domingo, 1 de julho de 2012

DESESPERADO AMOR DE WANDO


Wando foi um belo nativo que viveu na localidade hoje denominada como Guia de Pacobaíba, em Magé, no Rio de Janeiro. De porte herculíneo, encantava as poucas donzelas que o viam sempre meditativo em diferentes pontos da praia límpida e serena do lugar, naqueles tempos longínquos que ninguém sabe dizer com precisão.
A razão exclusiva de seu meditar não era outra senão o amor. Wando amava Gisela, uma linda nativa que assim como ele despertava suspiros e fazia sonhar. Gisela, entretanto, era justamente a única entre as donzelas locais, que não o amava. Desconsolado, o moço deixara fazia tempo, seus afazeres, dedicando-se a imaginar planos mirabolantes para ter consigo a eleita de seu coração. Já fizera de tudo para conquistá-la: Declarou-se, prometeu felicidade, até riquezas, mas a moça o rejeitou reiteradas vezes.
Com o tempo, Wando começou a delirar. Imaginava raptar Gisela com um cavalo alado, e levá-la para bem alto, guardando-a numa capela que teceria entre as estrelas. Vislumbrava uma cena mais veloz do que o raio. Na sua imaginação, tinha um céu todo seu para oferecer à donzela, como tantas vezes jurou nas declarações.
Sentimento infeliz de Wando... Obstinação que o tornou por completo insano. Fê-lo perder totalmente a noção, para ir às vias de fato pelo amor de Gisela. Não tinha o sonhado cavalo alado, não podia levá-la para o espaço, mas construiu em silêncio, escondido nas matas em derredor, uma balsa. Uma linda balsa, com madeira bem leve e flutuante, possibilitou ao jovem consumar a loucura do seu ato.
Foi num dia bem cedo, ainda quase madrugada, que Wando se aproveitou do silêncio maior, quase total, para roubar a moça de sua tribo. Fê-lo sem que ninguém o visse. Impedindo-a de gritar, usou a força. Conduziu Gisela até a balsa, que já estava em lugar estratégico na praia, pronta para partir... Tomar um rumo ignorado.
O jovem não percebeu, mas um velho nativo, ex-pescador, os viu partindo... Estava distraído, à meia distância, e repousava. Só notou a cena quando a balsa ia longe. Não havia mais tempo de correr e avisar a quem quer que fosse. Ficou apenas olhando, enquanto a embarcação improvisada sumia no horizonte. Com certeza entendeu o que acontecia, pois todos os habitantes do local sabiam do louco amor de Wando e da rejeição irremediável de Gisela. Era mesmo de se esperar uma loucura.
Dizem que o velho nativo, a única testemunha da fuga, logo depois contou a todos e assegurou ser verdade, que chegando ao horizonte a balsa de Wando e Gisela não desapareceu normalmente. Simplesmente voou... Sumiu no espaço, depois de criar asas. As asas impossíveis para o cavalo impossível sonhado por Wando.

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