Demétrio Sena - Magé
Você pode chamar uma festa junina ou julina de festa do milho ou da roça. Mas ela tem a pegada e a mesma aura das festas dedicadas aos santos (João, Antônio, Pedro...), e as datas a indumentária, os ritmos, ainda que as letras sejam fraudadas em nome de releituras encaixadas aos ritmos. Pode, ainda, chamar o seu carnaval de gospel, deturpar os sambas enredos (também com letras adaptadas), mas ainda será um carnaval. E carnaval significará sempre, festa da carne.
Não importa que sua a cerveja não tenha álcool. Ela continua cerveja. Que o baile só tenha hinos. Ainda será baile. Também tanto faz que você curta um samba, um rock, um funk, um forró, com mensagens que o classificam como gospel. Os ritmos que sempre foram chamados de profanos, no seu meio, serão os mesmos ritmos profanos. Terão as mesmas origens ou matrizes, como nos casos das festas de "Sãos", do carnaval, da cerveja, o baile. Readaptar não mata nem anula essas origens, matrizes, ou esses fundamentos.
Nada fará um revólver se tornar santo nem santificar a quem atinge alguém com ele. Uma noitada na farra não será "ungida pelo espírito santo" e um xingamento não se tornará louvor na boca de um "convertido". Antes de pensar nas fachadas, pense nas origens do que você pretende maquiar. As origens não mudam; elas serão sempre lembradas ou celebradas nas releituras. Customizar tudo o que você acha que não presta é como não beber, mas tomar um porre de tanto cheirar as rolhas.
Na verdade, não há nada melhor do que sermos livres; não precisarmos camuflar nossas vontades secretas... sobretudo, sabermos que o "mundo" não cabe no armário.
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Respeite autorias. É lei
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