quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O QUE CHAMAMOS DE FÉ

Demétrio Sena - Magé 

O ser humano é incapaz de conceber a própria capacidade. Medir a própria força. Não fazemos ideia dos esforços que podemos fazer; das dores que podemos aguentar; das tristezas e decepções que suportamos. Não nos detemos a pensar nem nas toneladas de cisco, terra e outras porcarias que inundam diariamente nossos olhos ou nas bactérias que passam pelo nosso organismo, e sobrevivemos.

Temos todo esse poder e não suportamos a ideia de que o temos. Por isso nos inventamos fracos e, ao suportarmos o peso das piores vivências, atribuímos ao sobrenatural. Pomos na conta especial de um "Deus", uma entidade, porque temos medo de nós mesmos. Não queremos intuir o poder da fé como algo inerente à nossa natureza. Que sai de nós e volta como solução do insolúvel, dentro ou fora das nossas expectativas.

Dá medo, a conclusão de que somos o nosso próprio sobrenatural. Que todo o "poder do alto" não está exatamente no alto. Essa força,  que muitas vezes falha na trajetória e no alvo direto, funciona como o milagre de suportarmos a própria frustração, e nos fortalece até o dia do inevitável. A condição de nos mantermos vivos, com o mundo nos ombros, mesmo rastejantes, revela que somos nós, o nosso Deus. 

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terça-feira, 23 de setembro de 2025

DO AMOR, MESMO SEM AMOR

Demétrio Sena - Magé 

As pessoas estão buscando (ou simplesmente aceitando) relacionamentos nos quais ninguém é levado a sério. Isto se agrava nas relações de amor, quando ambos permitem, um ao outro, aquele tratamento sem afeto, sem gentileza e até sem respeito, como se o outro fosse um guisado, que satisfaz a fome fisica e só volta a ser desejado na hora da "próxima refeição" em qualquer "mesa".

Não vim aqui para falar de noivado, casamento, união estável... nem vim pregar moralismos como a suposta obrigatória relação heteroafetiva. Falo de todas as formas e naturezas do amor, inclusive aquelas em que os acordos voluntários de ambas as partes abrem portas para inclusões onde não haja sofrimento... ou mesmo da relação afetiva temporariamente sem amor, mas com carinho, envolvimento, gentileza e a preocupação mútua com o bem estar de quem faz parte da nossa vida e troca sua intimidade conosco. Mesmo sem amor, isso é amor. 

Com ou sem compromisso de futuro, uma relação afetiva/sexual não pode abrir mão do contexto de afeto, compromisso com o bem estar da parceria e aquele olhar sempre humano. Sempre de gente que lida com gente... não de fera que vai à caça quando o "estômago" ronca e pede mais um pedaço da carne armazenada e garantida para sua "fartura", pelo menos enquanto existe a carne. 

Se nem sempre tem que ser amor, tem que haver o envolvimento afetivo pautado pela sinceridade, a troca relevante, o respeito ao ser humano com quem interagimos sexualmente. Mesmo sem o amor necessário a um compromisso de futuro, o desejo requer tratar bem, se importar, olhar com ternura, querer saber do outro quando está longe. Não entendo a falta de auto estima e respeito próprio que deixe alguém nos tratar como um naco de carne ou embutido. 

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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

CONTRA ESTA E AQUELA BANDIDAGENS

 

Demétrio Sena - Magé 

As manifestações do povo brasileiro contra a chamada PEC da bandidagem (blindagem dos deputados federais, com a decisão de seus próprios destinos, caso cometam crimes, o que sempre fazem), foi algo emocionante. Emoção maior ainda, foi ver aqueles artistas já idosos, os mesmos que algumas décadas atrás lutaram com força e determinação, através de suas artes, contra a ditadura militar. Outros artistas um pouco mais novos, porém, conscientes de suas atribuições sociais, fizeram coro à beleza das manifestações. Vale ressaltar que os sertanejos, como era esperado, ficaram recolhidos em suas tocas domiciliares, porque são todos bolsonaristas... assumidos ou encurralados em suas declarações de "nem esquerda nem direita".

