sábado, 19 de janeiro de 2013

CONTRACURRÍCULO

Tome muito cuidado ao apresentar seu currículo. Você corre o risco de fazê-lo com tanta pompa e circunstância que tudo o mais, incluindo você, poderá se tornar obsoleto. Pelo menos se comparado ao currículo.
A obra-prima de seus feitos, sejam eles artísticos ou de outra natureza, tem que ser um desses feitos. Talvez um feito futuro. Essa obra não pode ser simplesmente a exposição do que você já fez, envolta numa embalagem de luxo em forma de palavras ao vento, escritas ou oralizadas.
Seria o caso daquela pintura, de pouco estilo ou sentido, mas cuja moldura encanta. Chama toda a atenção para si, porque seus contornos, texturas e cromos foram muito mais trabalhados do que o tema da tela.
Os grandes currículos têm como atribuição impor nossa imagem. Raptar atenções. Intimidar os gostos e opiniões contrários, para que não se manifestem. Mas têm o efeito colateral de jamais deixarem surpreender, porque todos esperam mais. O máximo nunca é o máximo para os outros, porque se trata de quem pode além, talvez tudo, e qualquer coisa menor que tudo será pouco.
O indivíduo de currículo menor terá sempre a vantagem de se superar. Ele tem maior chance de causar encanto, espanto, estupefação, porque ninguém espera isso tudo. Todos à volta estão preparados  para o trivial, de forma que a superação se faz notada com grande facilidade, justamente por ser vista como superação.
Cuidado. Seu currículo pode ser maior do que sua história. Tão maior, que poderá engoli-lo. Não deixá-lo vir à tona. Ganhar vida própria e se tornar mais importante, admirado e necessário do que você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário