quinta-feira, 31 de outubro de 2024

DESMITIFICAR AS MÃES

Demétrio Sena - Magé 

Precisamos nos permitir humanizar as mães ou suas memórias em nosso imaginário e nas nossas falas. As mães erram. Todas erram. Erram muito. Na verdade, além de mães elas são (ou foram) mulheres. Além de mulheres, seres humanos. Por melhores que sejam ou que tenham sido, elas têm seus históricos de preferência filial, se há mais de um filho; de superproteção, se tem filho único; de muitas injustiças, em julgamentos de qual filho começou uma contenda e qual é o mais inteligente, ajuda mais ou merece os maiores cuidados seus.

É preciso entender que mães blefam; xingam ou pensam xingamentos... elas também desejam alguém que não entenderíamos e têm manias secretas, como nós temos. O passado? Ah... ninguém queira vasculhar o passado da própria mãe, nos detalhes. Ela pode até parecer um suave livro aberto, mas a partir da página conveniente para si mesma e seus rebentos. Pode não ter feito nada demais; no entanto, para o que os filhos esperam das mães, tudo é demais. Tudo tem a gravidade própria de qualquer olhar filial, por sua parcialidade.

O admirável na mãe... admirável, é o conjunto: a transformação em fera, para proteger o filho; o amor sem limite que se revela nas renúncias pessoais necessárias pelos rebentos. Nas vigílias, quando a cria está em perigo, adoece ou sofre uma decepção. Em todos os momentos nos quais A MÃE precisa sublimar a mulher; o ser humano. Aí se afigura o valor materno, mas "peraí": nada impedirá seu retorno aos vícios, erros e fragilidades pessoais. É ilusório e injusto seguirmos impondo às nossas mães essa imagem de perfeição, fortaleza e santidade....   ...   ...

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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O CAMINHO LARGO DO CRISTIANISMO CONTEMPORÂNEO

Demétrio Sena - Magé 

O sentido de se converter é se "tornar uma nova criatura", como a todo momento é repetido no meio cristão, do qual trato nestes escritos. Conversão é transformação. Mas isso é muito; muito difícil, mesmo, porque o ser humano... bem; o ser humano é o ser humano. Esta é a razão de o convertido "customizar" o evangelho em sua vida; seu meio; sua corporação. Daí nascem o rock gospel, baile funk gospel, carnaval e outras festas consideradas profanas pelos evangélicos, que as incorporam em seu meio, depois de torná-las gospel. As imitações do "mundo", como eles classificam, seguem no consumo da cerveja sem álcool, por exemplo, e não sei até quando não cederão ao cigarro e outras drogas, depois de criarem variações e declará-las gospel.

Tudo isso, para tornar fácil ser cristão, notadamente evangélico. Para eliminar os desafios da fé professada e ter um caminho mais largo a seguir. A compensação dessas concessões é forjada nos preconceitos contra outras religiões e seitas, na homofobia, na militância contra questões sociais conflitantes e um machismo exacerbado não apenas dos homens, mas também das mulheres contra si mesmas. De resto, a valentia (como no famoso oito de janeiro), para convencer a sociedade com o seu conservadorismo em assuntos que apenas empoderam o grupo, sem nenhuma utilidade para o país. Em um todo, a meta é tornar confortável a conversão e competir com o mundo. E para ganhar a competição, redobrar os preconceitos contra o que ainda for "ingospelizável", somando a isto a proliferação de seus líderes em cargos políticos de todas as instâncias, via eleições e indicações pelos influentes do meio.

Nenhum político ligado ao evangelho e posto no cargo em razão disto atua por uma sociedade justa, igualitária e democrática, e sim, por uma exclusividade repressora. Uma predominância em defesa dessa pecuária social, cujo rebanho lambe os beiços com a suposta "moleza" que é ser cristão/evangélico nestes tempos em que são maioria, têm as portas abertas, o caminho largo e um vergonhoso "fechamento" com todos os poderes terrenos, em nome da inquisição versão século XXI. Os evangélicos, oprimidos por algum tempo, sempre sonharam ser opressores e, pelo visto, agora realizam esse sonho. Este texto não faz menção aos raros fiéis realmente convertidos, porém perdidos e assentados nas rodas contemporâneas dos escarnecedores.