Depois de anos e anos de ativismo, sempre como cidadão esquerdista, não estive lá. Acompanhei atentamente, interagi, mas as dificuldades de locomoção e permanência por todo o ato, na capital de meu estado, não me permitiram a presença física. Fiquei emocionado e feliz, daqui, torcendo junto com os meus, por um desfecho arrojado, porém pacífico; sem medo, mas com todos os manifestantes conscientes da civilidade própria das esquerdas. E assim foi: sem quebra-quebra, sem agressões físicas proporcionalmente notórias e, com bandeiras imensas, do Brasil... só do Brasil, que é o nosso país, e só a ele devemos nosso patriotismo. 

Lembrei, com forte nostalgia, das minhas atuações ao longo da vida, que chegaram a me render algumas detenções, nos últimos anos da ditadura militar, mesmo eu sendo muito jovem e não tendo fama. Nunca fui preso, mas tive que dar muitas explicações em salas miúdas, escuras e úmidas de unidades policiais cujos agentes nem tinham poderes legais para isso, pois não eram das forças armadas, mas tinham as prerrogarivas da colaboração com a ditadura. Prerrogativas essas, que os entreguistas populares também tinham, pois toda colaboração caía bem, aos olhos dos ditadores.

Hoje um pouco mais pacato, não deixo de me expor, propor e ativizar por onde passo, onde convivo, e nos espaços de mídias ao meu alcance. E apenas para constar, esses espaços de mídias, como as redes sociais, não são lugares seguros, conforme tantos dizem. Somos vigiados de perto por lideranças políticas da direita, órgãos oficiais conservadores, milicianos voluntários, entidades prontas a nos calar, e pelas lideranças ditas cristãs, que são as mais perigosas: que se julgam mais aptas a condenar, cancelar e fazer ficha corrida para linchamentos sociais. E não faltam os pobres coitados tangidos por todas essas lideranças, dispostos a compor multidões ou rebanhos de linchamentos. É uma ditadura mista, empoderada pelo poder legislativo. 

Queria estar lá. Mas estava, de alguma forma. Mesmo assim, lamento, pois a emoção, no meio de todas aquelas pessoas realmente do bem foi muito maior... pessoas tão do bem, que os eventuais bolsonaristas otensivamente presentes não precisaram temer por sua integridade física (única integridade que lhes resta). Salvo exceções, os cidadãos de esquerda não espancam; não ameaçam; não dão tiros. Não usam o nome Deus para cometer e justificar suas atrocidades. Nas manifestações da esquerda, ninguém precisa temer a supressão do seu direito de ir e vir.

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domingo, 21 de setembro de 2025

AOS MEUS USUÁRIOS PONTUAIS

Demétrio Sena - Magé 

Continuem a contar comigo, sempre que for vantajoso não me excluir. Quando a minha presença, mesmo afrontosa, puder lhes deixar "bem na fita". Contem comigo a cada vez que o meu dom, apesar de polêmico, for capaz de somar com relevância, no que me aponte como lamentavelmente inevitável para seus interesses. 

Entendo bem como é desafiador conviver comigo e o quanto pode ser incômodo me deixar fluir e ocupar centímetros do latifúndio cultural que os rodeia. Perigoso, até, para essa insegurança (que não os rodeia, e sim, adentra; mora em seus interstícios... ou chouriços). Por isso, contem comigo, naqueles dias em que lhes for possivel relevar a si mesmos e confessar, como se me fizessem uma caridade, que precisam do quanto eu tenho para oferecer, invariavelmente, como caridade.

Contem comigo, quando contar com outros tiver um preço, ainda que justo. Ou for mais oneroso, nos casos em que até eu, espantosamente, vier a ter um preço. Em última instância, quando não tiverem com quem mais contar. Se não puderem contar nem uns com os outros, não contarei para mais ninguém: contem comigo.

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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

ESCOMBROS

 


DA PALAVRA MEIA BOCA

Demétrio Sena - Magé 


Para mim, não há quase nada que defina mais o ser humano do que a sua palavra. E não me refiro apenas ao cumprimento, e sim, à integralidade com que uma pessoa cumpre a sua palavra: sem truque, sem improviso, sem meio cumprimento; nenhuma surpresa na hora crucial. Uma pessoa pode me frustrar de muitas maneiras e continuar a mesma para mim, depois de alguns entendimentos. Mas a mentira não está incluída nesse pacote. O não cumprir, de forma plena, a palavra dada, quebra uma confiança impossível de colar. 

