segunda-feira, 24 de outubro de 2011

COMPLICADA SIMPLICIDADE


Sempre ouvi referências à rosa, aos rios e aos campos como coisas simples da vida. Poetas, por exemplo, são grassos em adicionar a pétalas e folhas o idílio infalível do orvalho que sobre elas é semelhante à lágrima.
Decanta-se o raiar e o pôr do sol; as brumas marinhas e as gaivotas; as montanhas, os vales e as outras maravilhas de flora e fauna, como simples. Uma simplicidade que só a poesia explica, sem explicar; que a ciência não alcança em suas peculiaridades, em seus detalhes mais profundos.
Ninguém explica os sentimentos da flor, os instintos da abelha, os desejos do peixe. Não há como chegar aos sentidos das algas, às emoções da gazela ou a razão da brisa quando acaricia a relva. Será impossível divagar, sem cair na monotonia, sobre todas as singelezas dos mais diversos fenômenos naturais.
Diria que simples mesmo é a bomba atômica. Logo será simples a clonagem humana, como são simples a cibernética, a energia nuclear, o raio laser e todas as maravilhosas ou terríveis complexidades da ciência e da tecnologia em um todo. São segredos desvendados pelo homem, mistérios resolvidos pela mente humana e alcançáveis pelo estudo, a pesquisa, a busca criteriosa.
Por mais que tenhamos encontrado respostas da natureza para projetos científicos pelos quais desenvolvemos meios de vida ou morte, jamais encontraremos essas mesmas respostas para o que normalmente consagramos como simples: A aurora, o luar, a maresia, a dor do inseto, o amor do molusco, a esperteza do felino, o DNA da seiva. Se é possível estudar atitudes, temperamentos externos, organismos e movimentos, não chegaremos à alma da flora; ao espírito da fauna; à essência dos astros atingíveis ou não.
São falsas as mensagens sobre a singeleza dos lírios; dos regatos e gaivotas; da teia. Mensagens impressas em cartões românticos, religiosos, comemorativos... Cartões sob medida para vendagens expressivas, lucros imediatos.
Finalmente, simples de fato são os homens, com toda a sua complexidade apregoada. O ser humano se vasculha, esquadrinha, explica e consegue dissertar sobre si sem recorrer à farsa poética para responder sem resposta, esclarecer sem clareza, tornar o prático abstrato, filosófico e delirante.
Como o homem, são simples as criações e criaturas dele advindas, bastando-lhe a construção, o exercício, a disciplina e a ousadia do conhecimento. Trata-se de um conjunto que não basta para que se domine ou explique o que foge ao reastreamento científico, por fugir exatamente à natureza humana.
Exclua-se Deus do contexto deste artigo, porque o autor do presente, mesmo respeitando crenças exclui a ideia de sua existência, talvez por ser complexa como a flor, o riacho e a libélula. Mais ainda, pela concessão de que possa estar errado, vendo a fé como íten precário, puramente poético, para que se imponha como autenticação definitiva do que foi escrito exatamente como agora o faço: Movido por impressões emocionais. 
Quanto ao parágrafo anterior, isto é apenas uma divagação, porque a vida é de cada um. O coração é propriedade privada. O arbítrio é livre para todos. Isto é tão simples de compreender quanto as simples complicadas maravilhas da ciência.

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