Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sou subitamente repreendido por causa da roupa. Velha e cafona para receber convidados. Tenho roupas melhores para vestir nesta ocasião. Roupas bem melhores. Todos no ambiente querem me ver "bonito", mas dentro destes trajes é um fato impensável.
- Bote aquela roupa novinha, Demétrio.... você ficou tão bem com ela! Tão... tão... tão bonito!
Obedeci. Era grande a torcida. Não podia ignorar tantas pessoas esperançosas e otimistas. Tão... tão... tão dotadas de fé na vida e nas pessoas. Até mesmo nesta pessoa.
Vou ao quarto, visto a roupa e me olho no espelho. Meu rosto ainda é meu rosto. Sob os panos, lá estão os mesmos ombros caídos; as costelas expostas. Na direção do estômago, a mesma pequena saliência de cobra que ainda não digeriu o rato.
Tenho pena da roupa nova. Meu silêncio absoluto é simplesmente um pedido interno de perdão, pela sua tarefa ingrata. Sua missão de um milagre que meu simples truque de usá-la não pode operar.
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