quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AMIZADES SUPERIORES


Um dia ele chegou a pensar que ela passaria nas provas de confiança irrestrita. De cumplicidade sem limite. Confidência blindada contra melindres, olhares investigativos, autocríticas e avisos externos. Pensou que ela tivesse o algo mais necessário para corresponder aos seus critérios de uma grande amizade. Um laço além, muito além dos afetos corriqueiros de até então.
Não mais que de repente, o jovem a percebeu armada, com um colete à prova de provas verdadeiras, sinceras e naturais. Viu-se cuidadosamente sondado em seus gestos. Avisado sutilmente sobre o quanto ela estava atenta. Leu claramente naqueles olhos queridos, uma contra intenção que  desbotava e tornava distante o afeto com o qual se habituara de forma tão intensa e presente.
Mesmo assim, ele não a reprovou por completo. Sua instituição afetiva é generosa e sempre dá uma chance. Apenas a deixou no quadro das amizades comuns. Daquelas que vêm e vão sem dor. Que não são quase amor. São somente apegos providenciais. Apenas bons, de bom tom, apropriados e confortáveis nas horas fáceis.
Talvez ela retome um dia em seu peito, a condição de algo mais. Muito mais do que o jovem supõe que a moça julga favorecê-lo com o seu arrimo tarifado. Com sua generosidade sobressaltada e condicional. Seus lamentáveis códigos de barra.
Pode ser, mas ela precisa descobrir, antes disso, que as provas naturais de amizades superiores não têm múltipla escolha... São casos notórios de sim ou sim. Não ou não. Tudo ou tudo. nada ou nada. Não há como fugir desses clichês.  

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