segunda-feira, 21 de novembro de 2011

INFERNO TUTELAR


Duque de Caxias-RJ, maio de 2007.

Dona Jecilda foi ao conselho tutelar, depois de muitas recomendações. Outra mãe cujo filho fora também maltratado na escola, disse que lá, sim. Tudo seria resolvido bem depressa. Venceu a dúvida, o medo, a própria vergonha. Foi.
Descobriu que a relutância de sempre tinha sua razão de ser, tão logo subiu as escadarias repletas de gente lúgubre, sofrida, cansada, sem dignidade. Pessoas acostumadas aos maus tratos, à longa espera de até oito horas naquele beco sombrio ou na salinha superlotada no segundo piso, onde um  aparelho de tevê é visto sem ser ouvido. Ali, uma "decepcionista" de meia-idade atende com grosseria, não tolera ter de prestar informações e sempre que vai de uma sala para outra, bate as portas com força e impaciência, e pisa duro. Quase trota.
Os conselheiros, patéticos e desinformados. Arrogantes e indiferentes. Chamam os reclamantes como se eles fôssem réus confessos, condenados por crimes merecedores da mais evidente repugnância. Outros funcionários "passeiam" pelo ambiente com caras de "donos-do-pedaço", e um guarda municipal ostenta ares ameaçadores a cada vez que alguém ensaia não gostar do tratamento.
Gente simples vai ali. Gente que desconhece os seus direitos e pensa que pede favores... Esmolas judiciais... Migalhas de cidadania. Quando seus filhos são maltratados em outros órgãos e instituições, essa gente se dispõe a ser maltratada no conselho mais cutelar do que tutelar, propriamente.
De repente Dona Jecilda quer saber quanto tempo algumas pessoas tentam resolver seus casos simples; de fácil solução: Seis meses... Um ano... Dos casos um pouco mais complicados, nem se fale: O tempo extrapola o suportável. Aquela agonia é quase diária. É para quem não tem emprego nem afazeres domésticos, podendo então se abandonar naquele suplício constrangedor. 
Desiste. É melhor agir por conta própria, na resolução do problema. Em última instância, tirar o filho da escola e tentar outra.
Diria que quem orientou Dona Jecilda a procurar aquele órgão tem algo secreto contra ela. Dar semelhante sugestão é como mandar ao inferno alguém de quem não se goste.

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