quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CAMUFLAGEM SOCIAL


Não é de hoje que os ricos insuflam nos mais pobres, nos excluídos, o pretenso orgulho dessa condição. Usam sempre a seu favor o otimismo dos que nada têm, a solidariedade corrente nos becos, nas favelas  e no campo; o sorriso farto dos desdentados e a resignação dos que morrem à míngua. Ricos e poderosos não querem concorrência. Se os pobres enriquecem, se o povo ganha dignidade com o acesso irrestrito à educação e à cultura, fica muito mais difícil conquistar fama, poder e riqueza em cima de alguém. Afinal, quem precisará de cesta básica? Quem fará fila nos centros sociais? Quem será obrigado a pagar  “favores” com votos?
Como a miséria bem explorada é boa para políticos, escritores, dramaturgos, artistas plásticos, grandes empresários, ONGS e muitos líderes religiosos, ela é mantida a todo o custo pelos que se beneficiam de sua existência. Os que vivem do infortúnio social alheio primam por convencer os miseráveis de que a miséria é, de certa forma, uma virtude. Incutem nas cabeças confusas pela fome e a desinformação, que os pobres ganham muita coisa de muita gente. Se progredirem, deixam de ganhar. O desejo de crescer e gerir o próprio destino acaba sendo tachado como ingratidão do pobre.
São realmente bonitos os poemas e as crônicas que mostram como a felicidade, a alegria, a resignação e a fé dos pobres estão lá, fora do alcance dos filhos dos abastados. Entretanto, tenho certeza de que no fundo, os indigentes ou simplesmente muito pobres gostariam de ser infelizes como os bem servidos fingem ser. Eles invejam, e com razão, as enxaquecas, crises existenciais, estafas e tiques nervosos dos hipócritas que os enaltecem. Gostariam também de chorar de barriga cheia, como todos os dias veem faze-lo, pessoas de vida ganha. Tão ganha, que sobra tempo a perder com discursos vazios e vencidos faz tempo.
Duvido muito que os contratantes e conferencistas contratados por departamentos de recursos humanos para melhorar a autoestima dos trabalhadores mais sofridos, injustiçados e mal pagos tenham sincero “olho gordo” na alegria e na bênção indizíveis dos ícones providenciais de suas vãs filosofias: Os miseráveis. Os protagonistas do inferno que certos talentos orais, artísticos, literários, políticos e sociais bem resolvidos insistem em pintar como doce ventura.

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