sábado, 18 de fevereiro de 2012

NATUREZA INSUSTENTÁVEL


Os anos de progresso irregular e insustentável tornaram a natureza também insustentável.  Não que ela seja cruel, como reza a superstição simplista de quem atribui à natureza os sentimentos humanos que a devastaram e seguem fazendo o mesmo sem pensar nas conseqüências. Mas, porque assim como o homem, ela precisa se manter. Reagir e sobreviver às agressões que a extinguem de todas as formas há muito tempo, apesar de seus constantes e evidentes pedidos de socorro.
Neste momento é Santa Catarina que sofre tragicamente os efeitos da ação humana. Mas o Brasil e o mundo estão sofrendo, a cada momento, esses mesmos efeitos de formas diversas, previsíveis e imprevisíveis. Já não podemos dizer, como sempre antes, que o Brasil é um país abençoado por não ter vulcões ativos, terremotos e outros fenômenos desastrosos que assolam grande parte do planeta, pois agora estamos em igualdade. A diferença entre nossos desastres ambientais e os de sempre em países como o Japão está no fato de que os nossos desastres são provocados por nós. Não por acidentes naturais e posições geográficas. Nossas secas e enchentes hoje matam quase tanto quanto os vulcões, os terremotos, maremotos e outros fenômenos comuns desses países. 
É claro que o mundo inteiro passa a sofrer de outras síndromes além das que sempre o vitimaram. Todo o mundo polui. Todo o mundo não sabe mais o que fazer com o lixo, o acúmulo de resíduos industriais, o excesso de fumaça lançada no ar. Aliás, sabe, mas não quer pagar o preço inicial da redução da poluição, que é o redirecionamento de seus lucros. A redução momentânea desses lucros. O reinvestimento na contramão de tudo o que se fez até agora, que não será possível de um dia para o outro.
Ainda existe o problema da falta de educação ambiental. Da educação social. Humana. Popular. O povo não acredita nos avisos escatológicos da natureza.  Segue afrontando-a. Com isso, pagam os que não têm consciência e os poucos que a têm. Santa Catarina sofre, sofremos todos com aquela gente, e cada estado deste e dos demais países do globo vai tendo aos poucos, e abruptamente a sua cota de sofrimento direto. 
Pena que parece não haver nada capaz de nos conscientizar das razões de tanta desgraça. Quando a bonança volta, continuamos com os nossos hábitos insustentáveis de ferir o planeta com o lixo caseiro e industrial. Com o excesso de fumaça no ar. De esgoto e óleo nos rios e mares. A caça predatória. O desrespeito às diversas formas de vida e a não reciclagem a não ser por arte e glamur. O vício de desmatar, assorear os rios, desnudar as encostas. Empresas, pessoas, todos unidos na destruição, em nome do lucro, da diversão e do desleixo, a falta de senso crítico e amor pelo meio em que vivemos.
Torcemos pela recuperação de Santa Catarina. Pelo fim do drama daquele povo. São nossos irmãos sofrendo, o que nos leva ao sofrimento. Mas torcemos também pela conscientização de todos nós. Pelo entendimento necessário, emergencial, de que a natureza nos pede uma trégua, disposta a fazer o mesmo. Ela não está nos assassinando. É o  Preço natural dos nossos atos que, estes sim, assassinam a natureza. 

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