terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DESEDUCAÇÃO


Enquanto algumas escolas dizem que a educação vem de casa, referindo-se ao caráter comportamental do aluno, e com isto se recusam a ensinar-lhes noções de vivência e sociabilidade além do currículo, muitos pais estão se negando a contribuir com a educação escolar, como se fosse atribuição exclusiva dos professores. Com isto, entregam seus filhos à própria sorte, mais como uma forma de se livrarem do estorvo que eles parecem ser.
A falta de interesse, de acompanhamento, conversa e apoio nos afazeres faz com que o estudante não desenvolva sua auto estima. Seus pais não têm interesse em saber como estão, então "tá': Eles também "não estão nem aí" para isso. Assim, os pais se livram dos filhos por algumas horas e a escola e a escola os tolera até o momento de devolvê-los, e é só. "Lambam os beiços" ambas as partes. Enfim, o desinteresse é permitido a todos, porque ninguém quer se sentir sozinho com um problema como este nas mãos.
Está todo o mundo "muito ocupando", acumulando adrenalina do dia a dia laboral, cheio dos próprios problemas e não pode perder tempo com a preguiça, a indolência, o pouco caso de um moleque (ou moleca) a quem "tudo" já é dado: Comida, roupa, às vezes mensalidade, clube e cinema. Só que o reflexo do possível (e até provável) amor não aparece no minuto de atenção, na solicitude, no auxílio, no apoio. Os pais já trabalham muito, os professores têm outros alunos, a escola outros problemas a resolver e ninguém pode ficar em torno deste ou daquele caso sempre dito isolado.
É aí que as ruas ensinam como querem, a mídia distorce os valores, os mal intencionados os levam para seus caminhos e não conseguimos mais resgatar aqueles que não amamos com atitudes, gestos, ações. Amamos, até, mas nosso amor não tem olhos, ouvidos, braços, pernas, colo. A criança e o adolescente são presas fáceis de facínoras, quando estão carentes, quando se sentem abandonados, menos importantes do que coisas, afazeres nem sempre imprescindíveis ou inadiáveis.
Enquanto isso, a televisão mostra que estudar é supérfluo. Que alguém é bem sucedido (e neste conceito o ser bem sucedido só envolve fama e riqueza) jogando futebol, sem ter frequentado uma escola. Bastou à moça mexer bem os quadrís, a um outro ter soco poderoso ou cantar bem. Tudo louvável, de fato, mas a mesma televisão não mostra que são casos esporádicos, fenômenos, e carimba esse conceito de que o saber pouco importa. Não presta nem o favor de deixar perceber que a educação, por si só, já faz do ser humano pessoa bem sucedida, por entender melhor e decodificar o mundo em que vive. Há inúmeras pessoas ricas e famosas, que não são felizes porque não têm noções e princípios de cidadania. Sequer sabem a que vieram. Só ganham dinhero. 
Também não munimos nossos filhos de livros (bons livros), material didático adequado e hábitos culturais desde cedo. Podemos comprar os tênis e as roupas da moda; a "bike" e a Honda Bizz; os patins e os ingressos para o Águas Quentes, mas achamos caros os livros. Com esperarmos então, que eles valorizem livros, teatro, artes plásticas, boa música? 
Aos filhos reprovados na escola, recriminamos e até punimos. Quando são aprovados de qualquer maneira ou por méritos próprios, premiamo-los por terem conseguido a façanha sem nos aporrinharem. O que não notamos é que eles se formam à revelia, sem preparo prá vida, em si, pois ninguém lhes ensinou a ser cidadãos, em essência.
Enfim, pela negligência dos pais que não acompanham o desempenho dos filhos e não interagem com os professores e a escola em um todo é que os filhos estão sendo alfabetizados no quinto, sexto e até no último ano do ensino fundamental, quando tanto. Fazem um ensino médio inapto para ingresso nas boas universidade e se tornam (também quando tanto) em estabelecimentos tolerantes, bacharéis em direito que nunca serão advogados; médicos que nunca medicarão ou serão anjos da morte; arquitetos que jamais assinarão com propriedade ou serão responsáveis pelos PALACE II (lembram?) de Sérgios Naya da vida.

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