quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A MÃE QUE TODOS QUERIAM TER


Não bastassem os nove filhos que ela criou sozinha, mais o neto criado como tal, nossa mãe sempre foi assediada por candidatos a filhos. Nenhum interesse havia – nem podia ser diferente – no conforto material. Até nos tornarmos adultos, morávamos em casinhas precárias, alugadas, e dormíamos amontoados em esteiras. Não tínhamos televisor, geladeira, estofado, aparelho de som. Quanto à comida, muitas vezes não dava para os de sangue. Muito menos para os que chegavam do mundo.
Tinham mesmo admiração, carinho, desejo de obter um farelo do amor infinito que aquela mulher pequenina, corajosa e determinada sempre dedicou aos filhos hoje criados e relativamente bem sucedidos. Um amor que jamais a deixou esmorecer, muito menos aceitar as sugestões persistentes – quase ordens – de vizinhos e parentalha, para nos entregar a instituições que na época chamavam colégios internos.
Eram muitos os meninos que chegavam às nossas casas e não queriam sair. Passavam dias, em alguns casos, meses. O Luís Cláudio, a quem chamamos Dinho, e até hoje convive conosco, é um capítulo à parte: Ainda bem moço, por muitos anos morou bem próximo às casinhas de vilas que ocupamos em um mesmo bairro, e adotou a seguinte rotina: Sempre que voltava do trabalho, passava direto por sua casa bem mais confortável e se instalava em nossa casa: Sentava numa cadeira e ali ficava durante horas. Depois nossa mãe chegava, conversava com ele, dava um cafezinho, nós também chegávamos de nossas virações, e sempre tivemos como temos ainda, muito carinho por ele.
Outro capítulo intrigante foi o Tião Mendes: Um adolescente muito alto e desengonçado, com um vozeirão invejável. Cantava e compunha, morava sozinho numa casinha também de vila e fazia mil virações. Uma delas, invadir pequenos terrenos baldios, capiná-los e transformar em espaços onde cantava e fazia shows nos quais imitava vozes de desenhos animados, para plateias infantis. Conhecemos o Tião em frente à vila onde morava no bairro Campos Elíseos, em Duque de Caxias. Na época, também morávamos nesse bairro. Paramos, conversamos um pouco, ele nos seguiu até nossa casa e só saiu de lá dois anos depois, aos prantos, pois surgira uma chance modesta em São Paulo.  
Muitos outros vêm à mente, mas vale destacar ainda o Elias e a Marina, primos bem distantes, além do Francisco e o Edson. Também houve aqueles que trouxeram problemas, por isso é melhor preservar seus nomes. Afinal, no meio de tantos, é claro que surgiriam os aproveitadores, como é claro que tratamos logo de pô-los para fora.
O fato é que sempre tivemos que dividir nossa mãe. Foi o preço que pagamos por sermos filhos de uma mulher especial; singular. Da mãe que todos queriam ter. Sempre houve quem quisesse tirar uma “casquinha” da única riqueza que nunca nos faltou: O amor incondicional, intransigente, feroz, infinito e muitas vezes insano de nossa mãe.

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