sábado, 7 de janeiro de 2012

SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL


Era honesta e visível a frustração do adolescente ao me procurar. Sempre fora um aluno inquieto e desaforado, mas bom aluno. Sobretudo no capricho com que fazia os trabalhos escolares e no empenho por boas notas nos testes e provas bimestrais.
Estava muito angustiado naquele dia, e segundo ele, só era possível desabafar comigo. Precisava de um conselho e gostava das pausas que sempre fiz nas aulas, para falar de questões relativas aos conflitos humanos. Ficava sempre calado e muito atento aos assuntos propostos e debatidos: Família, país, ecologia, miséria, corrupção, orientação sexual, opção religiosa, preconceito racista (...).
Sentia-se alvo de preconceito. Mais do que isso, era ridicularizado por sua homossexualidade já bem aflorada. Ouvia piadas sobre o tema, sofria xingamentos e deboches, quando não o queriam como a diversão da sala. Estava sem idéia de o que fazer para sua turma deixá-lo em paz.
Por sorte, havia na minha mão uma revista com uma reportagem sobre certo programa humorístico na tevê. Era destaque da matéria um personagem machão, muito engraçado e ridículo; garantia de riso farto nas noites de sábado. Com os olhos fixos na figura, perguntei-lhe o que achava dela. “Hilário; tragicômico”, disse ele, meio perguntando o porquê de minha pergunta.
Disse-lhe que o machão, sempre alvo de chacotas na tevê e na vida real é a caricatura do heterossexual que não se dá o respeito. É o tal de “homem com agá maiúsculo” que vira piada popular, perde a moral em casa, no trabalho e na rua sem se dar conta disso. Pensa que amedronta, que é distinto e admirado, mas o seu narcisismo é que é cego para perceber o riso nos olhos e no silêncio dos lábios em derredor. 
Ficou animada a conversa. Falamos das figuras caricatas de todos os setores da sociedade: A feminista incondicional, o patrão “brabo”, a celebridade afetada, o galã narcisista, o motoqueiro exibido, o “bady boy”, o “cdf” da turma, o intelectualóide, o bêbado, o comilão e diversos outros tipos com os quais convivemos. Rimos juntos, recordando pessoas inesquecíveis pelos seus traços hilários de comportamento refletidos na fala, no penteado, na indumentária, na gesticulação e na forma de andar e se pôr de pé. 
Depois de quase uma hora de um colóquio produtivo, ele mesmo entendeu que estava se deixando caricaturar. Que o problema não era sua orientação sexual. Chegamos à conclusão que o ser humano tem um compromisso de vida em sociedade. Que esse compromisso requer posturas sóbrias, responsáveis, de respeito próprio e pelas instituições às quais pertencemos. A mais importante delas é a família, e somos o seu reflexo nas outras instituições e na sociedade como um todo.
Não há liberdade absoluta no convívio interpessoal. Isso quer dizer que não somos bichos. O ser humano é regido por códigos, regras, mandamentos, estatutos e leis. Só podemos viver bem se o nosso comportamento público for embasado nos princípios de responsabilidade social.

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