Demétrio Sena, Magé - RJ.
Muitas vezes concebo essa ideia
de que o povo brasileiro deveria retaliar a classe política simplesmente não
comparecendo às urnas, em todas as eleições. A punição exemplar pela corrupção
política e a falta de políticas públicas em prol do povo, pelo povo, seria a
negação do voto.
Logo retrocedo. Já houve um tempo
em que não votamos, e isso não era nada bom, além de não ser nada que não se
resolvesse, por exemplo, com o colégio eleitoral. Alguém ainda lembra? Pois é.
Do jeito que as coisas vão, creio não ser ignorância temer que algo semelhante
a um colégio eleitoral possa ser instituído pelo poder público, em forma de
justificativa emergencial pela falta do voto popular. O não comparecimento em
massa, do povo às urnas, pode ser tudo que o poder público destes tempos
deseja.
Não tenho receita para este
problema. Sou leigo em questões desta natureza. Tão leigo, que não descarto a
hipótese de neste momento estar a dizer uma grande bobagem. O que posso afirmar
com indícios de convicção, é que precisamos pensar um pouco mais, antes de
levarmos a cabo certas questões que não dominamos.
Acho que, se com o nosso voto as
coisas estão como estão, sem ele podem ser muito piores. Fatais, mesmo, para
uma sociedade já enferma sociopoliticamente. Arrisco dizer que ao invés do não
voto, é necessário que haja uma nova forma de votar, de conferir o voto, e que
também haja leis que legitimem de fato o povo, mas o povo, mesmo, por meios
jurídicos eficientes, a demitir políticos. Se o povo elege, ou seja: emprega,
também deveria, de forma direta e não apenas pela pressão, ter o direito de
"mandar embora", por "justa causa", qualquer político
ladrão; fraudador; traidor da fé pública; mentiroso...
Se houve um tempo em que não
tivemos direito de votar, e lutamos tanto por esse direito, abrirmos mão seria
devolver aos políticos o que temos de mais precioso no campo da cidadania.
Devolveríamos ao poder público a prerrogativa de criar seus engenhos escusos e
misteriosos de se autoeleger, e perderíamos a chance de continuar, ainda que por
longas décadas, a nossa procura das raríssimas, mas ainda possíveis agulhas no
palheiro imenso da política brasileira.
Irei às urnas mais uma vez.
Talvez para votar nulo, em branco, mas irei às urnas, com toda a revolta que me
consome. O trabalho que me proponho é o de continuar minha busca por saber quem
é quem; quem é primo, filho, sobrinho, pai, cunhado, cônjuge, amigo (...) de
quem, para tentar, além de não reeleger, não eleger ninguém que reponha no
poder público as mesmas caras-de-pau.
O que não farei de modo algum, é
contribuir para que os políticos de sempre, que nunca deixamos de eleger,
direta ou indiretamente, voltem a não precisar do meu voto.
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