quinta-feira, 17 de abril de 2025

DIGNAMENTE VELHO

Demétrio Sena - Magé 

Quando fui criança, todos me chamavam criança... é muito digno ser criança. Na adolescência, me chamavam adolescente. Menino. Quanta dignidade há no adolescente! No ser adolescente! Na juventude, fui chamado novo; moço; jovem. É tão digno ser jovem!

Eu era um homem maduro, na maturidade. Redundante? Como em todo o parágrafo anterior, não. Tem muita gente imatura em qualquer idade. Quanta dignidade no ser maduro! Quanto respeito e quanto auto respeito na idade da loba, o lobo! 

O que me pergunto é por que agora, idoso, não gostar de ser chamado idoso... ou velho, como tive a honra de ser criança; novo; maduro. Por acaso não é digno ter alcançado a velhice? Não é digno ter vencido o tempo e chegado até aqui?

Sobretudo, não sou um idoso - ou velho - de alma ou espírito jovem. Tenho a idade cronológica perfeitamente ajustada com com o todo, externa e internamente. Não acredito em idade híbrida. As nominatas não livram o ser humano dos efeitos naturais do tempo. 

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quarta-feira, 16 de abril de 2025

SE DEUS EXISTE

Demétrio Sena - Magé


Se Deus existe, Ele não precisa me abençoar com uma coisinha cá, outra lá, nem com uma "coisona" que vá satisfazer à minha vaidade ou amenizar uma dor que sinto. E sinto, porque não tive a benção de não sentir... por que então a do alívio? Dor não dura mesmo para sempre; uma hora passa. Tenho 64 anos de vida e nunca morri, até agora. Quero mesmo a benção de jamais morrer? Um dia morremos, depois

Caso exista, Deus bem que podia dar uma benção, em definitivo (não a de uma migalha hoje, outra depois de amanhã), às mães prestes a perderem seus filhos pra fome, a violência ou a enfermidade. Não o consolo posterior, porque mãe que perde filho não tem consolo; isso não é benção. Ela finge se consolar na fé imposta pelas ameaças religiosas, porque "só Deus sabe o que Deus pode fazer" contra quem não O teme o suficiente para não ter fé Nele.

Dispenso a benção do carro, a mansão, o iphone ou a viagem internacional que o Possível Deus pode me dar. Peço que Ele ponha sua Imensa Mão na consciência e dê à criança abandonada o retorno da mãe, o pai curado do alcoolismo, já que não conseguiu dar a benção de impedir o abandono. Que abençoe as vítimas das guerras com o fim das mesmas, uma vez que não foi Capaz de impedir o início de cada uma delas; todas inspiradas Nele mesmo e seus profetas, lá no terrível Velho Testamento Bíblico.

Pediria pra Deus, que Ele fosse Perfeito em abençoar a todos, linearmente. Paliativos, esmolas, pessoas que auxiliam "como podem", mas não podem proporcionar algo definitivo, não são bençãos. Precisar de benção para sobreviver aos pedaços; comer agora e depois precisar de novo de quem socorra; ser curado "milagrosamente" da doença que não foi impedida por uma "benção preventiva"... nada disso é uma benção.

Mesmo assim, se Deus existe Ele não precisa me dar mais do que tive nos últimos anos... dar mais e mais, para eu mostrar aos "menos abençoados" que estou entre os santos prediletos. Como bem, minha saúde abalada não me abala, vivi mais de seis décadas até agora, realizei sonhos importantes e tudo sem fé, sem religião, sem gritar que "Deus" É Lindo e Forte ou É O Cara. Nunca fui rico nem pude conhecer o Egito, mas não tenho do que me queixar.

Caso Exista, que Deus abençoe os desassistidos; os que não têm grana para comprar a benção da comida; do tratamento médico e da cirurgia; de um teto digno, do agasalho, da justiça social, jurídica, humana... quiçá divina. Não precisa fazer média comigo, com os mais bem sucedidos do que eu, os dizimistas e os abençoados de luxo que repassam migalhas de bênçãos para os desgraçados.

E dê aos piedosos sinceros quase sem recursos, que sofrem junto aos seus socorridos, a benção de finalmente perceberem que ninguém precisa mais de piedade... ninguém mais precisa de uma benção suada, sangrada, espremida, incerta e pontualmente pingada. "Será que ouvi um amém?".
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sexta-feira, 4 de abril de 2025

PARA SEMPRE DEMOCRACIA

Demétrio Sena - Magé 

Nunca mais o temor de pensar em voz alta

sobre a vida; o país; o poder e seus danos;

nunca mais outros anos de chumbo e tortura

nem da falta de sonhos em tempos de assombro...

Por favor; nunca mais nosso olhos sombrios

da certeza dos olhos que anotam quem vive

com os brios abertos aos ventos expostos,

pra punirem vivências além das cartilhas...

Tentativas de golpe nem golpe alcançado, 

nunca mais atestado de mau cidadão 

pra pessoas pensantes; de vontade própria...

Para sempre vivermos esse nunca mais

e ninguém repetir o fatídico dia;

sem escape; anistia; sem impunidade...

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sexta-feira, 21 de março de 2025

DIA DA POESIA?


 

LOBO MAU

Demétrio Sena - Magé 

Nunca fui muito ou nada bom em interpretar o mocinho das minhas histórias relacionais no mundo real. Fazer o mocinho se torna complicado, lá na frente, quando meus afetos querem se livrar de mim. Acho terrível deixar alguém se contorcer por dentro, porque não sabe o que fazer para me dar o "bilhete azul". Devo confessar que tenho o talento especial de fazer o vilão da trama. Penso no próximo (não digo isso para impressionar nem me fazer de mocinho nesse aspecto, em especial). 


Já entendi que ser o vilão (aquele que tem ou atrai para si todas as culpas nas horas cruciais) faz muito bem ao próximo, nas questões mais acirradas e nos eventuais rompimentos de relação. Todos querem ser mocinhos e ficar bem no filme, na foto ou na novela. Não sou pessoa muito boa (fique tranquilo quem sempre pensa que vou dizer que sim), mas tenho pelo menos essa virtude ou não vilania: estou constantemente disposto a não reivindicar o papel principal de um drama. 

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segunda-feira, 10 de março de 2025

FANATISMOS

Demétrio Sena - Magé 

Um ateu, agnóstico ou cético fanático (que impõe sua linha de raciocínio ao outro, geralmente aos gritos - porque todo argumento fanático é frágil) não é melhor do que um religioso de qualquer segmento, igualmente fanático. Ambos os lados são falastrões e repressores. Um obriga os seus a não acreditar em nada na direção oposta e o outro a acreditar em tudo na sua "cartilha" ou direção,  sem nenhum questionamento; nenhum raciocínio independente acerca do que lhe é apresentado.

Sou o tipo de ateu que não determinou a não existência de Deus. Não acredito no Deus (ou nos deuses) que as religiões me apresentam, mas não arrogo saber nem provar o contrário. Não tenho tese definitiva, corporativa nem isolada. Não transformei meu ateísmo em um segmento e não frequento grupos de ateus. Minha não fé no sobrenatural é de cunho particular e intransferível. Jamais preguei. Conheço ateus que, se conseguissem, entrariam nos ônibus, por exemplo, para pregar aos gritos o ateísmo, com ofensas a quem não é ateu. Exatamente como fazem os evangélicos mais ostentadores, que se impõem com gritos e ofensas a quem não é evangélico. 

Questões de fé e não fé não estão assentadas sobre provas absolutas e palpáveis. São baseadas em teses, bem fundamentadas ou não, porém teses, ou na aceitação pessoal plena do que não vê, mas crê. E crê que sente, pautado por escrituras supostamente sagradas com as quais se emociona, mediante pregações ou esplanações especializadas em tocar nas feridas... nos pontos fracos... nas emoções à flor da pele, que fragilizam profundamente a alma. De ambos os lados, não há como rotular alguém de imbecil. Ninguém prova em sã consciência, com a frieza natural de quem domina o saber, que Deus existe ou não. 

Quando critico o fanatismo religioso, não é a religião. É o fanatismo. E faço isso nos meus espaços legítimos de fala (meus livros, meus perfis em redes socias, meu blog), para que só leia quem se habilite a entrar nesses espaços. Quem convive comigo no dia a dia familiar, no trabalho e outros ambientes de convivência física não sofre nenhuma crítica minha; nenhuma ofensa ou forma de repressão, retaliação, ironia, indireta... seja o que for. Nesses meios coletivos, domésticos ou não, trato a todos com o respeito que exijo.

Em meu núcleo familiar, existe uma diversidade maravilhosa: Sou ateu, minha esposa é católica, minha filha mais velha pende para o espiritismo, mas, quando criança, foi batizada na igreja católica, por decisão de minha esposa. Na sua adolescência, quis fazer crisma e a levei a todos os processos. Minha filha mais nova, também quando criança, quis frequentar igreja evangélica e, da mesma forma, quem a levava era eu. Sem crise.

