Demétrio Sena, Magé – RJ.
O nosso sofrimento nem sempre nos
amadurece. Há quem sofra os diabos e, no entanto, passa de verde a podre sem amadurecer.
Ao mesmo tempo, há pessoas que nem sofrem muito e mesmo assim amadurecem,
porque têm um olhar atento, preocupado e profundo em direção ao próximo e ao
que se passa muito além do seu campo de visão.
Quem sofre com egoísmo, pena de
si mesmo, acha que o próprio sofrimento é o maior do mundo, e que por isso os olhos
de todo o mundo devem se voltar para ele, jamais aprenderá nada. Mas quem,
sofrendo ou não, tem amor o suficiente para se solidarizar com o sofrimento
alheio e dar ação à solidariedade, pelo menos nos limites do seu poder de fazer
algo, criará dentro de si um complexo universitário de saberes especiais que o tornarão
douto em relação ao mundo, à vida e ao próximo. Ninguém se forma centrado
apenas no próprio eu. Viver é mais do que a caixa de nossas carências e necessidades
pessoais.
Não prego para você. É para mim
mesmo. Pergunto-me a que ponto sou capaz de olhar além. Ou se o mundo está
restrito aos meus caprichos, minhas mágoas do outro, por autopiedade. Pela visão
tacanha de uma vida que me deve mais do que eu a ela. Mais ainda, se até transformo
questões fúteis; desnecessárias a qualquer contemplação, em batalhas ferrenhas
contra quem não tem culpa de minhas frustrações; minha solidão garimpada pelo
gênio esturrão... meus complexos inventados para despejar sobre todos, com um
grito fraudulento de socorro, dispensável mediante gritos legítimos e urgentes
ao redor.
Há quem brinque de sofrer, para
se vender como fruto maduro e necessário. Mete-se numa estufa de agonias
inventadas, semblante caído, voz arrastada e tremida, na tentativa de arrastar seguidores
apiedados por tanta contemplação. Autoestima, leveza, bom humor e vida social
sem chiliques agregam muito mais do que todo esse agouro.
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