sábado, 20 de julho de 2024

PARA DIZER OBRIGADO

Demétrio Sena - Magé 

Sou um poeta de sorte. Aliás, acho que tenho mais sorte do que talento. Candango sem prêmios oficiais, hoje autor de 12 livros quase desconhecidos, recebi as primeiras homenagens quando ainda era menino. Uma vez a Janete Jasmim, então diretora do Colégio Estadual Professor Alfredo Balthazar determinou que as aulas fossem pausadas, para que o colégio me fizesse uma homenagem, no auditório. Eu devia ter uns dezesseis anos de idade, nenhum livro, e vivia nas ruas de Piabetá. Ganhei flores, cartões, e ouvi meus poemas ainda bem ingênuos recitados por professores e alunos. Na mesma época, recebi homenagens do Colégio Cenecista Visconde de Mauá, do Centro de Educação Moderna, também em Piabetá, e nunca entendi a razão. Nunca fui o tipo nem o padrão social de pessoa que normalmente homenageiam.

Já maduro, sempre um cidadão de condições sociais modestas, Recebi homenagens do Colégio Estadual Professora Alda Bernardo dos Santos Tavares, por iniciativa da professora Jedicaia Sabará. Bem recentemente, fui surpreendido com uma homenagem linda, da professora e poeta Lau Portella, no palco da Feira Literária de Guapimirim. Há poucos anos,  também recebi homenagem da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Magé, e mais anos atrás fui convidado a receber título de cidadão honorário da Câmara Municipal de Magé, mas esse aí recusei. Não fui buscar. Ser homenageado pelos vereadores ou pelo poder executivo de minha cidade não era e continua não sendo uma honra. Hoje também eu recusaria. Teria vergonha de buscar o símbolo de uma forma fácil de ganhar votos, que os políticos encontraram, quando não não têm uma ficha de trabalhos reais para mostrar.

E agora, vejam só que honra indescritível... acabo de me tornar cadeira de Academia de Letras. A professora e poeta Angela Dias (Angela Trierveiler), gaúcha muito querida no município sulista a em que vive, e que acaba de publicar um livro, escolheu a mim como patrono de sua cadeira, 47, na Academia Biblioteca Mundial de Letras y Poesia. Ser homenageado ainda vivo e com alguma saúde, como patrono de uma acadêmica é uma linda subversão para quem vive de subversões. Uma academia de letras que se permite essa subversão demonstra uma maturidade, um avanço no tempo, que ainda não é comum às casas desta natureza. De minha parte, sou grato à academia e mais ainda à Angela, que me julga um poeta e ser humano merecedor da homenagem. 

Continuo fora da curva e quem me homenageia também o faz fora da curva. Realmente não entendo, e minha gratidão é maior, por causa disso. Sucesso à Angela e a todos os membros da Academia Biblioteca Mundial de Letras y Poesia. Que venham outras subversões e ousadias tão necessárias em um mundo atolado num conservadorismo que já não cabe nestes tempos. Obrigado. Muito obrigado a todos nessa casa.

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