Demétrio Sena, Magé – RJ.
A sociedade que nos resta suporta
o negro. Mas ele precisa parecer branco; vestir-se como branco; ter costumes de
sociedade branca. Também aceita o gay, desde que o mesmo pareça hétero; tenha
traços, indumentária, voz e trejeitos héteros. Conserve um comportamento
enrustido. Ainda tolera o adepto de religião afrodescendente, com a condição de
que ele pareça católico; evangélico; no máximo, kardecista. Viva de modo a não
parecer o que denominam, preconceituosamente, como macumbeiro.
Ela convive bem com o pobre, com
uma condição: que ele seja um fiel servidor, mão-de-obra barata... ou pareça
rico. Pelo menos para si mesmo... que se auto engane, crendo que lhe dão valor
pelo servilismo, ou creia enganar a própria sociedade que, na hora certa, fará
bom proveito dessa ilusão. De resto, a sociedade restante ama a mulher... no
entanto, é necessário que a mulher se ponha no “seu lugar”; não faça frente ao
homem. Obedeça ao domínio machista e, pode até trabalhar. Só não pode ocupar os
mesmos espaços do homem, pelo menos com a mesma valorização profissional.
Esta é a sociedade que nos resta.
Uma sociedade que vive e exige que todos vivam de aparências. Exclui e ao mesmo
tempo “perdoa” os excluídos, desde que os próprios excluídos não se perdoem.
Aceita os que não se aceitam, os que se negam e se rendem aos seus padrões,
porque isso é vantajoso para ela. Da imagem eternamente imposta aos negros,
gays, religiosos marginalizados, mulheres e pobres, a sociedade que nos resta faz
a própria imagem para se manter como é, porque essa é a fórmula exata da
concentração de tudo o que lhe interessa para continuar impondo seus cabrestos.
O sonho da sociedade restante não
é outro senão o de perpetuar o poder sobre as classes dominadas e fazer com que
seus dominados se orgulhem de ser conduzidos, ao pé-da-letra, como dóceis
ovelhas. A propósito, nestes tempos em que a igualdade social já deveria ser
fato consolidado, a figura de linguagem perfeita para os dominadores, vendida
com mais sucesso do que nunca, para os dominados menos atentos, é exatamente o
mais estúpido, passivo e subserviente dos gados: a ovelha.
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