quinta-feira, 25 de abril de 2013

APAIXONADO, CEGO, SURDO E SEM NOÇÃO

- Alô.
- Oi, meu amor. Só agora consegui um tempo. Como você está? Tudo bem?
- Bem.
- Que bom, querida. Estou louco de saudade. Não vejo a hora de voltar para os seus braços. De ficar juntinho de você. É muito ruim ficarmos longe um do outro; né? Parece que o tempo não passa.
- É.
- Você está se distraindo, meu bem? Fazendo as coisas de que gosta? Espantando a solidão?
- Tô.
- Olhe, amor; não se preocupe. Em poucos dias meu trabalho aqui termina, e corro pra você.
- ...
- Estou trabalhando muito, mas é por nós. Para garantir nosso futuro. E é por pouco tempo. Logo a gente se casa com tudo o que tem direito, e passo a trabalhar pertinho.
- Tá.
- Bom; agora preciso ir. Queria ficar aqui, falando com você... passar a tarde... mas tenho que voltar ao trabalho. Ligo à noitinha; tudo bem?
- Sim.
- Até logo, minha vida...
- Té.
- Eu não vivo sem você!
- Eu também.
- Faço qualquer coisa por você!
- Eu também.
- Eu te amo mais que tudo!
- Eu também.
Cego, surdo e sem noção, de tanto amor, Maurício põe o aparelho no gancho e sai cantarolando... feliz da vida com os monossílabos e a máxima final de Anália. O "eu também" que a namorada fria e distante se permitiu responder.
O que Maurício não entendeu, e talvez nunca entenda, é que as últimas palavras de Anália, embora verdadeiras, não justificam seu entusiasmo.
O que a moça lhe disse, nas entrelinhas, é que também não vive sem ela mesma...
... Também faz qualquer coisa por si mesma...
... Também se ama mais que tudo.

Um comentário:

  1. Um amigo disse:
    Não interaja com as reticências ou os monossílabos de quem quer que seja. Reticências e monossílabos não são respostas ou interações... são a tentativa de um basta.

    rsss
    e é bem assim, um finge que diz a verdade absoluta e o outro finge que acredita.

    beijos
    Joelma

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