quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A PRAGA DO ASNO

Moro neste recanto que nem sei
Como classificar, porque no fundo
Mais parece um apêndice do mundo;
Uma íngua sem ordem; regra; lei...


Populacho modesto, aconchegante
Que trabalha com fé, honestidade,
Mas parece não ter capacidade
Pra votar; eleger representante...


Nunca houve um prefeito nem edil
Que tivesse respeito pelo povo;
Atuasse de jeito inverso e novo;
Não fizesse da terra o seu redil...


O menos preguiçoso é incapaz,
Quem se mostra capaz já é ladrão,
Quando morre um maldito fica o grão;
A cidade não cresce nem tem paz...


Muitos dizem que tudo foi agouro
Dum asno dos tempos coloniais,
Que morreu a serviço dos feudais;
Sob carga excessiva de tesouro...


Era bicho pensante; animal raro
E nutria rancor; a sua mente
Deplorava o lugar, aquela gente
Com espírito insano; mau; avaro...


Tinha igual rejeição à covardia
Dos mais pobres, os simples, os escravos
Entre os quais nunca viu heróis ou bravos;
Era um povo que a nada reagia...


Foi por isso que o asno, já no fim,
Nos momentos finais antes da morte
Rogou praga, ditando a triste sorte
De que a coisa seria sempre assim...


... Foi-se o tempo, até hoje se duvida
Que um pequeno quadrúpede orelhudo
Possa ter influência sobre tudo
Nesta pobre cidade mal regida...


Sei, porém que a verdade bem notória
Desafia o passar de cada ano;
A população só tem perda e dano;
Seus feudais acumulam bens e glória...


Sei também que mudamos o destino
Ao nutrirmos amor por nossas plagas;
Que o povo rompe maldições ou pragas
Quando não é nem elege cretino...


                     Magé - RJ, junho de 2011.

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