sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ABELHA SEM MEL


A triste abelha se cala. Voa muda e já não arrisca o seu rasante habitual. Tenho vaga impressão de que poderia tocá-la sem temer uma ferroada. Não o faço, porque jamais faria e porque neste momento a respeito mais ainda, imaginando a dor da surpresa ou da traição que a deixou muda... Quase sem movimento... Sem fé na própria natureza.
Conheço bem uma traição. Tenho muitos anos de vida, embora muitos me falem que ainda vivi pouco... Gente que já viveu mais ainda e conhece bem mais o mundo, as pessoas, as coisas e os segredos que se renovam quando pensamos saber tudo... Pelo menos quase tudo, após todas as vivências acumuladas a partir da meia idade.   
Ah, sim; eu falava da triste abelha. Tão triste quanto fiquei, quando percebi que determinado amor não foi de fato amor... Que uma grande amizade não passara de conveniência... Que aquela grande chance de minha vida fora mais uma fraude que o destino, ajudado por alguém, cometera sobre o verdor dos melhores anos pelos quais passei.
Lá se foi a triste abelha... Percebeu, atônita e frustrada, que a bela flor de seda não era flor. Suas cores não eram naturais e não havia perfume. Sobretudo, a flor de seda não tinha essência, pois lhe faltava pólen... Alma de flor.... A energia do mel que simboliza, entre todas as outras coisas, a continuação da vida.

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