terça-feira, 5 de junho de 2012

BOBO DE TÃO POVO


Os homens bons mandam beijos. Afagam crianças. Abraçam velhinhos. Têm um respeito cândido pelos menos favorecidos, em especial os portadores de deficiências físicas e mentais. 
Normalmente, os homens bons não são tão vistos nas ruas, entre o povo, como ocorre nessas datas de muitos fogos de artífício, carros de som, cores e eventos públicos. Em tais eventos, muitas palavras; arroubos; punhos cerrados. As multidões extasiadas e barulhentas.
Nas entredatas - aquelas em que não precisam se propagar -, parece que os homens bons hibernam: Na geleira intocável da paz de seus gabinetes; no aconchego de suas casas luxuosas, onde junto às famílias se protegem do povo, então incômodo e mal educado. Em si próprios e nos seus carros blindados, quando se locomovem a salvo do assédio popular.
Eles querem sempre as mesmas coisas: Cargos no poder; livre acesso ao tesouro público; riqueza, influência, e tudo isso com pouco esforço. Nenhum compromisso posterior com as multidões que os aclamam.
São homens maus, os homens bons. Deixaram de ser homens de bem, para serem homens de bens. Patrimônio, dinheiro, poder e ganância. Seria justo, se o que eles têm fosse próprio, mas não é. Tudo pertence por direito à população enganada pela bondade falsa, postiça. 
Tudo neles é fachada. Faixa que oculta interesses pessoais escusos. Um teatro cotidiano para ludibriar o povo que os enriquece, mas a cada dia é mais pobre.
Povo bom, esse povo. Bom e longânimo; de boa fé. Uma fé que se deixa enganar, crendo em homens bons no poder público. Boa gente. Boba, de tão boa. Cega de tão povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário