sexta-feira, 1 de junho de 2012

COINCIDÊNCIAS OU PRECONCEITO RACIAL?


Deixe-me ver se é coincidência ou preconceito: Nas telenovelas atuais não existe um só papel relevante representado por ator negro. E os raros negros que atuam nos papéis secundários dessas novelas fazem personagens hilários, caricatos ou capachos. Os vilões, por exemplo, são escadas de vilões brancos, que ostentam mais ousadia, inteligência, estratégia e liderança..
Vejamos também se é coincidência o fato de ser ainda mais raro ver na tevê um noticiarista, repórter, âncora ou apresentador. Pode ser igualmente coincidência - ou coisa desta cabeça de quem vê maldade ou segregação em tudo -, mas parece que o mesmo ocorre nas passarelas de moda; nas atividades frontais dos bancos, lojas de artigos finos, recepções de grandes empresas e outros estabelecimentos de luxo.
Da mesma forma, preciso que alguém me diga se a história se repete ou não nos tais concursos do tipo "menina fantástica". Invariavelmente, a única candidata negra inserida entre as centenas de brancas e ruivas a cada edição, não passa do meio do caminho. Sua participação não duradoura é apenas uma espécie de satisfação ou cota, o que logo fica evidente. Os próprios anúncios desses concursos, feitos por moças brancas, louras ou ruivas são prenúncios desta verdade.
Se as coincidências - demais, para serem coincidências -realmente não são, nosso país retrocedeu dos poucos avanços de mentalidade registrados nos últimos anos. Agora já não sei se foram mesmo avanços de mentalidade via campanhas de conscientização, ou nada mais do que efeitos forçados pelo impacto inicial das leis contra o racismo. Hoje me parece que a única mudança real - e também inválida - foi de classificação nominal. O Brasil, que jamais respeitou negros e mestiços continua desrespeitando, excluindo e desmerecendo a quem hoje chama afrodescendente.
Coincidência ou não, a elite branca ou pretensa deste país voltou a delimitar, veladamente, atividades; ambientes; cultura; lazer de brancos e negros. Determina, então, no que o afrodescendente pode ou não - e quando - ser bem sucedido. O que não pode, salvo excessões que ninguém consegue segurar, é estar na frente; ser destaque ou vitrine. Para esta sociedade, negro pode ser popular, mas não célebre. Aplaudido, mas não reverenciado. Querido, mas não lengendário.
Pelo visto, não há decreto que abra, em definitivo, essas mentalidades. Até quem cria e sanciona os decretos, normalmente os ignora. Nas escolas, onde se deveria cultivar a esperança de um futuro melhor neste aspecto, direções e professores continuam resistindo a qualquer lei que pretenda obrigar a aplicação profunda e ampla dos estudos de africanidade ou afrodescendência. Por ignorância e preconceito, querem falar do assunto sem abordar aspectos fundamentais, como religião e crendices. Com tal atitude, acumulam separatismos.
As leis brasileiras contra tudo isto são relevantes, mas ficam lá, presas no papel e na burocracia. Faltam rigor, cobrança e vigilância do poder público, para que se cumpram. A sociedade reluta; cede um pouquinho aos alarmes iniciais das novidades, mas em pouco tempo relaxa e volta, impunemente, a ostentar preconceito... ou a cometer "coincidências" intermináveis.

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