segunda-feira, 19 de março de 2012

PENA QUE MICHAEL JACKSON NÃO SABIA

Temos um mito. Mito real e vivo. E com uma vida pautada pela coerência, o talento enxuto e uma grande capacidade de administração da vida artística, pública e pessoal. Um artista que “já era”, segundo muitos outros artistas, mas que teve esgotados em cinco dias os ingressos para seu show antecipadamente memorável no estádio Maracanã. Um rei que se derrama em declarações de amor para os súditos, esparrama sua admiração por artistas que sequer chegaram a um quarto de seu caminho e jamais apela para escândalos ou factóides em nome do sucesso. Um sucesso, aiás, que o acompanha há cinquenta anos ininterruptamente e jamais deixou de contar com uma multidão apaixonada, porém respeitosa e reverente. Como a um rei. O rei que ele é.
Nosso ídolo é esse homem que faz questão de ser comum. É romântico sem ser extremado. Gênio sem ser excêntrico. Culto e inteligente sem ser barroco ou rococó. Um caso de amor de milhões que têm a vida pautada pela sua trilha sonora. Roberto Carlos é a bonita novela de nossas vidas, com dramas humanos e reerguimentos sem espalhafato, cantada com voz macia; aveludada; soberana. É o carimbo afetivo de toda uma geração, e já consegue envolver outra geração de artistas e pessoas comuns que vêem nele um exemplo de vida e ponderação que nunca perde a majestade. Trata-se de um ídolo que não tem tietes. Tem profundos admiradores. Um professor de postura; de como se portar perante um povo que ele reconhece digno do seu melhor, mesmo com as falhas normais de um ser humano que sabe ser frágil sem deixar que sua fragilidade o avilte ou torne questionável aos olhos de todos nós, a quem cativou e por quem se tornou responsável. Assumidamente responsável, por meio de sua música e vida.
Temos enorme vantagem sobre o país que deu ao mundo o gênio inquestionável que foi Michael Jackson. Vantagem,porque o nosso gênio é infinitamente superior no conjunto. Em nenhum momento nos causa pena, dúvida ou revolta. Só nos proporciona imagens limpas, transparentes e dignas. Encanta sempre. Nunca desencanta. Quando abriu a vida para nós, com suas tristezas e fragilidades, Fe-lo com tanta lisura, sobriedade, resignação e respeito, que fomos todos solidários, mas sem dramalhões. Ele não chamou para si qualquer movimento consternacionista em massa. Apenas a solidariedade, o carinho e os pêsames sinceros dos milhões de amigos.
O nosso rei é superior. E sua grande polêmica está docemente centrada no enorme talento de fazer e ser um sucesso sem jamais precisar polemizar. Canta e vive o amor, é amado e ama o seu povo, e tudo acontece normalmente. Sem discursos, engajamentos, palavras de efeito proposital nem desempenhos precipitados e desastrosos para manter o trono. Amamos esse homem. Esse mito que é muito mais do que artístico. É pessoal. Está grudado em nossos corações e ouvidos. A sua música é a roupagem de nossas almas, e não sabemos como viver sem ele. Um dia o Brasil terá de passar por isso, e ser forte para tanto, mas tomara que esteja longe esse dia.
Quem dera tivéssemos políticos com essa postura, esse talento e a desenvoltura inigualável para gerir o destino de uma nação, como Roberto Carlos fez e faz com a sua nação de súditos, admiradores e amigos. Nosso rei sabe viver. Ele soube, desde cedo, que é preciso saber viver. Pena que Michael Jackson não aprendeu com ele.

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