É com todas as forças que não admito a meia palavra, o meio cumprimento, a tentativa da meia mentira; que tenta equilibrar a meia verdade ou meio verdade, meio mentira. Na tentativa desse equilíbrio, a mentira sempre é mais forte. Basta ser meia, um quarto, quem sabe um décimo, para ser uma mentira inteira, o que não acontece com a verdade, que, ainda que noventa por cento verdade, será mentira. Palavra meia boca, só cumprida em parte, não é cumprida... por mais falácia que use para garantir um pouquinho de honra.

Quem tem um não para dizer a uma proposta minha, uma exigência, um pedido, por favor: faça isso imediata e frontalmente. Saberei respeitar, mesmo que haja um desentendimento momentâneo. Os episódios de algum conflito ou de algum desentendimento por discordância, são superáveis para mim. A palavra escorregadia, não. A mentira, mesmo como meia verdade, não. O truque, para fazer parecer que a palavra foi cumprida, muito menos. Não aja como pessoa mais ou menos honrada. Isso não tem nenhuma honra.
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terça-feira, 16 de setembro de 2025

A FOTOGRAFIA COMO ACADEMICISMO OU INSPIRAÇÃO

Demétrio Sena - Magé 

Quero falar um pouco de fotografia, porque tenho visto muita preocupação de fotógrafos iniciantes com o rigor fotográfico acadêmico. Isso pode ser uma escolha de quem inicia, ou essa pessoa pode ficar à vontade para "viajar" livremente no seu fazer. Existem as fotos técnicas, com uso exato das exigências fotográficas acadêmicas, e as fotos inspiradas; soltas; com seus descuidos e a liberdade poética, que exigem apenas bom foco e criatividade, unidos à fluência e à inspiração. 

Há fotos técnicas e academicamente perfeitas, porém, insossas; previsíveis; perfeitas erm seu rigor, e fotos falhas nestes aspectos, porém, encantadoras, sensíveis, criativas e altamente capazes de emocionar e fazer refletir. É claro que alguns fotógrafos unem técnica, rigor e inspiração, mas não tem jeito; a inspiração sempre acaba comprometida em algum nível, pelo excesso de academicismo que, em compensação, garante prestígio e premiações nos concursos em entidades formais.

Longe de mim, desprestigiar o rigor, a técnica, o preciosismo dos acadêmicos. Suas obras têm valor e público fiel, que não é pouco, mas a fotografia inspirada me toca profundamente; razão pela qual tento praticá-la, sem saber se sou bem sucedido. E como aconteceu com as artes plásticas (quando a fotografia não foi incluída) e as letras, a fotografia inspirada, com o seu despojamento, está vivendo, há tempos, um processo de libertação, como na Semana de Arte Moderna, que promoveu a abolição artística e literária das regras e das obrigações técnicas excessivas.

Para exemplificar, ainda existem o soneto, a trova e outras modalidades poéticas rigorosas, com métricas e rimas, muito praticadas por poetas tradicionalistas... mas a poesia sem o excesso dessas formalidades é cada vez mais valorizada, por sua inspiração e desenvoltura. Temos, na fotografia, cada uma com o seu valor (salientei minha preferência), o que se pode classificar como poesia clássica (que prioriza os métodos) ou livre (que prioriza a inspiração e a criatividade).

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

SOBRE OS OCULTOS E SONSOS

Demétrio Sena - Magé 

De período em período, ser um eleitor de esquerda fecha portas à minha frente, com determinadas pessoas de afeto incerto e personalidade oscilante, pelas quais nutro carinho, respeito e amizade, não importam suas escolhas. Ocorre o mesmo e ao mesmo tempo, por eu ser uma pessoa sem religião; que não acredita em um sobrenatural; não tem um sagrado para chamar de seu. Por algum tempo, essas pessoas até esquecem; convivem bem, concebem que sou uma pessoa normal, com defeitos e virtudes... um ser humano. E me consideram boa pessoa, mesmo eu não sendo o publicitário cidadão exemplar que se auto propaga, diuturnamente, em alto e bom som.

