sexta-feira, 10 de outubro de 2025

FAZER JÁ É O RESULTADO

Demétrio Sena - Magé 

Devo Confessar que sou refém das apreciações sinceras. As sinceras. Só não sou refém da minha própria vaidade (que existe, mas não me sequestra), por eu não permitir que a soberba me faça inflar e me sentir acima de que ou quem. "Literaturizo" desde os 12 anos de idade. Agora tenho 64. Quando sonhava publicar livros (o que realizei, tenho alguns), não sonhava com fama, sucesso popular, prêmios, destaque (...), nem com ser milionário. Para mim, o fazer já seria, e é, a recompensa. 

Eu não faria uma fogueira para queimar dinheiro, se ele viesse, mas esse não era nem é o objetivo, como nunca foi objetivo projetar minha imagem nem meu ego, e sim, projetar o meu fazer. A poesia é a estrela; não o poeta. A arte, a cultura como um todo, são a constelação; não seus fazedores. Fico feliz ao notar que me sinto feliz, agora. Que não era falácia minha, quando ainda não tinha livros, meus escritos não tinham alcance, algumas admirações carinhosas, e eu dizia que nada me "subiria à cabeça". Nunca enriqueci, nunca vendi milhares de exemplares do mesmo título, jamais fui lido por multidões, em meus livros nem em minhas publicações na web, e me sinto realizado. O carinho de umas dúzias de leitores me realiza... o próprio fazer, sempre me realiza. 

Em minha trajetória, vi muita gente pular fora, com afirmações de que "não ganhou nada com isso". Só importava o grande resultado; seu talento, a graça do seu dom não lhe diziam nada. Também vi outros, que tiveram algum resultado, mas ficaram tão soberbos, pisaram tão forte em degraus imaginários, que derrocaram; perderam o domínio do próprio dom (algo em que acredito). Agradeço por meu fazer ser visível por tão poucos, mas que representam tanto, pelo quanto importam seus olhares.
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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

SOBRE OS FÃS DA ODETE ROITMAM

Demétrio Sena - Magé 

Essa multidão de admiradores que torcem pela impunidade ampla, geral e irrestrita da Odete Roitmam, de Vale Tudo - novela da Rede Globo de Televisão - traça bem o perfil de um percentual espantoso da sociedade brasileira. São as mesmas pessoas que chamam truculência de franqueza, crime de mal necessário, fazem preces a objetos e alienígenas, ao mesmo tempo que promovem quebra-quebras, ameaçam a quem pensa diferente, assassinam ou planejam assassinar a quem impede os seus atos insanos. Ou seja, do mesmo grupo que,  além de tudo, vai pras ruas ou apoia quem vai, para exigir anistia ampla, geral e irrestrita para criminosos confessos e filmados em seus crimes.

Tal multidão não é a maioria, mas as pessoas perversas, impertinentes e sem limite, ou desinformadas, chatas, fanáticas e sem noção sempre fazem muito barulho, e seus atos para lá dos barulhos causam infortúnios, fatalidades e desgraças. Para quem não sabe como esse fenômeno acontece, pense nas comunidades dominadas por traficantes e/ou milicianos: a imensa maioria dos moradores dessas comunidades é composta por gente honesta, simples, pacífica e trabalhadora, mas basta existir um bando armado, carniceiro, sem noções de humanidade, para causar um imenso estrago e transformar a tudo em um inferno diário. O pior, é que muitas pessoas entre essa gente honesta, simples, pacífica e trabalhadora se cansam, se acostumam e normalizam o inferno, mesmo sendo contra, porque "não tem jeito"... e algumas, iludidas por lendas "Robin-Hoodianas" em torno desse bando, passam a admirar, mesmo não se unindo a ele; o que gera uma grande rede de proteção.

Toda novela, série, filme (...) fictício ou baseado em fatos, mostra realidades que nós vivenciamos ou às quais assistimos diariamente, nas ruas e outros ambientes públicos e privados. Não há como normalizar personagens como a Odete, nem os bandos de pessoas reais, como de certo oito de janeiro e seus líderes, fomentadores e mandantes. O bando dos que admiram esses bandos, de alguma forma contribui com o inferno diário que tem sido o ambiente social deste país, protagonizado por políticos violentos, corruptos e sem noção de humanidade. A Odete Roitmam é bem real; pertinho de nós. Não precisamos procurar com muito esforço e critério. Basta simplesmente olharmos em volta.

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domingo, 5 de outubro de 2025

DANTESCOS

 


PAIXÃO DISTORCIDA

Demétrio Sena - Magé 

Sempre que estamos apaixonados, os nossos olhos e as nossas intuições quase nunca se desviam do que nos causa tal sentimento. Mesmo que a paixão tenha rótulo de ódio, medo e resistência, não há como escondermos de nós próprios essa realidade que nos aprisiona. É como uma sindrome de Estocolmo.

Não raras vezes, tudo que alguém apaixonado mais deseja é não estar assim; entretretanto, é algo inevitável. Quase sempre xinga, excomunga e faz de conta que expulsa; porém, chama cada vez mais, repete vezes infindas o seu nome, ainda que sem querer. Vê seu alvo de paixão em cada canto, em cada pessoa que incomoda e cada gesto fora da sua doutrina, que diz renegar esse alvo. 

Quando começamos a ver o que chamam de diabo em quase tudo e todos que não coadunam com a nossa fé ou doutrina, e de repente passamos a repetir que "que o mundo jaz no maligno", é sintomático: já estamos contagiados por uma paixão inequívoca, distorcida e doentia por ele: o mito lutúrgico das trevas.

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