sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

UMA ENTREVISTA DESCONCERTANTE


Ansiosos, os jovens universitários iniciam a esperada entrevista que foram fazer a um escritor. Ansiosos sim, mas já sofreram ligeiro baque ao perceberem que a casa daquele homem tão pesquisado em suas últimas aulas de literatura leva uma vida bastante modesta: Mora num cafofo com telhas de amianto, fincado em terreno arenoso de área rural no qual cultiva batata doce, tomate, pimenta e caju para consumo próprio.
Logo ficam sabendo que o escritor não dispõe de internet, não tem tevê digital, telefone fixo, conta bancária e cartão de crédito. Áh, e também estranham que não use óculos o tempo inteiro nem camisa social de mangas dobradas. Sequer fama ele conquistou, apesar de ser cultuado pelo velho professor que o tem como um dos grandes poetas e prosadores brasileiros da atualidade. Possivelmente exagero de um velho mestre caduco.
A entrevista, entretanto, vale pontos para os exames finais. Resta aos estudantes a esperança de pescar narrações de aventuras, vitórias e conquistas literárias do entrevistado. Não é possível que não os tenha, pensam os moços, não dando qualquer importância para a possível qualidade dos textos daquele a quem foram entrevistar tão somente por ser um fazedor de textos.
-O senhor já recebeu muitas homenagens, imaginamos...
-Nenhuma.
-Tem quantas medalhas, senhor?
-Nenhuma.
-Quantos troféus?
-Nenhum.
-Não vemos nas paredes nenhum certificado de participação em eventos literários; uma menção honrosa ou algo parecido. O senhor não acha importante expô-los?
-Na verdade não os tenho também. Não participo de pelejas literárias.
-Mas o senhor não tem nem mesmo uma... (?)
-Um momento, rapazes. Creio que posso ajudá-los a fazer um trabalho mais notório, indicando outra pessoa.
-...
Um velho general. Tem medalhas e comendas por toda a farda que jamais tira. Em cada peça, uma história de bravura. É uma figura legendária. Um herói de guerra.

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