segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PARA VOCÊ GOSTAR


Esta crônica é do Rubem Braga. Danado como ele só, fê-la num momento em que nada mais tinha para fazer. Nem mesmo crônica. Estava de papo para o ar, ou de glúteos para a lua, talvez caçando formas nas nuvens, coçando o saco num dia ou noite qualquer, sem nenhum evento a comemorar.
Assim era meu amigo Rubem: Sua inspiração não tinha fases, altos nem baixos. Dispensava os motivos e se inspirava até mesmo na falta de inspiração - ou de assunto - para sair assuntando entre as linhas que sempre acabavam produzindo encanto.
Quando concebeu estes escritos, o Rubão não queria nada que não fosse orbitar mentalmente. Repousava nos braços da preguiça, num ócio bem merecido por quem vivia para os outros dividindo-se entre páginas de livros, revistas e jornais; dando de beber às almas, de comer ao intelecto coletivo, mesmo no caso dos menos ou nada intelectuais, pois ele era de todos. Permitia-se a doce promiscuidade literária dos gênios nessa arte. Piranhava mesmo, com toda a classe de que dispunha, sem nenhum pudor de ser quem foi, por amor devasso à crônica; ao verso; a sei mais lá o quê, no reino das letras.
Reconheço que assusta ler termos chulos atribuídos ao Braga. Ele de fato jamais faria isso. Mas percebi nos seus olhos que você aprovou este texto, buscando na mente uma boa justificativa e aplicando por conta própria, no contexto, os vocábulos menos ortodoxos aqui expostos.
De fato menti. Esta crônica não é do Rubem Braga. Infelizmente é minha e quero me desculpar por tê-lo feito adorá-la. Era esta minha intenção e sinto muito, mas agora é tarde para considerá-la um lixo literário. Seria muita contradição, denotando fraqueza de caráter.
O jeito é continuar gostando e ficar armado para os próximos, pronto para não gostar, sabendo que serão meus e que talvez haja outras armadilhas para capturar seu gosto. De qualquer modo, reconheça que pelo menos a pegadinha foi de mestre.

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