quinta-feira, 12 de julho de 2012

LADRÃO ACIDENTAL

Dia desses roubei uma bicicleta. Era minha, mas roubei assim mesmo. Tudo começou quando precisei de uma pequena quantia e fui ao banco sacar. Peguei a bicicleta, lembrei que não tinha cadeado para trancá-la e proteger de outro ladrão. Resolvi usar o pequeno cadeado que protegia uma das janelas de casa, e no lugar de corrente, usei um pegador metálico de macarrão.
Chegando ao banco, sofri um susto. Havia três filas imensas: Uma para o atendimento com funcionários de balcão; mais uma, para tratar com o gerente; outra, para os caixas eletrônicos. Antes de entrar na agência procurei uma grade na área externa. Prendi a bicicleta com o pegador de macarrão, o cadeado envolvendo seu “pescoço”, e parti para a via crúcis de pegar meu dinheiro.
Quase duas horas depois, até que voltei tranquilo, do caixa. Tranquilo sim, mas não por muito tempo. Ao enfiar a mão no bolso à procura da chave do cadeado, não achei. Procurei de novo, abri a carteira várias vezes, perdi a vergonha e vasculhei a cueca, mas nada. Olhei ao longe a bicicleta e pensei: Como recuperá-la sem ter problemas? Arrombar o cadeado? Quebrar o pegador de macarrão? Fiquei pensando por longo tempo, até resolver procurar ajuda.
Fui ao guarda bancário; expliquei o problema. Ele disse que não podia sair do posto, mas ficaria de longe dando apoio. Eu daria um jeito de violar o cadeado, e se alguém desconfiasse, era só apontar para o guarda e ele sinalizaria, dando a entender que estava ciente. A desconfiança veio logo, mas acho que o guarda foi chamado para resolver alguma coisa, de forma que precisei me explicar para um estranho. Ele coçou a cabeça, disse que não ficaria perto e saiu. Temendo que ele fosse me denunciar, não fiz o arrombamento. Fiquei aguardando a melhor chance.
O tempo que levei olhando para a bicicleta, ela para mim, além de uma plateia disfarçada, nem sei dizer. Só sei que num dado momento encontrei coragem, comecei a torcer o pegador de um lado para o outro, continuamente, até que ele cedeu. Foi partido e pude retirar o cadeado.
Novo alívio para mim. No entanto, mais uma vez o alívio não durou. Percebi que várias pessoas começaram a caminhar em minha direção. Apavorado, suei  frio. Não corri, porque o medo não deixou, e tramei explicações descabidas, diferentes da verdade, porque a verdade era bem esquisita. Seria difícil crer que simplesmente não encontrei a chave do cadeado, até mesmo porque havia em meu poder um chaveiro com muitas peças. Eram chaves das portas de minha casa.
Por milagre, uma briga entre dois homens tem início na porta da agência. O burburinho atrai a atenção de todos, que não resistem e vão assistir. Deixado em paz, lanço fora o pegador já partido, pego ligeiro a bicicleta e saio em disparada. Nem olhei para trás, mas até hoje tenho medo de ser abordado para dar explicações. Na verdade, saberia explicar o drama daquele dia, mas não a fuga. Por minha imprudência, corri o risco de ser preso em flagrante pelo roubo de uma bicicleta.
É claro que a prisão seria breve, pois a vítima, que era o próprio ladrão, retiraria queixa. Mas eu ficaria mal visto... Pior ainda, saberiam todos que, entre outras esquisitices, substituo correntes por pegadores metálicos de macarrão.

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