Mas é algo sazonal: de quando em quando essas pessoas recordam ou são alertadas por alguém, sobre a minha condição de cidaddão esquerdista e ateu. Aí não importa que eu seja uma boa pessoa, da mesma forma como não importa que um cidadão direitista e cristão seja má pessoa: violenta, machista, racista, caloteira, julgadora, mentirosa, maledicente, psicopata (...), se estiver dentro do que elas acham perfeitamente contextualizado para sua ideologia e crença... só importam, mesmo, os nossos rótulos. Ser do mal ou do bem, na forma de viver, para elas tanto faz ou tudo bem; basta rezar na mesma cartilha, ter os mesmos gritos de guerra, os mesmos discursos, e as orações alinhadas.

Quando eu nutro afeto por alguém, ou pelo menos alguma amizade, admiração, separo bem essas coisas; a menos que um extremismo bárbaro desse alguém venha me afastar em definitivo. Em definitivo, porque não sou de vai e vem nem de mais ou menos, conforme as ondas ao meu redor. Esquerdista e ateu como eu, ou direitista e cristão, judeu, candomblecista, kardecista (...), o que a pessoa é, na condição notória e comportamental de pessoa, é o quanto conta para mim. O que penso de alguém ou sinto por alguém é pessoal; não corporativo. Não nego o meu afeto, respeito, admiração, nem escondo isso das outras pessoas de minhas relações, que pensam e sentem o contrário. 

Quando essas pessoas (queridas para mim) que ora se lembram da minha condição de esquerdista e ateu voltarem mais uma vez, estarei aqui. O coração deste comunista "sem Deus no coração" estará sempre aberto ao próximo que se tornou distante e agora quer se reaproximar. Só não aceito, em nenhuma hipótese, os afetos ocultos e sonsos; aquelas amizades que tentam ser secretas, de quem tem medo do bicho papão errado.

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domingo, 14 de setembro de 2025

A INTELIGÊNCIA DE QUEM LÊ

Demétrio Sena - Magé 


Ziraldo dizia que ler é melhor do que estudar. Ele não menosprezava o estudo, e sim, mostrava como é importante que os estudos envolvam muita leitura. Estudar e ler se juntam em uma só missão, que é a de formar pessoas capazes de se comunicar, tanto pela escrita quanto pela fala. Em qualquer profissão, precisaremos nos conunicar com desembaraço. É muito importante a escola entender o valor da leitura e, junto a isso, da escrita. E a leitura ensina a escrever, pelo hábito de lidar com as palavras corretas e a concordância, fundamentais na fala e na escrita, sempre presentes nos bons livros. 

É com bons olhos que vejo todo e qualquer esforço da Educação, pública e privada, em qualquer nível, para que os alunos - e alunas - avancem para o ensino médio com bons conhecimentos da própria língua. A nossa realidade precisa ser bem interpretada e isso começa na leitura. Precisa ser bem apresentada, e acontece na escrita. Precisamos escrever bem, porque tudo exige redação: os vestibulares, concursos para empregos, reclamações às autoridades, cartas de amor etc. Estudar é ler, ler é estudar e é assim que saberemos entender quando alguém tenta nos enganar, por exemplo, com um texto complicado. Tudo na vida é uma leitura que precisamos fazer.

Que tal se nós, todos nós, entre outras habilidades, soubéssemos ler e interpretar a nossa realidade? A partir dos livros, aprendemos até a ler a importância histórica de nosso município, a beleza das matas, os mares, rios, cachoeiras, animais, e o quanto importa preservarmos o que temos. Para tudo isso, precisamos entender. Para entendermos, precisamos ter conhecimento. O conhecimento está na leitura. O poder de usar o conhecimento está em sabermos nos expressar corretamente escrevendo, falando e agindo com a inteligência de quem lê.
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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

A HIPOCRISIA DO "NEM UM NEM OUTRO"

Demétrio Sena - Magé 

Concordo com qualquer pessoa que bata na tecla da já batida "polaridade" que o Brasil vive nestes últimos anos. Mas, essa polaridade se tornou inevitável, no momento; aí está. Sendo assim, tenho lado. Sou esquerda; sou povo; sou democracia, com todos os seus efeitos colaterais. Não há como ser neutro nem inventar um leque de opções que, no fim das contas, vai desaguar em um dos pólos; em uma das pontas dessa propalada realidade.

