quarta-feira, 26 de outubro de 2011

PAPEIZINHOS SAUDÁVEIS

Na contramão dos que rejeitam, acolho cada santinho, prospecto e cartão que distribuem nas ruas das metrópoles. Faço isso, desde que nenhum engraçadinho tente me puxar para um canto, apertando o impresso entre os dedos assim que o aceito, para derramar sua lábia em meus ouvidos. São vezeiros nessa prática os que distribuem propagandas de óticas, planos de saúde e similares.
Excluindo esses incômodos, não me faço de besta: Vou enchendo os bolsos de papeizinhos embolados, até encontrar uma lixeira longe dos olhos dos panfletistas. Procedo assim, não sem antes dar uma lida rápida: Divulgam planos; empréstimos; jogadores de búzios; compra de ouro; advogados; milhares de outros serviços e produtos, alguns até inimagináveis.
Devo confessar que já tive minhas surpresas agradáveis com tal prática: Vendi bugigangas velhas quando estava mais duro do que um coco seco, arranjei um advogado trabalhista que me proporcionou um acordo razoável com a empresa que "pus no pau", e tive até uma noite de prazer com uma linda jovem cartomante que procurei para saber de bobagens. Eu estava carente, ela também parecia estar e os astros conspiraram a nosso favor. Tudo graças aos papeizinhos.
Quem aceita os impressos e não os joga no chão acaba sendo um agente voluntário em prol do meio ambiente, pois faz com que menos lixo emporcalhe as ruas. No meu caso (posso dizer sem ficar ofendido comigo mesmo), um lixeiro voluntário. Se todo o mundo fizesse o mesmo - perdoem se me uso como exemplo -, as cidades talvez não estivessem tão poluídas e propensas a enchentes em épocas de chuvas densas.
Some-se a isto, o fato de oferecermos mais dignidade ao trabalho honesto de jovens que, enquantro isso, não estão contribuindo para avolumar as pilhas e mais pilhas de papéis arquivados na justiça criminal, mesmo diante da informatização. Como se vê, aceitar os papeizinhos e dar-lhes destino civilizado é causa ecológica, assistencial, humanitária... E pode, ainda, resultar surpresas que nem as cartomantes imaginam.

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