Demétrio Sena - Magé
As manifestações do povo brasileiro contra a chamada PEC da bandidagem (blindagem dos deputados federais, com a decisão de seus próprios destinos, caso cometam crimes, o que sempre fazem), foi algo emocionante. Emoção maior ainda, foi ver aqueles artistas já idosos, os mesmos que algumas décadas atrás lutaram com força e determinação, através de suas artes, contra a ditadura militar. Outros artistas um pouco mais novos, porém, conscientes de suas atribuições sociais, fizeram coro à beleza das manifestações. Vale ressaltar que os sertanejos, como era esperado, ficaram recolhidos em suas tocas domiciliares, porque são todos bolsonaristas... assumidos ou encurralados em suas declarações de "nem esquerda nem direita".
Depois de anos e anos de ativismo, sempre como cidadão esquerdista, não estive lá. Acompanhei atentamente, interagi, mas as dificuldades de locomoção e permanência por todo o ato, na capital de meu estado, não me permitiram a presença física. Fiquei emocionado e feliz, daqui, torcendo junto com os meus, por um desfecho arrojado, porém pacífico; sem medo, mas com todos os manifestantes conscientes da civilidade própria das esquerdas. E assim foi: sem quebra-quebra, sem agressões físicas proporcionalmente notórias e, com bandeiras imensas, do Brasil... só do Brasil, que é o nosso país, e só a ele devemos nosso patriotismo.
Lembrei, com forte nostalgia, das minhas atuações ao longo da vida, que chegaram a me render algumas detenções, nos últimos anos da ditadura militar, mesmo eu sendo muito jovem e não tendo fama. Nunca fui preso, mas tive que dar muitas explicações em salas miúdas, escuras e úmidas de unidades policiais cujos agentes nem tinham poderes legais para isso, pois não eram das forças armadas, mas tinham as prerrogarivas da colaboração com a ditadura. Prerrogativas essas, que os entreguistas populares também tinham, pois toda colaboração caía bem, aos olhos dos ditadores.
Hoje um pouco mais pacato, não deixo de me expor, propor e ativizar por onde passo, onde convivo, e nos espaços de mídias ao meu alcance. E apenas para constar, esses espaços de mídias, como as redes sociais, não são lugares seguros, conforme tantos dizem. Somos vigiados de perto por lideranças políticas da direita, órgãos oficiais conservadores, milicianos voluntários, entidades prontas a nos calar, e pelas lideranças ditas cristãs, que são as mais perigosas: que se julgam mais aptas a condenar, cancelar e fazer ficha corrida para linchamentos sociais. E não faltam os pobres coitados tangidos por todas essas lideranças, dispostos a compor multidões ou rebanhos de linchamentos. É uma ditadura mista, empoderada pelo poder legislativo.
Queria estar lá. Mas estava, de alguma forma. Mesmo assim, lamento, pois a emoção, no meio de todas aquelas pessoas realmente do bem foi muito maior... pessoas tão do bem, que os eventuais bolsonaristas otensivamente presentes não precisaram temer por sua integridade física (única integridade que lhes resta). Salvo exceções, os cidadãos de esquerda não espancam; não ameaçam; não dão tiros. Não usam o nome Deus para cometer e justificar suas atrocidades. Nas manifestações da esquerda, ninguém precisa temer a supressão do seu direito de ir e vir.
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Respeite autorias. É lei
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