terça-feira, 8 de novembro de 2016

TODO TEMPO DO MUNDO

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Aprecio, sobremaneira, esse tempo generoso que o meu emprego me dá, para conviver com a família. Para fazer meus poemas; minhas crônicas... exercer a criatividade, remunerada ou não, sem as rígidas obrigações de horários e obediências.
Mas, o que mais temo na vida é ter todo tempo do mundo. Por isso, além de precisar do meu trabalho formal, por questões específicas de sobrevivência, preciso dele para não ter tempo a desperdiçar com o que não é relevante. Às vezes, com o que pode até aviltar minha índole.
Ter todo tempo do mundo extrapolaria os espaços de convivência e criatividade. Seria um convite aos excessos do comportamento; às invenções fúteis; à prática da intromissão. Eu me tornaria invasivo; maledicente. Vigia ilegítimo da rua; do condomínio; da comunidade. Deixaria de reconhecer o alheio e diria gracinhas recorrentes às filhas e mulheres dos outros. Faria brincadeiras de mau gosto com a vizinhança, e saberia mais do que preciso e convém, sobre tudo e todos ao meu redor.
Não quero todo tempo do mundo, porque nenhum ser humano está preparado para isso. Já é de bom tom esse tempo bem dividido entre as obrigações, os prazeres, as criações e o repouso. Todo tempo do mundo poria os meus sonsos demônios para fora, com a missão de provocar os francos demônios que habitam outras pessoas, e levaria o próximo a me querer distante.
Ademais, ter todo tempo do mundo é dispendioso para quem, no fim das contas, paga a conta. Só se tem esse tempo com o patrocínio de alguém que julga fazer um bem tamanho, mas contribui para que o favorecido não cresça; não amadureça; não se torne um ser social. 

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