sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

DE GUERRAS E DE OLIMPÍADAS

Profundamente afeito a guerras e todas as formas imagináveis de conflitos, o ser humano traz no sangue o sonho insuperável de superação sobre o outro. Vem de longe esse desejo do homem, de vencer o próximo e erguer a cabeça do vencido como troféu, para que todos admirem sua força, sua coragem e truculência. É a eterna sede de poder, que atravessa os tempos. Poder que leva à posse; que sempre se ostentou pelo ter, pelo mandar, pelo dirigir e ocupar posições de destaque em todas as sociedades do mundo, desde as mais primitivas e aparentemente pacíficas.
Com toda a beleza e pregação de paz que esses eventos portam, os torneios esportivos de qualquer outra natureza são ramificações da guerra. São pelejas. O que há de bonito em competições é o fato de o homem “guerrear” sem armas letais, educando sua agressividade. Evoluiu-se neste aspecto, estabelecendo-se o tal espírito desportivo, cujo princípio consiste no respeito do vencedor pelo vencido e na aceitação do vencido, que cumprimenta quem o superou, não o tendo como inimigo. O que seria vingança virou revanche; a oportunidade de resgatar a vitória perdida; a chance de mostrar que não é inferior, ou pelo menos não é mais, porque treinou para tanto.
As olimpíadas são guerras. Como são guerras as copas, os mundiais, os “pans” e todas as outras formas de competição. Se o homem não tivesse o desejo de derrotar alguém, usar sua força ou técnica para superar o próximo e sorrir enquanto ele chora e lamenta, nenhum jogo seria tão disputado. Nenhuma medalha seria tão importante em sua vida. Não seria importante para ele, guardar nas paredes de casa e da memória os momentos honrosos em que derrubou o outro; foi melhor; superior; mais esperto ou competente. Como não podemos viver sem isso, melhor assim. Melhor essa guerra transformada em festa, que une tantas nações num conflito sadio, enquanto outras nações se digladiam na ferocidade das guerras à moda antiga, matando; mutilando; destruindo as condições normais de vida e estabelecendo o inferno entre os seres.
Muitas nações não aprenderam a erguer medalhas e troféus em substituição às cabeças inimigas. Não aprenderam a transformar inimigos em oponentes; combates sangrentos em torneios. Ódio em espírito de desafio esportivo, no qual a maior superação acaba sendo pessoal, para só depois ser sobre o outro.  E os governantes belicosos de algumas nações, até mesmo das que participam das festas mundiais dos esportes, usam esses eventos como empanação de conflitos e dispersão da consciência popular dos problemas de seus países.
Que a guerra pacífica destes dias, travada no campo de batalha festiva de Pequim, seja de todas as formas uma grande lição de solidariedade, unindo vencidos e vencedores em um mesmo espírito: O da fraternidade, do respeito mútuo, da união dos povos e da consciência de como este mundo ainda precisa melhorar, para ser de todos. E que a disputa por medalhas e destaques não se torne um embate pelo poder absoluto e a superioridade em nenhum aspecto, sobretudo o étnico e o religioso, o que sempre gerou os maiores e mais sangrentos conflitos da humanidade.

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