segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A DITADURA E AS COXINHAS


Fui desses adolescentes que atormentam as namoradas esguias, por uma transadinha. Não conseguindo, apelam forjando expressões humildes e desesperadas que abrigam argumentos como: "Então me deixe botar nas coxinhas; por favor... Só nas coxinhas!". Aí as meninas levantavam as saias - quase sempre eram saias -, para serem lambuzadas pelo prazer que não sentiam. Algumas vezes minha consciência gritou, sem que minha voz confessasse o peso. Com o tempo, acabava gostando da situação. Eu tinha o meu prazer, elas sabiam que não teriam o seu e se resignavam. Era cômodo para mim, porque não envolvia perigo e responsabilidade. Não haveria uma gravidez me obrigando a ser homem, nem o meu machismo teria de ser provado num desempenho que levasse à satisfação total da parceira. Sequer havia parceira. Havia coxinhas.
A relação entre povo e poder público, depois da ditadura militar, é um tanto parecida. Quando perceberam que a repressão aberta já os expunha ao perigo e exigia grandes responsabilidades, os políticos brasileiros acabaram recuando. O que pareceu uma vitória de artistas, universitários e intelectuais engajados na luta pela democracia foi apenas uma retirada estratégica dos ditadores. A ditadura estava gerando filhos rebeldes . Dando fama, fortuna e prestígio a opositores ousados e criativos. Tinha crises de impotência e já não se auto-explicava perante o mundo, por causa da truculência com que tangia o país. Tangia mesmo. Não regia.
Ditadores não querem dar prazer. Apenas tê-lo. Como descobriram que a democracia é mais eficiente neste quesito, resolveram travesti-la. Governos democráticos não precisam parecer super-homens, deixam o povo e seus líderes latirem à vontade e tocam suas carruagens de mentiras, ganância e corrupção. Eles matam sorrindo, poetizam a fome, a vilolência urbana, a falta de cultura e educação. Regimes democráticos não levantam Chicos, Caetanos, Vandrés, Brizolas e Gabeiras, e ainda conseguem amansar os "companheiros" menos convictos... os Luízes Inácios, que só assim chegam ao trono, dispostos a manter a ditadura risonha e sem farda.
Eis aí a democracia: É a ditadura que bota nas coxinhas, lambuzando a sociedade passiva que não goza, não sente nada de bom e não tem como lutar contra o que não existe. Os ditadores têm ponto fraco: Você os enfurece, fá-los perder a compostura e deflagrar sua truculência, mostrando quem são. Já os ditos democráticos, só matando: Não têm vergonha na cara; nada os atinge. A justiça internacional não os vê. Só as nossas coxinhas os conhecem... não. Não apenas as coxinhas. Também os conhecem nossos estômagos vazios, nossa indignação inofensiva, nosso temor do futuro e tudo o mais que não toca, não sensibiliza nem acorda suas consciências... que consciências?

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