Hoje, cada filha segue o que deseja. Ambas não mais frequentam grupos religiosos. Não "se converteram" ao meu ateísmo, mas têm algumas visões parecidas com as minhas, mesmo eu nunca tendo "catequizado" nenhuma delas. Repressão não combina com opinião formada e tranquilidade sobre a visão pessoal de tudo. Imposição no grito é insegurança. Não creio no Natal, mas minha casa é enfeitada na ocasião, por esposa e filhas. Elas são indivíduos. Têm seus direitos individuais. 

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

APOSENTADOS DE FATO E DIREITO

Demétrio Sena - Magé 

O aposentado bem resolvido financeiramente só "continua trabalhando" no que lhe apraz. No que dá sentido real à sua vida, sua auto estima e à realização pessoal que vai além do ganhar dinheiro e se manter ou manter uma família. Não por necessidade. Seu trabalho, dentro desse critério, é um lazer e pode ser substituído por uma viagem ou um programa cultural, sempre que ele/ela quiser. E como regra, o aposentado bem resolvido está com a saúde sob controle, pois tem como cuidar da saúde com estilo de vida e com serviços médicos a contento. Quanto ao mais, a forma de viver é uma escolha estritamente pessoal.

São cruéis e preconceituosas, as falas e até matérias institucionais ou jornalísticas que incitam o aposentado modesto a continuar trabalhando, se ele sente que não dá mais. Ninguém tem o direito de tratar uma pessoa que tabalhou duro por longas décadas, como acomodada ou preguiçosa, por ela se sentir no direito de viver, ainda que precariamente, com o que recebe. Estão errados os patrões - tanto públicos quanto privados - que sempre remuneraram mal os trabalhadores. Estão errada as previdências, que reduzem cruel e drasticamente os ganhos do cidadão, no ato da aposentadoria. Estão errados e injustos os índices de reajustes que não acompanham a inflação real, decididos pelo poder público, cujos membros não têm ideia do que é viver com tão pouco. 

O aposentado pobre, não. Ele não merece nenhuma censura por estar cansado e querer descansar, dentro de suas condições e às próprias custas. Quem mereceu uma aposentadoria depois de tanta jornada extenuante, humilhações financeiras e patronais entre outras, não pode ser tratado com menosprezo pelas instituições, a sociedade externa ou a família. Ter seus proventos modestos ou minguados e até recorrer a "benefícios" governamentais - sem ser constrangido - não correspondem a um décimo dos direitos de um aposentado pobre, que já enriqueceu tanta gente eternamente descansada.

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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

COMO TODA FÉ PRESCREVE

Demétrio Sena - Magé 

O ateísmo não é uma forma de crença. É uma não crença. Como não crença, não é uma certeza: não acreditar não é o mesmo que saber que não existe, não há ou não é. Seria uma forma torta de fé, ter a certeza de que Deus não existe. Ou aquela certeza inversa do invisível; do intocável; do impossível de provar, absurdamente, como inexistência. Como desmentir o que acreditam pela fé, sem nenhuma exigência científica ou de qualquer outra natureza? Como alguém poderia provar uma não existência?

Em meu ateísmo, sei apenas que não sei de nada, e vejam só: ainda plagio Sócrates, ao confessar meu não saber. Isso prova o quanto não tenho qualquer bagagem para desqualificar a fé no Possível Deus, em deuses, em sobrenaturais. Além de tudo, meu ateísmo não nasceu de uma grande agonia, uma busca incessante ou qualquer frustração de natureza espiritual. Nasceu e cresceu de uma tranquilidade pessoal; da falta estrutural de uma necessidade íntima dessa busca de apoio extra-terreno.

Nada comove ou converte quem é bem resolvido com as agonias e desventuras do ser humano. E para mim, seria injusto e cruel "descomover" e "desconverter" quem achou esse justo e confortável sentido de seguir. Pregar o ateísmo seria criar o caos absoluto, para convidar pessoas a perderem o sentido que um dia encontraram e saltarem nesse abismo sem a garantia fantástica da fé no sobrenatural. Ateísmo é construção intima e lenta, não induzida. Um ateu não é um pastor do caos.


Que haja respeito recíproco sincero a todos os de fé. Aos que vivem realmente a fé (qualquer fé, em quem ou quê), de boa fé... e haja paz entre as diferentes crenças que se respeitam entre si e também respeitam as não crenças, como toda fé prescreve... como todo livro sagrado manda ou orienta... como todos os dias deveria ser, pela construção e a permanência de um mundo realmente melhor... e o tal de mundo melhor deixe de ser apenas um bordão atado aos interesses de cada um. 

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