terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A PRAGA DO RACISMO


Quando me propus a aplicar num determinado colégio, estudos sobre cultura africana, conforme determina lei recente, a diretora da unidade reagiu com espanto: "Vai falar de macumba?". Expliquei que sim. Que falaria de umbanda, quimbanda, candomblé e todas as ramificações religiosas nascidas ou não na África, mas de certa forma oriundas de lá. Não é necessário dizer que foi difícil convencê-la de que não poderia falar de África pulando seu aspecto mais marcante e desafiador, que é justamente a religiosidade. Seria como falar de Roma sem passar pelo catolicismo; do Japão, omitindo Buda, ou da Índia, sem lembrar de Gandhi. 
Fiquei também assustado. Não consigo entender o fato de estarmos no século XXI sem termos avançado nessa questão. As escolas, que deveriam ser núcleos de cidadania, portando-se como principais agentes da extinção dessa praga social que é o preconceito, estão disseminando-o mais e mais. Não bastasse a intolerância racial, o fanatismo cristão que assola a nossa sociedade estabelece uma guerra fria pela qual segrega, humilha, exclui. E esse preconceito é tão evidente, que as direções escolares querem atender à lei apenas em parte, fazendo um trabalho superficial, de fachada, de modo a não permitir que os jovens "corram o risco" de se encantar com a riqueza cultural, histórica e mesmo religiosa de nossos legítimos antepassados. Em outras palavras, querem fraudar.
Enquanto isto ocorre no Brasil, os estados Unidos acabam de nos dar uma grande lição, elegendo seu primeiro presidente negro. Os Estados Unidos não têm uma população negra proporcionalmente numerosa como a nossa. Os negros daquele país correspondem a mais ou menos 13% da população. E quem não é negro, nos estados Unidos, é branco. Não existe uma mistura de etnias tão acentuada como no Brasil. E se muitos disserem que o brasileiro elegeu um cidadão pardo, "portanto, negro", continuarei dizendo que não elegeu um negro dentro da concepção exata, de negro, que permeia nosso preconceito: Um preto.
Digo também que não importa o que há "por trás" da eleição de Obama, no que tange os bastidores da política do país. Falo do povo, do sentimento popular, da resposta que pretendeu (e deu, de fato) nas eleições, dizendo que está cansado de acreditar nos olhos azuis que sempre governaram como quiseram, levando os Estado Unidos à bancarrota que o mundo assiste, sofrendo junto as consequências. Lá, onde só vota quem quer, a população resolveu ir às urnas em massa, para dizer o quanto anda insatisfeita e o quanto é supérflua essa questão da cor e da ideologia pessoal de quem passa a comandar a nação.
O Brasil tem uma dívida imensa com o negro. Dívida que torna escasso o sistema de cotas que a sociedade "arianocrata" deturpa e quer invalidar. E essa dívida continua crescendo, porque o negro continua sendo excluído por causa da cor e de suas raízes. Aliás, nossas raízes, que renegamos quando somos "clarinhos" e pedimos bênção às ideologias sociais, étnicas e religiosas da Itália e dos Estados Unidos, entre outros países. Somos livres para isso, mas não para tentar anular a identidade dos "pretos" e daqueles que assumem essa identidade, inclusive no quesito religião. 

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