Demétrio Sena, Magé - RJ.
É
na baixada fluminense que os extremos se encontram. Inferno e céu. Às vezes,
inferno é céu. Outras, céu é inferno. Por isto somos um povo que sabe andar na
corda bamba. Viver no limite. Dançar conforme a música. Um povo de clichês ou
saberes levados ao pé da letra porque a vida, no caso específico, a nossa,
exige.
Como
temos áreas de risco e de sossego, temos dias sossegados em áreas de risco, e
dias arriscados em áreas de sossego. O poder público nem percebe a diferença,
porque despreza a baixada fluminense. Gosta de mandar, mais do que propriamente
legislar ou governar, pois é bom negócio, mas despreza. Evidentemente,
sem desprezar os resultados materiais de seus cargos.
De
risco ou sossego, em todas as áreas da baixada fluminense há gente viva. As
ruas fervilham, as casas comerciais vendem, as pessoas conversam nas esquinas.
Umas riem, outras choram. Pobres e ricos têm a mesma cara, níveis culturais
parecidos, e o preconceito que se tem é cada um de si mesmo, como se fosse do
outro. Olhos nos olhos, eis o nosso espelho e as reservas que trazemos dentro
de nós.
Do
céu para o inferno e vice-versa, é o nosso vai e vem casa-trabalho,
trabalho-casa. Casa-escola, escola-casa. Vida-morte, morte-vida. Nós próprios
nos governamos, representamos, e às vezes até fazemos nossa justiça, mas ainda
assim elegemos os que fingem cuidar de tudo isso, porque a lei, que nunca está
do nosso lado, reza que devemos fazê-lo, e nós, diferentemente, sempre estamos
ao lado da lei.
Se
vivemos, é porque nossa vida se multiplica, depois de todas as mortes às quais
somos expostos. Se temos esperança é porque ela, sendo a última que morre, tem
o dever de nos esperar depois de cada baque. Somos corporativistas anônimos. Amigos
ocultos. Inimigos-amigos quando “o bicho pega”.
Na
baixada fluminense todos somos um. O todo se condensa mais e mais, para ser
escudo. Nosso orgulho se perde por orgulho, na solidariedade. Somos a baixada
geográfica, em alta na autoestima, mesmo quando parece não haver motivo. Se nas
demais bandas cada um se oculta em paredes de cristal, o povo da baixada se
expõe, se encontra, se arrisca e risca os traços do destino sonhado.
Temos
força, porque temos o hábito da obrigação de ter. Trazemos nos ombros o peso do
oceano, e sobrevivemos aos tubarões que fingem ser daqui, por interesses
políticos e financeiros. Sendo baixada fluminense, vivemos abaixo do nível do
mar, mas a onda não nos leva... nem morremos afogados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário