sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MONSTROS PASSIVOS

Depois da tragédia com a menina Isabella, foram muitas as matérias veiculadas na mídia, sobre pais que maltratam filhos das mais hediondas maneiras, inclusive abusando sexualmente. Foi o caso daquele pai monstruoso que fez da filha uma escrava sexual, aprisionando-a e tendo filhos com ela. Filhos que ao mesmo tempo são seus netos, que também eram maltratados na casa subterrânea que ele construiu especificamente para este fim.
Entre uma notícia e outra, surgiram os relatos de vizinhos que tinham conhecimento das atrocidades noticiadas e resolveram quebrar silêncios. Silêncios que deveriam ter sido quebrados há muito tempo, mas a covardia e a acomodação de uma sociedade na qual cada um só pensa em si, e algumas vezes na família não permitiu que algo fosse feito pelo sofrimento de tanta gente. Algo fácil, como um telefonema anônimo que não põe em risco a vida de ninguém e que, portanto, não ampara as justificativas de que se está preservando a integridade física de entes queridos. Às vezes chego a me indagar se isso é preguiça ou maldade mesmo.
Devíamos ser mais solidários com o sofrimento alheio, e mais interessados em saber o que está ocorrendo em determinadas residências das quais chegam claros clamores aos nossos ouvidos. Não me refiro a quebra ou invasão da privacidade alheia, mas a uma presença de espírito que nos faça estar alertas a possíveis sofrimentos de mulheres e crianças. Uma presença de espírito que só existe quando existe amor ao próximo e interesse em uma sociedade mais justa e menos monstruosa do que esta na qual estamos vivendo. Acho monstruoso quando pessoas que se calaram por tanto tempo se apresentam diante das câmeras, por exemplo, para fazer denúncias tardias, que já não podem ajudar, somente para dar satisfações à própria consciência ou simplesmente para contribuir com a massificação de fatos que passam a ser explorados como espetáculos bizarros.
Se tivéssemos os corações voltados para essa preocupação humana e social, seriam muito menores os índices de violência doméstica. De espancamentos e outros maus tratos a crianças e mulheres. Seriam muito maiores os índices de casos solucionados antes de tragédias, inclusive os casos de sequestros cujos cativeiros muitas vezes ficam perto de nossas casas, e bastaria um olhar mais atento para que notássemos os pormenores suspeitos, fazendo a nossa parte como cidadãos que estamos deixando de ser.
Pensarmos no próximo é pensarmos também em nós. Vencermos o medo de amar com gestos, com atitudes que ajudem à sociedade, é ajudarmos aos nossos, possibilitando a chance de tempos melhores para se viver. Isso é plenamente possível. Uma só denúncia em tempo hábil, que tire um único monstro de circulação já impede que muita gente sofra ou morra em circunstâncias desumanas.

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