quarta-feira, 9 de maio de 2012

MAZELAS DO PRECONCEITO PEDAGÓGICO

Observo que a escola está sempre um passo aquém, no que tange as ferramentas de incentivo ao gosto do aluno pela leitura. Lembro que minha adolescência foi marcada pela corrida aos gibis, o que era uma febre de todos os adolescentes da época. Ainda hoje, aos quarenta e muitos anos, consumo os filmes de heróis que saíram dos quadrinhos para o cinema e do cinema para os DVDs. A escola, entretanto, abominava essa prática. Segundo os educadores, as imagens não estimulavam a criatividade; a imaginação. Uma inverdade ou um equívoco tardiamente reconhecido pela escola dos nossos dias. Agora que a meninada não quer mais saber de gibis, os professores incentivam; estimulam a criação de gibitecas; imploram que os alunos se interessem por essa leitura, e já existem livros didáticos em quadrinhos.
Tenho visto faz tempo, a escola repetir o erro do preconceito pedagógico, desta vez com a censura aberta ao Orkut, o MSN, o twiter e outros sites de relacionamentos ou não, mas que encantam adolescentes e jovens. Com exceção de alguns educadores que não chegam a formar um grupo eficiente, a categoria esbraveja enquanto poderia utilizar tais dispositivos em prol da educação. Comunidades criadas e orientadas pelos professores obteriam grande sucesso com a utilização dos sites e blogs de relacionamentos, para instituição de concursos literários; divulgação de eventos culturais; recados e avisos bem humorados. Tudo em linguagem simples e com participação efetiva dos alunos, mas de forma a educar; convergir para a utilização correta da escrita, inclusive sem as incômodas abreviações desordenadas e esdrúxulas. Temo que os poucos professores hoje conscientes disto não consigam adeptos, ou só os consigam quando todos esses dispositivos não interessarem mais aos estudantes, que estarão novamente além.
Espanta-me ainda mais, saber que as escolas estão equipadas; têm computadores com internet para uso dos discentes, mas que só podem ser usados com fins específicos, e rígidos, de estudo monitorado e pesquisa. São extensões da sala de aula, em horários de aulas ou “janelas”, sem nenhum direito a entretenimento. É vedado aos alunos ter prazer, em algum momento, no uso dos computadores da escola. Computadores que a oficialidade alardeia como desses alunos, mas estão censurados. Reproduzem a frieza do quadro e da lousa, cheios de matérias a serem incutidas pelos discursos graves e ameaçadores de sempre. São assim, porque ainda não passamos do tempo em que, de modo mais claro e contundente, qualquer ambiente de leveza e descontração era “dar muita confiança”.
Depois de tudo, absurdo mesmo é  abominarmos o milagre que alguns livros têm operado entre a garotada, porque são estrangeiros ou simplesmente os julgamos fúteis. Fúteis por quê?  Por serem massificados? Aplaudo as séries do tipo Senhor dos anéis, a dita Saga Crepúsculo e outras, que fazem algo mais fascinante do que levar ao cinema quem já leu os gibis do Homem Aranha: Levam aos livros extremamente volumosos, que nunca imaginamos em suas mãos, nossos filhos que foram ao cinema e já conhecem essas histórias. E eles leem mesmo; não perdem sequer uma frase. Leem, comentam, trocam impressões e fariam excelentes trabalhos individuais ou coletivos, se nosso pretenso intelectualismo e até o preconceito da religiosidade distorcida (pois são histórias de bruxos e vampiros) não abalassem as nossas frágeis “convicções”.
Em pouco tempo, quando algo mais moderno e talvez bem menos ou nada fascinante nem produtivo estiver na moda, imploraremos aos futuros alunos que procurem nas bibliotecas os livros outrora desprezados por nós e cultuados Por eles. Pediremos resumos, redações e trabalhos que jamais chegarão às nossas mãos, porque afinal, mais uma vez estaremos atrasados. Um passo aquém.

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