sábado, 31 de dezembro de 2011

PET É UMA PESTE


Afora a necessidade inquestionável de preservar o ambiente, que deve ser o princípio de qualquer atitude ecologicamente correta, seja ela pública ou prrivada, ou do reaproveitamento industrial em grande escala, só concebo a reciclagem como ato específico de consciência ecológica ou manifestação de criatividade pessoal. Não importa se essa criatividade é artística, direcionada à educação ou de qualquer outra natureza.
Descarto como digna e deploro a divulgação da reciclagem por necessidade pessoal, auxílio na miséria ou socorro dos que não podem ter o que o dinheiro compra. Mesmo contra o consumismo inconsequente, sou dos que entendem que a dignidade humana está diretamente ligada ao poder de consumo. Quem não pode consumir o que precisa ou até mesmo deseja, não está enquadrado no conceito exato de cidadania, porque o mundo não é dado; é vendido. A manutenção do corpo, do intelecto e da sanidade emocional passa pelas condições de pagar por isso. Afinal, o poder público não garante ao cidadão, acesso ao conforto pessoal em todos os quesitos. Nem poderia ser assim. Todos precisam trabalhar para ter. Mesmo os serviços básicos que são públicos no que tange a educação, a saúde, a segurança e a justiça, os governantes não garantem a contento, o que torna ainda mais imprescindível a importância de se ter condições econômicas favoráveis para viver.
Acho cruel, quando a mídia massifica informações como a de que a casca da batata, da cenoura e gêneros afins é mais nutritiva do que os próprios produtos, ainda que isso seja (e é) verdade. Essa crueldade ganha requinte quando a mesma mídia ensina ao populacho as "deliciosas receitas" a partir dessas cascas e outros reaproveitamentos, dando a conotação de economia, como se fosse belo economizar cascas e bagaços para render a culinária cotidiana. Excluindo o requinte das receitas apresentadas como lições de reaproveitamento e arte culinária, não sei de nenhuma figura da tevê ou da elite de onde vivo, que utilize diariamente as raspas e os restos "muito mais mais nutritivos", doando aos pobres as batatas, abóboras, cenouras e afins, devidamente descascadas.
Por outro lado, nada ou ninguém suja mais o ambiente e lucra mais com isso do que as indústrias de pet. E elas o fazem de modo tão inteligente e malicioso, que conseguiram transformar a sociedade em catadora de lixo em potencial. Os catadores já não são apenas os que fazem disso um meio de garantir seu sustento. Associações, ongs e, principalmente, escolas incentivam a catação das garrafas já imundas, lançadas nos rios e valas para confecção de trabalhos precários, decadentes e fugazes de arte e artesanato, que logo serão também lançados no meio ambiente, já sem condições de reaproveitamento. Mesmo com os catadores "profissionais" de lixo e as campanhas envolvendo atividades com garrafas pet, não há expediente que atenda à demanda da poluição causada por esses recipientes que se tornaram uma praga.
No fim das contas, acabamos não por não ver que o ideal não seria o despejo e a catação sistemática nos rios, valas, ruas e mares, mas simplesmente o não despejo. Está comprovado que pet é uma peste e que somos manipulados pelo conceito de que é amplamente vantajosa na fabricação de peças de artesanato que podem ser feitas a partir de outros materiais muito mais duradouros e por isso mesmo menos poluentes.
A ideia de substituir os cascos de vidro pelos de plástico foi infeliz porque o vidro, ainda que dure muito mais tempo para ser consumido pela terra, é tão mais viável para o engarrafamento de bebidas, por ser retornável, não se multiplicar em tão grande escala. Mas isso é incômodo, porque significa menos lucro.
O cidadão comum precisa acordar para o fato de que é usado pelo poder econômico, ao se inserir nas ondas emergentes que o incentivam a ser um propagador de marcas e produtos, para eternizá-los, como se isso fosse bom para todo o mundo. Há que se estabelecer um juizo entre o que é de bom gosto artístico e culinário, o que é educativo ou econômico e o que é simplesmente um incentivo à captação de mão-de-obra barata ou voluntária, que só enriquece mais e mais quem já é rico e mantém em seu canto quem nada ou pouco possui.
O recado mais aberto é para a escola, que tem reproduzido às cegas entre seus alunos esses conceitos distorcidos, tornando-os entre outras coisas, catadores voluntários de lixo. Especialmente de um lixo do qual o meio ambiente já deveria estar livre há muito tempo. Tudo é uma questão de atitude do poder público e de toda a sociedade mundial realmente preocupada com o futuro do planeta.

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