quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ÁRVORE ASSASSINADA


Voltei das férias e percebi que a velha árvore do quintal da escola fora cortada. Ela era frondosa, bastante alta e tinha uma sombra densa que refrescava quase toda a biblioteca. Seu tronco era simplesmente um espetáculo: Bem largo e cheio de cipós delgados que pareciam jorrar da copa, feito minicascatas verdes. 
Foram muitas as vezes em que reunimos alunos à sombra daquela árvore para realizarmos leituras de poemas e crônicas e bate-papos literários acompanhados de sucos e petiscos. Nem mesmo as pequenas lagartas sazonais que vez e outra caíam sobre alguma cabeça - sempre no outono - incomodavam. Eram momentos muito prazerosos e tínhamos imenso carinho pela árvore.
Intrigado, indaguei à direção da escola o motivo do corte, pois nenhuma obra seria feita naquele espaço e não havia qualquer dano que a velha árvore pudesse causar. A resposta gaguejada e sem sentido foi de que as raízes poderiam quebrar boa parte do pátio em redor, caíam muitas folhas e havia muita lagarta.
No entanto, a árvore já velha não estava em crescimento. Logo, nada além do pequenino pedaço de concreto já rachado seria comprometido. Quanto às folhas caídas diariamente, o trabalho de varrê-las nunca foi maior que o de varrer a poeira do pátio. Já as lagartas, as "terríveis pequenas lagartas" eram apenas um pequeno incômodo próprio do outono. Aliás, um incômodo que gerava uma formidável compensação: Atraía incontáveis espécies de aves, algumas raras, que vinham de longe por causa da "iguaria".
Desculpas; eternas desculpas. Há sempre uma desculpa indesculpável pré-fabricada na língua de quem devasta. Mas os benefícios de poupar a natureza são sempre muito maiores do que os incômodos relatados por quem corta uma árvore; assoreia um rio; polui o mar; comete caça ou pesca predatória; mata uma coruja que adentrou a casa ou a cobra que simplesmente atravessava uma rua.
Voltando à velha árvore, o que mais me assusta é lembrar que se cometem crimes ambientais injustificáveis nas escolas. Exatamente nas escolas, onde a consciência ecológica deve ser fomentada. Onde crianças e jovens devem aprender a amar a flora e a fauna, por serem sabedores de sua importância.
O fato é que a escola se livrou da árvore... Das raízes e as folhas incômodas, mas também da sombra e da brisa fresca... Das pequenas lagartas sazonais, mas também dos pássaros que já não enriquecem o quintal com seus cânticos matinais e vespertinos e a beleza de sua diversidade.  

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