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domingo, 20 de outubro de 2024

PARA DIZER NO SUPOSTO DIA DO POETA

Demétrio Sena - Magé 

Sinto muito pelas pessoas com quem tenho proximidade, mas que temem respingos das consequências de conviver comigo, em razão de meu poetar contundente. Minha poesia, mesmo quando romântica, protesta contra injustiças sociais. Eu até poderia ser menos expressivo e silenciar, dentro do possível, mas isso não adiantaria muito. Na verdade, não adiantaria quase nada. Como não adiantaria minha presença ser discreta, obscura e, minhas participações em saraus e outros eventos, quando se descuidam e me convidam, serem rasas e fugazes. Mesmo em silêncio absoluto, meu olhar expressa indignação social; minha expressão facial é combativa; cada gesto meu é polêmico; até a minha respiração protesta contra injustiças, desigualdades, hipocrisia, selvageria capitalista, preconceitos e obediências servis; civis ou não.

Nunca fui ajustável nas minhas vísceras, na postura natural nem nos sorrisos, que nunca se abriram espontaneamente para quem representa oportunidades de quaisquer naturezas. Mesmo quando romantizo, eu sou um poeta que brada pelos poros e denuncia nos poemas de amor. Realmente não tenho como me ajustar nem fazer com que se ajustem à minha inquietação. Para mim, as relações corporativas, sociais ou de afeto não precisam ser entre pessoas iguais, mas entre pessoas que se veem e se recebem com igualdade. Não com ajustes, mas aceitação espontânea, livre, sem nenhum preconceito... nem o velho (e mau) preconceito educado e assistencialista dos que olham por cima feito senhores e senhoras de engenho que tratam escravos com "fineza", mas não abrem mão do andor, da estampa nem do título senhorial. 

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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

"AMORRR"

Demétrio Sena - Magé 


Eu gostava do amor com vários "érres"

espalhados nos muros, viadutos,

mas os brutos de finos gabinetes

não olhavam pra ele de bom tom...

Senso assim, não fizeram qualquer lei

que fizesse do amor, da gentileza

a beleza de ofício e tombamento,

pra não ser esquecida pelos olhos...

E dos olhos, direto ao coração,

para quem se permita olhar e ver,

dar à sua emoção essa esperança....

Era bom esse oásis no tumulto;

um insulto pros réus da correria,

todos presos nos "érres" do "rancorrr"...

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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

FAZENDO COCÔ

Demétrio Sena - Magé 

Depois de humilhar publicamente um homem simples, por motivo fútil, perguntando aos gritos se ele sabia com quem estava falando, aquele homem soberbo, influente, famoso e milionário chegou em casa e foi direto ao banheiro. Foi fazer cocô. Como certamente o homem simples fez, pouco antes ou depois, ao chegar em casa ou não. Como todos os homens, mulheres e crianças de todas as classes, culturas, gêneros, etnias, escolaridades, religiões, não religiões e tendências politicopartidárias fazem cocô. E todos fedem.

Penso muito sobre a soberba humana. Sobre todas as trajetórias, notórias ou não, bem sucedidas ou não, que acabam roídas, nos devidos corpos, pelos mesmos vermes que todos os mortais. E que durante a vida urinam, escarram, fazem cocô, vomitam, arrotam. Muita gente simples se deixa oprimir pelos soberbos, porque acha que eles, em razão de seus status, merecem ser opressores. Pensando assim se cala, quando alguém lhe pergunta, e sempre aos gritos, se "por acaso sabe com quem está falando".

Pois eu, sei. Faz muito tempo que eu sei "com quem estou falando", não importa com quem fale: estou falando com alguém que daqui a pouco estará sentado, provavelmente gemendo, num vaso sanitário... fazendo cocô. 

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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

VAZIO

Demétrio Sena - Magé 

Meu cansaço não conta rodagens do corpo;
a vertigem dos braços, a pressa dos pés 
nem o quanto, até dez, conto vezes infindas
ou de quantos cansaços meu cansaço é feito...
Na verdade não somo incontáveis esforços;
os meus nervos não tremem de vastos fazeres,
tenho até meus prazeres discretos e rasos,
que me fazem sentir um apego por algo...
Há um peso na alma, que ataca na carne;
uma carga dos anos que não são nem tantos,
mas arrastam encantos rachados de secos...
Um cansaço invasor; que disfarça que jaz,
mas cansou do cansaço que jamais senti;
ah, que falta me faz o que me faça falta!
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