quinta-feira, 24 de maio de 2012

ASSOMBRO EM MEU QUINTAL


Dizem que o quintal onde moro, na localidade de Parque das Flores, quarto distrito de Magé mora o espírito de uma velhinha indígena que viveu há pelo menos 400 anos. Ela não morava no quintal. Aliás, nem era um quintal naquele tempo, e sim, mata fechada. Segundo a crendice, a velhinha saía todos os dias, de sua tribo, que era bem próxima do local, na tentativa de fazer contato com o espírito de um índio a quem amara em sua juventude. O índio teria sido atacado por uma cobra peçonhenta e não resistiu, tendo perecido ali mesmo, onde montava tocaia para caçar.
No entanto, dizem que o índio não correspondia a tal amor; pelo contrário, sempre fugira da moça, pois nutria verdadeira paixão por outra índia, na verdade nem tão bela, que também não o amava. Um desencontro amoroso desses que a vida não cansa de repetir e certamente já ocorreu a todos nós. O índio não se cansava de assediar sua amada, como aquela que o amava também não desistia de conquistá-lo. A esperança da índia apaixonada, de viver uma grande história com o jovem índio só teve fim quando ele se foi. Seu sonho foi interrompido pela peçonha de uma cobra.
Mesmo assim, se a esperança do amor concreto estava morta, a moça não desistiu de se unir ao espírito de quem amava. Por isso, todos os dias visitava o local, crendo que podia ser levada por tal espírito que jamais apareceu. Passou o tempo, a moça envelheceu e não realizou a fantasia, vindo a falecer no ponto exato que seria o do encontro não ocorrido. Muitos antigos me contaram que o espírito da velha passou a morar ali, e que ela ainda pode ser vista por olhos mais sensitivos, altas horas da noite, vagando entre as árvores que medram no quintal que amo e não deixarei de habitar.

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