustração, e nos fortalece até o dia do inevitável. A condição de nos mantermos vivos, com o mundo nos ombros, mesmo rastejantes, revela que somos nós, o nosso Deus.
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