Detecto qualquer bolsonarista enrustido, e até camuflado de "mais ou menos esquerdista", nesses discursos de terceira via. Ora bolas; não existe a terceira via, no cenário atual; pode voltar a existir daqui uns anos, mas, agora, metade ou pouco mais do contingente político extra deste país é ponte para o Bolsonaro; a outra metade ou mais, para o Lula. Quem manda olhar para o lado e procurar outra opção, ou diz que "nenhum dos dois presta", faz isso por um dos dois. Trata-se, quase sempre, de um truque dos bolsonaristas.

Sou esquerda. Neste contexto de polaridade, não tenho como repetir o bordão "nem este nem aquele"; até porque, isso dá munição para sonsos desprovidos de argumento. Logo, sou lulista; em cima do muro não me cai bem; eu cairia do muro. Tenho visto muita gente fazer média com o outro lado, utilizando a puxadinha sutil para sua preferência secreta. Grita pela terceira via, mas é gritante a sua tendência; é notório seu enviesamento; a pregação subliminar que seria veementemente rebatida..

Nem um nem outro" é, majoritariamente, um discurso bolsonarista enrustido, para demover eleitores opostos e fortalecer a esquerda. Quem não quer o retorno da era do "e daí? Eu não sou coveiro", "pintou um clima" (com adolescentes), "o erro da ditadura foi torturar e não matar", "morreram poucos; a PM tinha que ter matado mil", "eu jamais ia estuprar você, porque você não merece", "dei uma fraquejada e veio uma mulher" (...), não pode subir nesse muro.

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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

SOBRE A IDIOTICE DOS OUTROS

Demétrio Sena - Magé 

(Para que o texto seja entendido, preciso dizer: é a expansão de um comentário que iniciei, sobre um livro divulgado nas redes sociais. Achei ético propor uma reflexão geral, sem expor o autor, no seu espaço, a possíveis ataques animados por mim).

Acho que todo idiota se considera o único não idiota em toda a face da terra. E toda a face da terra está cheia de gente similar, que se esbarra em cada centímetro quadrado, julgando ser um esperto que deu de cara com um novo idiota. Todo idiota está em qualquer lado, em qualquer ponto cardeal, extremando a sua posição. Outros, estão no centro, fazendo o que parece impossível, que é extremar o centro ou ser extremamente moderado; radicalmente chuchu.

Temo que eu seja mais um idiota que propaga o idiotismo alheio, mas achei idiota um livro que pretende se apresentar como diferentão, com capa produzida por inteligência artificial. A meu ver, a inteligência artificial é fantástica como recurso de informação, pesquisa e projeto, mas não como dispositivo de criatividade. Plagiar alguém específico já é desprezível. Pedir aos algoritmos para produzirem um super plágio, em vez de usar o próprio talento ou pelo menos contratar o de alguém especifico não depõe a favor de um livro que chama o mundo de idiota e se põe de fora.

Considero idiota, muita gente de qualquer grupo, inclusive o meu, e repito: às vezes temo ser mais um. Mas, é natural ter escolhido estar onde estou, pois me identifiquei com ideais que acho relevantes. E que acolhem a todos, inclusive alguns idiotas. Agora; idiota extremado é um autor de um livro que se fetaliza em uma bolha desconfortavelmente confortável, tão somente para não ter lado e classificar como idiotas, todos os componentes de todos os lados.

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terça-feira, 2 de setembro de 2025

CLAMOR PELA IMPUNIDADE

Demétrio Sena - Magé 

Amantísssimo Pai:

Estamos aqui, com toda a humilde arrogância do nosso coração, para pedir a impunidade. Impunidade, Senhor, para o nosso líder maior, sem desfazer do Senhor. Ele cometeu, sim, muitos crimes, mas vai à igreja e fala direto, o seu nome! Tá certo; é g&nocida, porém, igual ao Rei Davi, que foi segundo o Seu Coração! É como Josué, que matou populações inteiras com o seu exército, mas nunca deixou de orar, louvar e dizer muitas palavras bonitas para o Senhor!  É ou não é?

