sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ARTIGO GENÉRICO DA EXPLORAÇÃO DA MISÉRIA


Quando as ongs e a mídia deste país conseguirem definitivamente convencer as novas gerações de que o sucesso e a cidadania estão única e obrigatoriamente ligados aos esportes e às artes de massa, o tiro poderá sair pela culatra. Seremos um país de atletas e artistas de primeira grandeza se digladiando na superlotação estelar dos estádios, quadras, ringues, arenas, teatros e outros espaços culturais, e enfrentando ainda outros dois problemas bastante incômodos: O de sermos celebridades sem torcedores, plateias e fãs, e o de não termos arquitetos e pedreiros para construírem nossas mansões; médicos para avaliarem nossa saúde; professores para nos educar; homens do campo para garantirem nosso alimento, e assim por diante.
Nesse tempo todos passarão a entender tardiamente que a carpintaria também podia salvar meninos, tanto quanto a construção civil, o magistério, a magistratura, o comércio, a indústria e a pecuária, entre tudo o mais. Saberão que o sucesso e a cidadania eram inerentes a todas as profissões e carreiras exercidas com talento, arrojo, disciplina, persistência e oportunidades. É claro que aqui se fala de profissões e carreiras; não daquelas virações que nascem da miséria, da exclusão social e da exploração imposta pelos políticos e empresários inescrupulosos, concentradores de renda e poder por meio de artifícios escusos e arbitrários.
Se tais ongs e as modalidades danosas de mídia puderem abrir mão do apelo e do dinheiro fácil que jorra das fontes da oficialidade, abrindo assim o leque de opções do exercício do sonho e da esperança, o futuro se desenhará igualitário. Dá mais trabalho, reconheço, o que representa um desafio à preguiça e à má fé. E é justo aí que mora o meu desânimo, porque faço ideia do lucro que a preguiça e a má fé resultam num país como o nosso. Seria o caso de os governantes cumprirem suas funções políticas e sociais honesta e eficientemente, para não terem que delegar, com tamanho derrame do dinheiro público, atribuições que lhes cabem.
Sonho com um tempo em que a grandeza real das artes e dos esportes não continue sendo usada pela pequenês moral dos corvos que se fazem precisar da infelicidade alheia para construir seus impérios de riqueza, fama, poder e hipocrisia. E que os corvos cabíveis nesta generalização de meu manifesto se lembrem também que não é só nas favelas que a miséria medra. Crianças carentes estão nos morros, subúrbios, áreas rurais e grandes centros. 
O que há de vantajoso nos morros é a visibilidade abrupta, o retorno imediato da opinião pública e sobretudo as verbas altas e de lavagem fácil. É essa tentação que precisa ser vencida.

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