Demétrio Sena, Magé - RJ.
O Rex é um vira-lata.
Quase de raça, porque é filho de um também vira-lata com uma poodle. Um belo,
talvez terrível dia, o pai sumiu no mundo, como um bom vira-lata que era ou
ainda é, mas a mãe poodle não o abandonou, enquanto viveu. Deu-lhe todo amor,
atenção e cuidados, como poucas mães humanas contemporâneas fazem.
Depois que a mãe, de
nome Sofia se foi, o Rex passou a ser cachorro único, naquela casa. E como todo
bom filho único, é cheio de mimos e vontades. Uma peste, mas no bom sentido,
pois as suas travessuras agradam a todos. Nem sempre na hora exata, mas acabam
por agradar. Principalmente às crianças, que fazem farra o dia inteiro com o
amiguinho hiperativo e sem vergonha.
Dia destes o Rex
inventou de comer o sofá, quando todos estavam distraídos. A turma decorava o
quintal para uma festinha de aniversário, e a casa ficou inteiramente vazia. O
danado parou em frente à peça caríssima, comprada em parcelas nas Casas Bahia.
Olhou atentamente pra fora; depois pra dentro; novamente pra fora; novamente
pra dentro. Quando viu que o momento era propício, não perdeu tempo: botou os
dentes para funcionar.
Só muito mais tarde, bem
depois do bolo e dos parabéns, foi que a família viu o estrago: um buraco
enorme no sofá e farelos de espuma por toda a sala. O Rex estava escondido.
Sabia o que tinha feito, e não queria dar as caras. Com isso, a raiva pela
estripulia do bicho teve que se juntar à preocupação, pela ideia geral de sua
fuga.
Horas depois, a turma
deu por si: toda vez que aprontava, o Rex buscava exílio embaixo do velho fusca esquecido
nos fundos do quintal. Já sorridentes e totalmente esquecidos do sofá,
exatamente como Rex planejara, foi que os meninos o acharam... lá estava ele,
cheio de manhas, olhando para todos com aquela cara de filho da poodle.
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