segunda-feira, 28 de maio de 2012

SOCIEDADE ANTROPOFÁGICA


Chega o ponto em que o dito homem bem sucedido já não tem amigos nem companheiros. Tem apenas admiradores, pares e serviçais. Às vezes, superiores hierárquicos. Da mesma forma, deixa de ter esposa e filhos para só ter dependentes. A casa, em especial, vira um dormitório nos dias úteis e um gabinete nas horas que sobejam dos fins de semana.
Se o tempo não para, o homem bem sucedido aposta com ele uma corrida louca, na qual perde... não do tempo, exatamente, mas o próprio tempo... tempo de ser indivíduo, pessoa, ele mesmo. No fim das contas, torna-se um produto variável de acordo com as exigências, necessidades e caprichos da clientela cada vez maior.
É aí que tal homem se pergunta lá no íntimo de suas inquietações preservadamente humanas, onde o sucesso profissional não cabe, até que ponto é de fato bem sucedido. É nessa mesma lacuna que também se evidencia o motivo de tantos surtos psicóticos e suicídios de grandes personalidades das mais diferentes áreas de atuação. 
Acho que até a corrupção se define ou explica no momento em que o acúmulo de poder e dinheiro, com as suas vantagens, substitui os valores reais do ser humano. Vejo pouca diferença entre as máquinas sociais e os monstros do mundo moderno, porque ambos os grupos – cada um a seu modo e com suas justificativas – são devoradores do outro.
Isto não é uma apologia ao não trabalho (ou ao não progresso), mas um convite à reflexão sobre limites. Sobre o sentido de nossa vida que suplica um pouco de tudo o que a faz valer a pena: Trabalho, educação, cultura, entretenimento, afetos comuns e família... principalmente família. Nada vale a pena, se a família sucumbe. 

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