Demétrio Sena, Magé - RJ.
O assédio afetivo daquela pessoa
que nos quer tão bem que não conseguimos crer, nos confunde. É afetivo, mas o
nosso temor nos arma e decide que é sexual. Especialmente pelo excesso de
confiança depositada em nós, que faz crer numa confiança igual como resposta,
quando não temos a mínima condição de corresponder. É aquele conjunto de
atitudes e olhares sinceros que fazem bagunça em nosso porto seguro. Fazem ruir
o muro da solidão confortável que se tornou rotina doentia, por ser
excessivamente providencial.
Temos um medo incomum de quem
chega sem rodeios, meias palavras,
camuflagens, e com a mais franca ousadia de manifestações extraquadro.
Com presença ostensiva cujos fins não sabemos discernir. Enxergamos nas amizades
desarmadas e gratuitas o mundo que um dia nos feriu. A sociedade que
desmantelou nossos conceitos de boas intenções e nos fez desistir do ser
humano, como se fôssemos a preciosa sobra do que havia de bom sobre a terra.
Por isso nos guardamos para comungar tristemente com pessoas portadoras das
mesmas marcas que trazemos na alma. Indivíduos temerosos de tudo e todos, como
nós. Uma sociedade anônima comprimida. Prisioneira dos freios, das permissões
previamente combinadas e dos alarmes antissurpresas. Medrosas do caráter
diverso e das expectativas sobre o outro.
Não estamos preparados para o bem
querer informal. Para romper o fundo imensurável do poço acomodado em águas
imutáveis. Apostar no afeto imprevisível que pula nossa janela; confiar na
irreverência dos laços que avançam sinais e avisos, e no fim das contas fazem
bem, porque tudo foi por bem. Não houve o que atentasse contra nossa
integridade física, psíquica e moral. Nada foi como adivinhamos que seria e por
isso julgamos, condenamos e resolvemos aplicar precocemente a pena do
afastamento, a frieza ou retaliação.
Os desempenhos sociais deste
século confuso que se transformou numa espécie de moderna idade média nos
deixaram assim. Fecharam todos os olhos para os bons espíritos ainda
existentes. Os tesouros que se ocultam em seres de caráter inesperado para os
preconceitos que os excessos do pânico produzem. O maior dano destes tempos é o
de não vencermos o dano de achar que tudo é dano e transformarmos nossas
trajetórias em uma sucessão de perdas humanas que a generalização não perdoa.
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