Queremos pedir ainda, Senhor; que haja Impunidade pro pessoal que botou pra quebrar naquele oito de janeiro! Abençoe as marretas e os porretes que puseram abaixo os vidros do Alvorada! Abençoe também o intestino daquela senhora corajosa que fez cocô em cadeia nacional; que fé, Senhor! Fé, dor, em nome de Deus, da pátria e da família! Que exemplo de moral e bons costumes! Dê a ela e a todos os quebradores que os mundanos chamam de vândalos, a impunidade, o furor e a força para muito mais!

Sobre tudo, Amantíssimo Pai; liberte o nosso Messias! Ele é muito melhor do que aquele filho que o Senhor mandou para nós há dois mil e tantos anos! Aquele era mimado, com aquelas histórias de amor ao próximo, fazer o bem a todos, defender mulheres; inventar historinhas que viraram essa praga de direitos humanos. Que coisa triste, Senhor, ter que respeitar e amar pessoas diferentes de nós; de outras etnias; religiões; orientações. É tão bom meter o sarrafo em quem discorda e reza em outras cartilhas!

Prometemos, Senhor Amado, que vai rolar um dízimo gordo, se o Senhor abençoar a todos os patriotas quebradores de patrimônios alheios, especialmente públicos e tramadores de homicídios, com plena impunidade. Principalmente aquele que deixou, de propósito, milhares de pessoas a mais do que morreriam, morrerem na pandemia, e se aproveitou quando "rolou um clima" com adolescentes. Ele também elogiou torturadores, tramou ass@ssinatos de opositores, mas é cristão, Senhor; é crente!

Pedimos e agradecemos, ó Supremo do Tribunal Divino! Acreditamos na impunidade; nas costas quentes com o Senhor. Se rolar, Amantíssimo Pai; também gritaremos para sempre que O Senhor é Fortão, Bonitão, Poderoso e outros elogios que o Senhor exigir! E ainda prometemos não contar nada para o seu filhinho mimado, para ele não encher a Vossa Santa Paciência com aquelas ideias de que o Brasil precisa se livrar das ameaças da ditadura e do extremismo.

Amém; Senhor; sem confundir amém com amem.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CULINÁRIA ALOPÁTICA

Demétrio Sena - Magé 


Quando vejo duas pessoas que tomam diariamente seus "tarjas pretas" travarem aquelas conversas sobre as maravilhas dos remédios que elas tomam, o meu pensamento viaja. De um lado, esta pessoa informa que o Losartana é ótimo; do outro, o interlocutor garante que o Captopril é um remédio sem igual; que o outro precisa experimentar. Ou se aquela elogia intensamente o Diazepam, esta quase grita que bom mesmo é o Rosuvastatina e ouve de volta que deveria experimentar o Alprazolam.

Em meu silêncio, chego a imaginar que o Losartana tenha sabor de frango assado e a fórmula do Captopril tenha bacon. Que o Diazepam seja temperado com alho, cebola e manjericão... o Rosuvastatina seja crocante, caprichado na fritura... e o Alprazolan, uma sobremesa bem cremosa, com cobertura de chantili. Em resumo, tais conversas me deixam com água na boca. Minha vontade é de procurar um bom restaurante, para me fartar de todas essas delícias da culinária médica alopática.

Entretanto, eu sei muito bem que o pecado capital da gula pode me causar alguns castigos traiçoeiros e devastadores. Então, prefiro me conter e ficar nos meus pecados periféricos da gastronomia modesta, com refeições e sobremesas bem mais leves, como Luftal, Dipirona, um sal de frutas... ou até um cardápio mais natural, à base de boldo, cana-do-brejo, canela-de-velho, quebra-pedra e outras delícias. Acho que, bom mesmo, é tentar não ouvir essas conversas que provocam o meu apetite.
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