sexta-feira, 3 de agosto de 2012

APARÊNCIA E MERCADO DE TRABALHO


Faz tempo que os anúncios de vagas para empregos não podem conter a ressalva de que os candidatos devem ter boa aparência. Essa foi uma prática perniciosa e longa do preconceito empresarial de um país que nunca esteve entre os primeiros a extinguir as aberrações sociais, a exemplo da escravidão e da ditadura. Na verdade, o Brasil foi o último país a acabar com a escravidão. Isto não quer dizer que o preconceito racista foi abolido naquela época ou em tempo algum, neste país. Também sabemos que, se não há escravidão oficial, ainda hoje existe a escravidão velada, oficiosa.
Voltemos ao preconceito empresarial que já não pode se manifestar nas melhores ofertas de trabalho. Não pode, mas ainda o faz, quando exige foto nos currículos. Para tais empresários a experiência, o grau de instrução ou nível cultural nada contam, se quem pleiteia um emprego  não corresponde aos seus padrões de aparência física. Ou não tem "boa aparência". E assim como antes, a tal de boa aparência quase sempre tem a ver com etnia. Significa, em primeira instância, que o candidato não é preto. Algumas vezes pode ser pardo, moreno - desde que "bonito" - e até mulato, se tiver traços finos, mas não preto. Cumprido esse quesito, estabelecem-se as outras formas de filtragem por aparência.
Em suma, nas empresas preconceituosas, quem tem aparência em desvantagem sequer terá oportunidade para provar seu talento, suas habilidades e qualificações pessoais, pois a foto no currículo já o impedirá de chegar à entrevista. Isso quer dizer que os empregadores mantêm a prática perniciosa, mas de forma velada e até bem mais confortável para eles, pois nem correm o risco de um candidato fora de seus padrões físicos acreditar-se habilitado e se apresentar, com toda a sua inocência. 
Com todas as leis que tornaram tudo mais suportável, ainda estamos longe de nos livrar do preconceito. Especialmente no quesito mercado de trabalho. Logicamente, refiro-me às oportunidades de nível médio para cima, pois as nossas elites ainda tentam fazer com que os seus não escolhidos se contentem com os trabalhos duros, braçais, não visíveis e de baixa compensação financeira. Os negros e outras vítimas históricas de preconceito, que alcançaram posições mais sólidas, praticamente arrombaram as portas da sociedade para conquistar seus espaços merecidos, 

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