Wando foi um belo nativo que viveu na localidade hoje denominada como Guia de Pacobaíba, em Magé, no Rio de Janeiro. De porte herculíneo, encantava as poucas donzelas que o viam sempre meditativo em diferentes pontos da praia límpida e serena do lugar, naqueles tempos longínquos que ninguém sabe dizer com precisão.
A razão exclusiva de seu meditar não era outra senão o amor. Wando amava Gisela, uma linda nativa que assim como ele despertava suspiros e fazia sonhar. Gisela, entretanto, era justamente a única entre as donzelas locais, que não o amava. Desconsolado, o moço deixara fazia tempo, seus afazeres, dedicando-se a imaginar planos mirabolantes para ter consigo a eleita de seu coração. Já fizera de tudo para conquistá-la: Declarou-se, prometeu felicidade, até riquezas, mas a moça o rejeitou reiteradas vezes.
Com o tempo, Wando começou a delirar. Imaginava raptar Gisela com um cavalo alado, e levá-la para bem alto, guardando-a numa capela que teceria entre as estrelas. Vislumbrava uma cena mais veloz do que o raio. Na sua imaginação, tinha um céu todo seu para oferecer à donzela, como tantas vezes jurou nas declarações.
Sentimento infeliz de Wando... Obstinação que o tornou por completo insano. Fê-lo perder totalmente a noção, para ir às vias de fato pelo amor de Gisela. Não tinha o sonhado cavalo alado, não podia levá-la para o espaço, mas construiu em silêncio, escondido nas matas em derredor, uma balsa. Uma linda balsa, com madeira bem leve e flutuante, possibilitou ao jovem consumar a loucura do seu ato.
Foi num dia bem cedo, ainda quase madrugada, que Wando se aproveitou do silêncio maior, quase total, para roubar a moça de sua tribo. Fê-lo sem que ninguém o visse. Impedindo-a de gritar, usou a força. Conduziu Gisela até a balsa, que já estava em lugar estratégico na praia, pronta para partir... Tomar um rumo ignorado.
O jovem não percebeu, mas um velho nativo, ex-pescador, os viu partindo... Estava distraído, à meia distância, e repousava. Só notou a cena quando a balsa ia longe. Não havia mais tempo de correr e avisar a quem quer que fosse. Ficou apenas olhando, enquanto a embarcação improvisada sumia no horizonte. Com certeza entendeu o que acontecia, pois todos os habitantes do local sabiam do louco amor de Wando e da rejeição irremediável de Gisela. Era mesmo de se esperar uma loucura.
Dizem que o velho nativo, a única testemunha da fuga, logo depois contou a todos e assegurou ser verdade, que chegando ao horizonte a balsa de Wando e Gisela não desapareceu normalmente. Simplesmente voou... Sumiu no espaço, depois de criar asas. As asas impossíveis para o cavalo impossível sonhado por Wando.
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