Demétrio Sena - Magé
Não adotei o clichê de que a Educação me torna uma pessoa melhor, a cada dia. Quem trabalha com educação (e cultura - sou profissional de Cultura dentro da Educação) há mais de trinta anos, hoje seria um santo; já teria sido arrebatado ao suposto céu, se a cada dia de todo esse tempo, acordasse um pouco melhor. Um ser humano melhor.
Para dizer a verdade, às vezes volto para casa um pouco pior do que cheguei ao meu local de trabalho. Convivo com tanta injustiça e vejo tantas outras, cometidas não somente contra os meus colegas professores regentes, mas também contra os alunos, pelos poderes que regem o sistema, que me sinto à beira da descrença total. Pior ainda, perceber que o sistema põe os alunos contra os professores, os professores contra os alunos e a sociedade como um todo, contra os dois lados, é algo enlouquecedor. Como diz um amigo de rede social, e parceiro em um livro, é de arrancar sabiá do toco.
Mas devo confessar: o que tenho de humanidade na cabeça e no coração, devo ao meu trabalho. Quando iniciei essa trajetória, cheguei com tudo; com todas as brutalidades que me eram peculiares, crendo que poderia educar na marra. Tive que mudar na marra. Precisei aprender que lido com pessoas em formação, muitas vezes dependentes do que tenho a oferecer, que possa tampar o abismo cavado, em suas próprias casas. Julguei que os prazeres e as facilidades de ser um arte-educador (animador cultural, segundo a Secretaria Estadual de Educação) seriam constantes no meu dia a dia, nos limites físicos da escola. Não são.
Cada dia melhor é hipérbole, mas trabalhar com a Educação me educou (deixando, evidentemente, muitas raspas de truculência, intolerância e incompreensão). Educou os meus olhos para me ver nas meninas e nos meninos com que trabalho, e saber o que eles esperam de mim, que é justamente o que eu esperava dos meus professores, na infância e na adolescência. Educou meus conceitos, para retroceder e repensar, quando sou injusto ou pelo menos excessivo em meus atos. Educou-me para saber quando estou à beira de ser antiético, abusivo e sem limite, em questões que fora da Educação normalizam a falta de ética, o abuso e o excesso.
Aprendi, trabalhando com Educação e Cultura, que a igualdade mora nas diferenças; que as injustiças formam criminosos; que o racismo, a homofobia, o machismo e o fanatismo religioso matam... mas o trabalho em Educação, com excelência, salva e forma cidadãos felizes. A diversidade gritante na Educação, notadamente pública, faz de cada aluno, cada colega de trabalho em qualquer setor, cada pai, mãe, outros responsáveis de aluno, uma lição de vida que se não aprendermos, nunca seremos aprovados como seres humanos; sociais; cidadãos do mundo.
Aos professores/professoras, direção, orientação e demais colegas, que educam no pátio e nos corredores, na secretaria, na cozinha, na portaria, em serviços gerais: a todos, absolutamente todos, minha manifestação de carinho, respeito e profundo orgulho por tê-los como colegas de trabalho.
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Respeite autorias. É lei

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