quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

UMA CRÔNICA EM 3D


Domingo fui ao cinema com a Nathalia, o Luís Fernando e a Eliana. Fomos ver um desenho animado em 3d. Uma história fantástica de videogames cujos personagens trocam de jogos como se tivessem, secretamente, vida e vontade próprias. Mais fantástico ainda, foi assistir à história vendo aquelas imagens gigantescas como se estivessem fora da tela e a menos de um centímetro de meus olhos. Muitas vezes, como se eu estivesse no cenário e participasse da cena. Sei que pra muita gente é comum essa tecnologia, mas não pra mim. Ela continua me causando espanto.
Em dado momento, por mais fantástica e surpreendente que a história fosse, me desliguei de tudo e comecei a delirar. Imaginei-me roubando os óculos do cinema, para tentar ver a vida em 3d. Puxar da memória e da imaginação, vivências passadas e pessoas queridas. Talvez ver o sol, ver a lua, estrelas e astros em 3d, para me sentir no espaço sideral. Atrair as montanhas, a extensão do mar e as flores raras. Colar nos olhos, personagens deslumbrantes que parecem sempre longínquos porque moram nos filmes; nas fábulas dos livros; nas revistas e anúncios televisivos de produtos ambicionados.
No fim das contas, achei melhor não roubar os óculos. O que me deteve, além da consciência dos meus delírios, não foi o temor de ser perseguido e humilhado. Nem mesmo a ideia da indignação de amigos e familiares. Foi um medo mais profundo e subjetivo: não queria trazer aos olhos o futuro e suas surpresas. É que o futuro pode ser bom, e assim o sonhamos, mas ainda que o seja, reserva muitas perdas; muitos adeuses; muitos fins. Guarda inúmeras angústias, dores e pesares que virão em seu tempo, mas as pessoas que podem antevê-los começam logo a sentir. Sofrem por antecipação.
Quem tem o dom de saber o futuro, vê-lo bem perto quando ainda é distante, carrega na flor dos olhos tragédias, despedidas e fechamentos de ciclos. Pode se alegrar antecipadamente com a possível visão de um mundo novo e melhor, mas também se aterrorizar com os eventos escatológicos do velho mundo. Saber de tudo e não poder fazer nada. Calar e sentir culpa, vendo a ignorância maciça, ou anunciar e ser visto, reprimido e caçado como louco.
Agora posso entender os videntes. Eles nada mais são do que pessoas dotadas de visão em 3d, pelo que pagam caro... muito caro... bem mais do que o preço absurdo que já se paga por uma sessão de cinema no shopping, onde as pessoas valem o que podem consumir.

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