segunda-feira, 12 de novembro de 2012

AS FACES DO POETA


Um poeta não tem que ser o espelho dos próprios poemas. Quem o vê dessa forma está enganado. Afinal, se o poeta expõe seus sentimentos, também expõe os sentimentos do mundo. São muitas as vezes em que só ama para falar de amor. Terminados os versos, o amor também acaba. O mesmo acontece com a raiva, o medo, as mais diferentes emoções. Os mais diversos sentimentos.
É claro que no contexto geral, todo poeta é sincero na sua interpretação do mundo, a sociedade, a vida e as abstrações do cosmo. Às vezes equivocado, mas invariavelmente sincero. Ele só não é o insondável sótão dos sentimentos, nuances, desempenhos, defeitos, virtudes e contextos de tudo e todos. Não é tudo e todos. É só um poeta.
Sendo assim, não cobre deste poeta um comportamento coerente com sua escrita. Nem exija uma escrita constante no caráter; poema único, feito sob vários ângulos. Nunca o crucifique pelos versos tristes de hoje, os alegres de amanhã; a paixão decantada ontem, a frieza exposta hoje; sua visão sensível da humanidade agora, versus a crueldade com que a descreverá depois. Leia sempre o poema, sem qualquer tentativa de ler o poeta.
Visto por esse prisma compreensivo e generoso, finamente o poeta será uma pessoa. Descoberto como tal, terá sua personalidade acolhida com todos os afetos dedicados às pessoas. Aos seres humanos. Aos que podem amar e ser amados. Dar e receber. Ter amigos, cônjuges, colegas, com direito à normalidade. À socialização sem melindres.
E ninguém me cobre amanhã, um texto que ratifique o texto presente. Pode ser que a prosa deste momento não seja exatamente uma; uma dissertação. Talvez seja um poema em prosa e nada mais. Leia meus escritos, não a mim, sabedor de que para ambos os lados não há gabarito. Apenas a exteriorização do que não sei dizer... Só escrever.

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